Manejo integrado com soluções biológicas

O mofo-branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é uma das principais doenças em ...
Mofo-branco soja - Crédito Daniel Cassetari

Publicado em 3 de fevereiro de 2022 às 10h48

Última atualização em 3 de fevereiro de 2022 às 10h48

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Daniele Maria do Nascimento Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia (Proteção de Plantas) – UNESP Botucatudonascimentodm@gmail.com

Marcos Roberto Ribeiro JuniorEngenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia (Proteção de Plantas) – UNESP, Botucatumarcos.ribeiro@unesp.br

Mofo-branco soja – Crédito: Daniel Cassetari

O mofo-branco, causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, é uma das principais doenças em várias culturas de importância econômica, dentre elas a soja, onde já foram relatadas reduções de produtividade de até 70%. Em condições de clima favorável, temperatura amena e períodos chuvosos, caso não adotada nenhuma medida de controle, as perdas podem chegar a 100%.

O primeiro relato dessa doença no Brasil ocorreu em 1921, em lavouras de batata no Estado de São Paulo. Naquele ano, as condições climáticas (temperaturas amenas e ocorrência de precipitações) foram extremamente favoráveis ao desenvolvimento do fungo.

A partir da safra 2003/04, a doença se disseminou rapidamente para várias outras regiões produtoras, devido ao uso das sementes piratas de soja e de outras culturas, como o feijão, oriundas de campos infectados e que carregavam os escleródios.

Uma vez instalado na lavoura, é quase impossível erradicar por completo o mofo-branco e isso dá principalmente pelas suas estruturas de sobrevivência (os escleródios), e a ampla gama de hospedeiros.

Quando e como ocorre

A incidência do mofo-branco na soja começa no período de floração plena (estádio R2) e se estende até a formação de grãos (estádio R5). Os primeiros sintomas são observados no ponto de inserção dos pecíolos.

O fungo começa a colonizar essa região, e vão surgindo áreas descoloridas, bem como uma massa de micélio branco, com aspecto cotonoso, nas hastes, ramos e vagens das plantas. Com o avanço da doença, começam a aparecer por entre esses micélios, estruturas maiores, negras e rígidas, com formato variável, que são os escleródios.

Condições para o patógeno

Quanto às condições climáticas, o patógeno requer temperaturas baixas e períodos chuvosos para sobreviver, e se manifesta especialmente em áreas acima de 600 metros de altitude. Com isso, o mofo-branco encontra um ambiente favorável ao seu desenvolvimento nos Estados do sul, sudeste e centro-oeste.

Na entressafra, o patógeno sobrevive no solo, restos culturais e plantas daninhas. Com essas informações em mente, podemos entender o porquê de a doença ser mais preocupante no Sul do País, por exemplo, em áreas de semeadura direta e irrigação via pivô central.

Prevenção

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Evitar que o patógeno se instale na lavoura é fundamental e, para isso, algumas medidas simples e eficazes devem ser adotadas no momento de adquirir as sementes. As chamadas “sementes piratas” podem trazer consigo escleródios do fungo, uma vez que não passam por um rigoroso controle de qualidade. Em lavouras infectadas por mofo-branco, os escleródios são colhidos juntamente às sementes de soja.

E esse cuidado se estende também à obtenção das sementes de culturas de cobertura, como o nabo-forrageiro, canola, girassol, ou outras culturas que serão cultivadas na mesma lavoura. Sementes certificadas, com qualidade sanitária comprovada, são o primeiro passo no manejo de mofo-branco.

Manejo

Para alcançar o sucesso no manejo dessa temível doença, é necessário empregar vários métodos de controle. A começar pelo manejo da palhada, a manutenção de cobertura no solo irá atuar como uma barreira física, impedindo que os escleródios presentes no solo recebam luz e consigam germinar. Essa medida tem se mostrado eficiente na redução do número de escleródios.

A palhada a ser utilizada para esse fim, deve ser preferencialmente de gramíneas, que não são hospedeiras do patógeno. São recomendadas, por exemplo, a aveia, centeio e triticale, plantas com alta produção de massa seca e alta relação carbono/nitrogênio, o que faz com que leve mais tempo para degradar, permanecendo por mais tempo no solo.

Estudos realizados no Paraná já demonstraram que a incidência de mofo-branco na soja é até 77% menor quando plantada sobre a palhada de centeio. Para rotação ou sucessão de cultura, também devem ser empregadas gramíneas. Constatou-se que, em lavouras de soja rotacionadas com o milho, a incidência de mofo-branco variou entre 0 a 15%, com média de 4%. Na monocultura, a média foi de 31%, chegando até 49%.

Não existem cultivares de soja resistentes a essa doença, mas o risco de infecção é menor nas cultivares de ciclo curto e com resistência ao acamamento.

Controle químico

Uma das principais ferramentas no controle de doenças, os fungicidas são empregados em tratamento de sementes e nas pulverizações foliares, que começam na fase de floração até o início da formação de vagens.

Dentre os ingredientes ativos registrados para o controle do mofo-branco na cultura da soja, as combinações dimoxistrobina + boscalida; dimoxistrobina + boscalida + carbendazim; procimidona + carbendazim com fluazinam + carbendazim; fluazinam; fluazinam + tiofanato metílico e fluazinam + carbendazim, vêm apresentando os melhores níveis de controle, variando entre 73 a 78%, de acordo com vários ensaios liderados pela Embrapa na safra 2019/20.

Controle biológico com Bacillus subtilis

Fungicidas microbiológicos vêm chamando a atenção no manejo das mais diversas doenças. Para o mofo-branco, B. subtilis tem se destacado, por possuir múltiplos modos de ação. A bactéria produz lipopeptídeos que atuam na membrana celular das estruturas reprodutivas de S. sclerotiorum, causando sua ruptura, e também compete por espaço e nutrientes na superfície da planta e no solo.

Atualmente, encontram-se registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) quatro fungicidas microbiológicos à base de B. subtilis para controle do mofo-branco na soja. São formulações de suspensão concentrada (SC), onde o princípio ativo, nesse caso, os esporos viáveis da bactéria, é mantido disperso em água.

A recomendação é que esses produtos sejam pulverizados de modo preventivo, e o mais cedo possível, possibilitando que os mesmos alcancem o caule e o solo. Podem ser realizadas até três aplicações durante a fase vegetativa, com intervalos de sete a 10 dias.

As aplicações podem ser alternadas com outros fungicidas registrados para o controle do mofo-branco, e essa integração entre produtos químicos e biológicos é altamente recomendada, principalmente se as condições climáticas forem favoráveis ao desenvolvimento da doença.

Conclusões

A integração entre o controle químico, biológico e cultural é essencial para garantir o manejo do mofo-branco na cultura da soja. O controle químico, apesar de eficiente, ainda possibilita a produção de inóculo (escleródios), e com o uso de palhada e dos biofungicidas, os escleródios presentes no solo são eficientemente degradados e/ou inibidos, contribuindo para a redução da incidência da doença.

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