
Silvia Graciele Hülse de Souza
silvia.hulse@gmail.com
Thiago Alberto Ortiz
thiago.ortiz@prof.unipar.br
Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Engenheiros agrônomos, doutores em Agronomia e professores – UNIPAR (campus Umuarama-PR)
O fenômeno climático El Niño tem sido um dos protagonistas nos últimos meses, deixando sua marca em diversas regiões do país. Ondas de calor extremo têm varrido o território nacional brasileiro, trazendo consigo um desafio sem precedentes para agricultores e comunidades rurais.
Previsões meteorológicas indicam que esse cenário adverso pode persistir até meados de abril, elevando ainda mais a preocupação em relação aos impactos na produção agrícola.
Em paralelo, em outras localidades, o excesso de chuvas tem se mostrado igualmente prejudicial para os agricultores. Inundações, encharcamento do solo e o surgimento de doenças fúngicas são apenas algumas das consequências desse padrão climático adverso.
Essa combinação de eventos extremos tem afetado diretamente a produção agrícola, comprometendo não apenas os rendimentos das safras, mas também a segurança alimentar das comunidades.
Os bioativadores
Diante desse contexto desafiador, surge uma alternativa promissora: os bioativadores, que são amplamente utilizados na agricultura para mitigar as condições ambientais adversas, além de melhorar a produtividade e qualidade da das culturas.
Diferentes tipos de bioativadores incluem inoculantes microbianos, substâncias húmicas como ácidos húmicos e fúlvicos, hidrolisados de proteínas ou aminoácidos, biopolímeros, compostos inorgânicos e extratos de algas.
Os extratos de algas marinhas são proeminentes no mercado de bioativadores, representando a categoria de produtos bioativadores que mais cresce. É importante reconhecer que os bioativadores de extrato de algas marinhas não constituem uma categoria homogênea de produtos.
LEIA TAMBÉM:
- Biorrefinarias do futuro: Inpasa impulsiona a industrialização do agronegócio
- Expansão do etanol de milho exige segurança jurídica e infraestrutura
- Abrates anuncia Foz do Iguaçu como sede do XXIII Congresso Brasileiro de Sementes em 2026
- Multiprodutos da floresta: da madeira ao cosmético
- Etanol de milho: o combustível que está transformando o agronegócio
Ação das algas
Os bioativadores de extrato de algas marinhas variam dependendo da espécie de alga marinha usada para fabricação (por exemplo, marrom, verde ou vermelha), da fonte espaço-temporal da matéria-prima da alga marinha e do processo usado para fabricação/extração.
A maioria dos extratos comerciais de algas marinhas com efeitos bioativadores são fabricados com espécies de algas marrons, sendo Ascophyllum nodosum a espécie dominante devido à sua longa história de resultados positivos no aumento da produtividade das culturas.
O extrato de algas marinhas A. nodosum tem potencial para melhorar o crescimento, o rendimento e a qualidade das plantas, pois contém reguladores de crescimento como auxinas, citocininas, giberelinas, betaínas, manitol, ácidos orgânicos, polissacarídeos, aminoácidos e proteínas.
Os florotaninos são compostos polifenólicos únicos encontrados apenas em algumas algas marrons e não em plantas terrestres. A. nodosum é uma das fontes mais significativas de florotaninos, além de possuir biopolímeros bioativos, incluindo alginatos, fucoidan e laminarina, bem como componentes bioativos não polissacarídeos, como polifenóis.
Adicionalmente, oligoelementos como ferro (Fe), cobre (Cu), zinco (Zn), cobalto (Co), molibdênio (Mo), manganês (Mn) e níquel (Ni), bem como vitaminas, e aminoácidos, também são encontrados nos extratos de algas marinhas.
O extrato de algas marinhas influencia ativamente o metabolismo celular das plantas, e sua aplicação tem sido usada para aumentar a absorção de macro e micronutrientes essenciais do solo e para melhorar a resistência das plantas a pragas, doenças e estresses.
Mitigação de efeitos climáticos
Resultados promissores desses produtos estão na mitigação dos efeitos devido às mudanças climáticas. O estresse ambiental causa a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), que danificam as estruturas de proteínas, lipídios, carboidratos e DNA, prejudicando o crescimento e desenvolvimento das plantas.
Nesse sentido, os produtos à base de A. nodosum demonstram potencial para atenuar o estresse em plantas devido à presença de betaínas e manitol, componentes encontrados nessas algas marinhas.

Tais substâncias agem como solutos osmóticos compatíveis em situações estressantes. Além disso, a aplicação desses produtos demonstrou aliviar o estresse hídrico em plantas em crescimento, resultando em uma melhora na condutância estomática e na eficiência no uso da água.
Estudos mostram que plantas tratadas com o extrato de algas de A. nodosum exibiram maior tolerância ao estresse salino e térmico, acompanhada de uma série de alterações na expressão gênica e na atividade enzimática antioxidante.
Esses efeitos benéficos se estendem a diversas culturas, incluindo olerícolas, gramíneas, plantas ornamentais e grãos, evidenciando o potencial dos extratos de algas marinhas como uma ferramenta valiosa para promover o crescimento e a resistência das plantas em condições adversas.
Como funciona
Um exemplo do efeito mitigador dessa alga pode ser observado na figura 1. Esse experimento mostrou que, quando aplicado o extrato de algas A. nodosum em plantas de soja durante o déficit hídrico de cinco dias, houve uma notável capacidade de manter o turgor e resistir ao estresse ambiental em comparação com as plantas controle (Figura 1 – e, f).
Após 24 horas de exposição ao estresse, as plantas tratadas apresentaram um turgor ligeiramente superior ao das plantas controle, evidenciando a eficácia do tratamento (Figura 1 – a, b).
Além disso, após a rega no quinto dia, as plantas tratadas se recuperaram rapidamente, enquanto as plantas do controle permaneceram murchas, indicando um efeito positivo e consistente do extrato de algas dessa espécie (Figura 1 – e, f).

