
Franciely S. Ponce
francielyponce@gmail.com
Silvia Graciele Hülse de Souza
silviahulse@prof.unipar.br
Doutoras em Agronomia e professoras – Universidade Paranaense (UNIPAR)
Emerson Trogello
Doutor em Fitotecnia e professor – IF Goiano
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br
Você sabia que o Brasil ocupa o posto de vice-líder mundial na produção de milho-pipoca? Pois é! Com uma safra que gira em torno de 382 mil toneladas, o país só fica atrás dos Estados Unidos, que dominam o topo do ranking nesse mercado. Cerca de 220 mil toneladas da produção são destinadas ao abastecimento do mercado interno.
No Brasil, o milho-pipoca, até pouco tempo, dependia de importações, contudo, tornou-se um caso de sucesso da pesquisa agropecuária brasileira, com o desenvolvimento de variedades adaptadas ao solo e clima tropical.
A escada para o ranking
A adoção de tecnologia propiciou, em um prazo de 15 anos, a vice-liderança na produção de milho-pipoca. Trata-se de um mercado em expansão, em que os estados de Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso são líderes de produção. O avanço da cultura é evidente quando comparado aos últimos anos. Em 2020, a produção foi de 224,7 mil toneladas, subindo para 247,5 mil toneladas em 2023.
As exportações brasileiras de pipoca dispararam 525% em 2023, passando de 12 mil toneladas em 2022 para 75 mil toneladas no ano passado, com destaque para mercados como Arábia Saudita, Egito, Colômbia e Peru.

Rentabilidade
O cultivo de milho-pipoca tem se destacado como uma alternativa rentável para pequenos e grandes produtores rurais, devido à sua elevada valorização no mercado e à possibilidade de obtenção de margens de lucro superiores às do milho convencional. Mas, enquanto o custo médio de produção do milho comum situa-se em torno de R$ 4.500 por hectare, o cultivo de milho-pipoca demanda um investimento mais elevado, variando entre R$ 5.200 e R$ 6.000 por hectare.
Essa diferença é atribuída ao uso de cultivares específicas, maior exigência de manejo e maior sensibilidade às condições de armazenamento e beneficiamento. No entanto, a receita bruta por hectare do milho-pipoca pode atingir valores entre R$ 10.000 e R$ 12.800, superando significativamente os rendimentos do milho comum, cuja média gira em torno de R$ 4.675 por hectare.
Pode apostar!
Diante desse cenário, o cultivo de milho-pipoca representa uma estratégia promissora de diversificação e aumento da rentabilidade para sistemas produtivos com boa inserção em cadeias agroindustriais especializadas. A inserção de tecnologia e uso de sementes melhoradas nos últimos 20 anos fez do milho-pipoca uma opção para os produtores do Mato Grosso, especialmente como cultura de rotação, o que proporcionou um aumento de 135% da área plantada.
No estado, a produção de milho-pipoca se concentra no município de Campo Novo do Parecis, sendo considerado a capital do grão. A área plantada hoje é de mais de 60 mil hectares, em que a produtividade também cresceu de 50 para quase 100 sacas/ha, com elevada qualidade, redução do piruá (grãos que não estouram) e aumento da maciez da pipoca.
Inovações tecnológicas e qualidade

Um dos grandes gargalos da produção de milho-pipoca é a aquisição de semente, que em sua maioria advém dos Estados Unidos. Contudo, a Embrapa, o IAC e algumas universidades desenvolveram a variedade BRS Angela e o híbrido IAC 125, que oferecem características como adaptação a regiões de baixa precipitação, o que possibilita o cultivo em condições desfavoráveis.
O híbrido IAC 125 tem boa resistência às principais doenças foliares do milho e melhor adaptação a regiões de maior altitude e de clima mais ameno. Quanto à qualidade, BRS Angela apresenta elevada maciez da pipoca, estimada pelo índice de capacidade de expansão (ICE). Tem-se apostado em materiais superprecoces, com ciclo de 90 a 100 dias, o que se mostra muito favorável à produção.
O desenvolvimento de materiais nacionais é de elevada importância para a redução da dependência de insumos externos.
Se liga no manejo
A condução da cultura requer cuidados com a adubação e fornecimento adequado de água, controle de pragas e doenças. Já a fase de colheita pode ser impactada pelo uso de maquinários inadequados. É necessário investir em colheitadeiras do tipo axial e secadores, essenciais para garantir o maior rendimento e qualidade dos grãos.
Manejo diferenciado e desafios

A cultura exige colheita antecipada. Os grãos precisam ter umidade entre 18% e 20% para garantir que, após a secagem, eles permaneçam com 10,5% e 11,5%, resultando em bom índice de capacidade de expansão.
Além disso, a escolha do material genético deve ser criteriosa, uma vez que refletirá significativamente na produtividade e qualidade.
O manejo fitossanitário deve priorizar o controle rigoroso de doenças, principalmente a ferrugem e as doenças viróticas transmitidas por insetos vetores, além de controle de irrigação suplementar em fases críticas. A cultura é viável em sistemas de rotação com feijão ou soja, agregando valor à propriedade.

Futuro promissor e nichos de mercado
O mercado de pipocas é um nicho promissor, porque se trata de um lanche saudável e natural, principalmente quando aliado ao preparo sem óleo. Com o crescimento do consumo de snacks saudáveis, surgem oportunidades como a produção de pipoca orgânica, o que pode resultar em acréscimo de valor de até 50%, especialmente pelo apelo por produtos com menor uso de agrotóxicos e contaminação.
A conquista de novos mercados, como Ásia e Oriente Médio, que já importam esse tipo de produto do Brasil desde 2023, pode impactar diretamente a produção, sendo um importante nicho de comercialização.
Linha gourmet
O mercado de pipocas gourmet tem crescido, em que o consumidor busca por produto com grãos especiais, formato maior, textura macia e crocante, bem como menor presença de cascas, o que pode gerar desconforto após a ingestão do alimento.
As chamadas pipocas premium, além de boa qualidade de grãos, também trazem como características as citadas anteriormente, favorecendo o aumento do consumo. Além disso, a praticidade de linhas como a pipoca de micro-ondas torna-se um diferencial no momento do preparo, facilitando o consumo.
A perspectiva é que, com o investimento em genética e logística, o Brasil possa superar os EUA em produtividade na próxima década, se consolidando como potência global nesse mercado.