Alerta – Resistência das plantas aos fungos

Sintomas iniciais de ferrugem na soja - Crédito Jorge Jacob

Publicado em 7 de agosto de 2017 às 19h36

Última atualização em 7 de agosto de 2017 às 19h36

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Claudia Vieira Godoy

Pesquisadora Embrapa Soja “Fitopatologista

claudia.godoy@embrapa.br

Sintomas iniciais de ferrugem na soja - Crédito Jorge Jacob
Sintomas iniciais de ferrugem na soja – Crédito Jorge Jacob

A resistência nada mais é que um processo natural de seleção. Toda vez que se usa muito um determinado fungicida são selecionados isolados de fungos menos sensíveis à aplicação de determinado agroquímico.

Se a seleção de isolados resistentes/menos sensíveis é acelerada pelo excesso de aplicações, para atrasar esse processo deve-se limitar o número de aplicações do mesmo produto. Isso pode ser feito por meio da rotação de modos de ação, evitando aplicar o mesmo ingrediente ativo (fungicida) de forma sequencial.

Estratégias

Uma das estratégias que vem se tentando na cultura da soja para ferrugem é o fechamento da janela de semeadura para limitar o número de aplicações na safra. O aumento do número de aplicações para ferrugem aumenta à medida que se atrasa o plantio, em razão do aumento de inóculo do fungo, que se multiplica nas primeiras semeaduras.

Nas semeaduras tardias, a doença se inicia cada vez mais cedo, aumentando a necessidade de aplicações com intervalos menores. O fungo que incide nessas semeaduras vem de áreas que receberam fungicidas e, desta forma, já foram selecionados.

No entanto, só quatro Estados adotaram essa medida (MT, GO, PR e TO). Como o fungo se espalha com o vento, essa estratégia só funcionará se adotada por todos os Estados e também por países vizinhos, principalmente o Paraguai. É uma medida que desagrada muito aos produtores, mas é uma tentativa de atrasar o processo de seleção.

Quando não tivermos fungicidas com alta eficiência, todas as regiões sofrerão e não somente essas áreas com soja tardia, que representam menos de 1% da soja nacional.

Outras opções

Outra estratégia é a utilização de fungicidas em misturas, e jamais ingredientes ativos isolados. A mistura é uma estratégia antirresistência se os dois ingredientes ativos presentes na mistura tiverem eficiência.

Várias misturas formuladas para ferrugem apresentam somente um dos componentes com eficiência, estando expostas à resistência como se fosse o fungicida isolado. A associação a fungicidas multissítios, como mancozebe, clorotalonil e fungicidas à base de cobre, pode ajudar nas estratégias antirresistência.

Esses fungicidas antigos possuem baixo risco de resistência por agirem em vários pontos do fungo, no entanto, possuem a desvantagem de não penetrarem na planta e serem lavados com chuva, sendo facilmente degradados, apresentando menor residual.

Na cultura da soja, embora a ferrugem seja a principal doença que define o controle, isso não é realidade em toda área de soja do Brasil. Com a adoção do vazio sanitário (intervalo de 60 a 90 dias sem soja no campo na entressafra) há uma redução do inóculo do fungo da ferrugem, Phakosporapachyrhizi, que só sobrevive em plantas vivas.

As primeiras semeaduras escapam da doença e normalmente só apresentam ferrugem no final do ciclo. As situações de doenças que temos nas diferentes regiões produtoras de soja do Brasil são bem diferenciadas, mas o que se observa é uma generalização nas recomendações, como se todas as semeaduras e regiões tivessem problema com ferrugem.

Realidade

A resistência é realidade não só na cultura da soja, como em diversas culturas no mundo. O processo de resistência se intensificou a partir da década de 1970, com o lançamento de fungicidas sítio-específicos, isto é, que agem em pontos específicos dos patógenos, como respiração, formação de membranas, divisão celular, etc.

Na soja, os fungicidas sítio-específicos registrados para o controle da ferrugem possuem três modos de ação principais. Os inibidores da desmetilação (IDM, triazóis) que atuam inibindo a biossíntese de ergosterol, a formação de membrana celular, e os fungicidas que agem na respiração, como os inibidores da quinona externa (IQe, estrobilurinas) e os fungicidas inibidores da succinatodesidrogenase (ISDH, carboxamidas), registrados a partir da safra 2013/14.

A menor sensibilidade do fungo da ferrugem a fungicidas triazóis e estrobilurinas já foi confirmada para o fungo no Brasil em 2006 e 2013, respectivamente. No início de 2017, foi relatada a presença de uma mutação no fungo P. pachyrhizi que confere menos sensibilidade à carboxamida, ainda restrita à região sul do País.

A situação só não é pior porque, embora as resistências dentro dos modos de ação apresentem tendência de serem cruzadas, isto é, quando há resistência a um ingrediente ativo todos os demais com o mesmo modo de ação são afetados, não temos visto uma resistência cruzada completa na cultura da soja.

Ou seja, embora o fungo seja resistente a estrobilurinas, por exemplo, nem todas estrobilurinas registradas para controle de ferrugem foram afetadas da mesma forma. Por isso a eficiência dos fungicidas é reduzida de forma diferente, mesmo eles tendo o mesmo modo de ação.

 

Essa matéria completa você encontra na edição de Agosto 2017 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua para leitura integral.

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