Diante do crescimento populacional e da busca por segurança alimentar, pesquisadores da Embrapa Pecuária Sudeste estão avaliando variedades de guandu para alimentação humana. O objetivo é oferecer alternativas nutricionalmente ricas e adaptadas ao consumo humano, especialmente em regiões com recursos limitados.
No centro dessas pesquisas estão duas cultivares de guandu (Cajanus cajan), analisadas em diferentes estágios de maturação quanto ao teor de proteínas, minerais e propriedades tecnológicas. O estudo foi tema de dissertação de mestrado do químico Marcelo Tozo na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sob orientação da pesquisadora Ana Rita Nogueira.
Benefícios nutricionais das variedades de guandu para alimentação humana
As análises mostraram que, mesmo após o cozimento, as variedades de guandu para alimentação humana mantêm uma quantidade relevante de proteína total e uma boa composição de aminoácidos. Apesar da redução de alguns minerais, como o fósforo, os grãos maduros apresentaram melhores níveis de magnésio e fósforo em comparação com os verdes.
A absorção de minerais variou bastante – entre 0,8% e 68% –, mas os resultados reforçam o papel do guandu como suplemento alimentar viável, contribuindo com 33 a 39% da Ingestão Diária Recomendada (IDR) de proteínas, segundo a Embrapa.
Aceitação sensorial e características tecnológicas do guandu
Sob coordenação da pesquisadora Renata Tieko Nassu, foram realizados testes sensoriais com consumidores. As variedades de guandu para alimentação humana obtiveram boa aceitação, com destaque para a maciez, sabor suave e aroma semelhante ao feijão tradicional.
Outros aspectos importantes observados foram:
- Boa capacidade de hidratação;
- Baixo tempo de cozimento;
- Facilidade de preparo.
Essas características tornam o guandu uma alternativa prática para o dia a dia, com potencial de inserção na dieta brasileira.
Potencial econômico e agronômico das variedades de guandu
Além da nutrição, o estudo destaca o potencial agronômico das variedades de guandu para alimentação humana. De acordo com o pesquisador Frederico de Pina Matta, essas cultivares são rústicas e adaptadas a solos pobres e regiões de seca, o que favorece pequenos produtores e fortalece a agricultura familiar.
Seu sistema radicular profundo também promove:
- Biodescompactação do solo;
- Melhor aproveitamento da água;
- Maior resiliência às mudanças climáticas.
Com essas qualidades, o guandu se mostra um aliado na segurança alimentar e no desenvolvimento rural sustentável.
Comparação com outras leguminosas tradicionais
Apesar de apresentar grande potencial, o feijão-guandu ainda não supera o feijão carioca e o preto em todos os quesitos nutricionais. No entanto, como explica a pesquisadora Ana Rita, essas variedades tradicionais passaram por décadas de melhoramento genético. O mesmo pode ser feito com o guandu para elevar seu valor nutricional ainda mais.
Mesmo assim, todas as leguminosas analisadas – guandu, carioca e preto – contribuem significativamente para a suplementação proteica na dieta, reforçando a importância da diversificação alimentar.
Conclusão: guandu é alternativa viável para a dieta e agricultura brasileira
Com base nos resultados obtidos, as variedades de guandu para alimentação humana demonstram viabilidade nutricional, sensorial e agronômica. São uma alternativa promissora para diversificar a dieta do brasileiro, fortalecer a agricultura de base familiar e enfrentar desafios relacionados à segurança alimentar.
A continuidade dos estudos poderá levar à liberação de novas cultivares no mercado e à valorização dessa leguminosa ainda pouco explorada na alimentação humana.
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