
Imagine trocar o título de importador pelo de 2º maior produtor de milho-pipoca do mundo. Parece ousado? Pois é exatamente o que o Brasil já fez — e com um tempero todo especial: parcerias com produtores rurais e um empurrãozinho do mercado internacional (quando o dólar colabora, claro).
Quem conta essa trajetória é Alex Luviseto, engenheiro agrônomo e diretor do departamento técnico comercial da Agrícola Ferrari, além de estar à frente da Aluviseto Consultoria Agronômica. Um profissional que não só conhece os bastidores da pipoca, mas ajudou a escrevê-los.
De Passo Fundo para o mundo
Tudo começou em 1998, quando um produtor apareceu com um pacote de milho-pipoca nas mãos e bateu na porta de Vinícius Ferrari, que até então tocava uma agropecuária da família em Passo Fundo (RS). O resto é história — ou melhor, expansão. A Agricola Ferrari nasceu dessa provocação em 1998, então Vinicius separou da agropecuária para trabalhar com culturas alternativas, como o milho-pipoca.
Em 2004, abriu uma filial em Campo Novo do Parecis (MT) para fortalecer a produção. “De lá pra cá, o milho-pipoca virou não só o carro-chefe, mas também hoje somamos em nosso portfólio outras culturas, tais como gergelim, feijões especiais e também uma moderna indústria de derivados da aveia branca. Em Passo Fundo, o milho-pipoca se tornou também uma revolução agrícola. Até meados de 2006, a citação era de que o Brasil era importador de milho-pipoca da Argentina. Hoje somos exportadores, graças a esse movimento de fomento ao plantio”, conta Luviseto.

O milho que exige respeito
Não se engane: apesar de parecer simples, o milho-pipoca tem suas particularidades. “Ele não é transgênico. É uma planta convencional, mais sensível a doenças e pragas, o que exige um conhecimento técnico bem apurado”, alerta Alex.
Além disso, não é qualquer híbrido que serve. A Ferrari hoje trabalha com sementes americanas da Ag Alumni Seed, conhecidas pela alta qualidade de expansão, coloração do grão e produtividade. A produtividade média nacional gira em torno de 75 a 80 sacas por hectare, com produtores mais técnicos chegando a 100 sacas/ha. O custo de produção está na casa das 60 sacas, o que exige boa gestão para garantir rentabilidade — especialmente quando o mercado internacional pisca o olho para outros concorrentes com preços mais baixos.
Crescer ou não crescer? Eis a questão (política)
A área plantada atualmente pela Agrícola Ferrari é de 20 mil hectares, mas já chegou a 30 mil. Crescer? Sim, mas com pé no chão. “Temos produtores e temos área, mas sem mercado não adianta expandir”, diz Alex. O entrave? A falta de acordos bilaterais. Hoje, o Brasil exporta principalmente para Oriente Médio, Índia e África do Sul, mas está longe de ter o alcance dos Estados Unidos, principal player global do segmento.
Para ultrapassar os norte-americanos, o recado é direto: “Precisamos de ação governamental. A parte do campo está pronta”, declara.
Roda a rotação (e não é piada)
No Mato Grosso, onde se concentra a maior área de pipoca no Brasil, este milho entra na segunda safra, após a soja. Funciona bem no sistema de rotação, ajudando a diversificar a lavoura e o risco do produtor. E se você quiser entrar nesse mercado? Alex é categórico: não vá sozinho. “Essas culturas diferenciadas não funcionam no modelo commodity. É preciso ter um parceiro certo, senão você corre o risco de colher e não ter para quem vender”.
Nesse ponto, a Agrícola Ferrari se destaca — trabalha 100% com contratos firmados com seus parceiros rurais. Resultado? A empresa é, hoje, com essas parcerias, a maior produtora de milho-pipoca do mundo.
Reflexão final
O Brasil já estourou a bolha de importador para virar protagonista global. Mas, se quiser mesmo abocanhar o título de maior produtor mundial com autoridade, vai precisar mais do que solo fértil: requer diplomacia agrícola. Porque, no fim das contas, a pipoca pode até estourar sozinha — mas o mercado, esse não se conquista no micro-ondas.