Manejo de pragas na cana

A cana-de-açúcar é uma das culturas mais importantes no mundo e cada vez mais o sucesso e aumento na produção é atribuído ao uso de controle biológico no seu cultivo.

Publicado em 27 de abril de 2022 às 08h58

Última atualização em 15 de maio de 2025 às 16h14

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Crédito: José Francisco Garcia

Rafael Rosa Rocha
Engenheiro agrônomo e mestrando em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – UNEMAT
rafaelrochaagro@outlook.com

A cana-de-açúcar é uma das culturas mais importantes no mundo e cada vez mais o sucesso e aumento na produção é atribuído ao uso de controle biológico no seu cultivo. O Brasil situa-se como maior produtor mundial da cana-de-açúcar, com 665.105,0 milhões de toneladas na safra de 2020/21, segundo estimativas do Centro Cana IAC/APTA. Assim, a cana-de-açúcar envolve o maior programa de controle biológico do mundo, pela extensão da área cultivada – cerca de 2,5 milhões de hectares.

Funciona assim

O controle biológico é uma técnica criada para diminuir a população de organismos considerados pragas, por meios e formas naturais. Um exemplo geral é a inserção, em determinada área, de predadores naturais dos insetos que causam danos econômicos às lavouras.
Diversas espécies de insetos-praga são capazes de causar danos significativos à cultura da cana-de-açúcar. Diante desse cenário, é imprescindível a realização do monitoramento e controle desses organismos. No entanto, não se deve apostar apenas em uma estratégia de manejo.
A utilização isolada de inseticidas sintéticos, por exemplo, pode não ser eficiente para o controle de algumas das pragas da cana ou, em alguns casos, seu uso indiscriminado pode causar a seleção de populações de insetos resistentes.
Além disso, o uso de produtos com amplo espectro de ação pode afetar insetos benéficos, como os inimigos naturais e polinizadores. Desse modo, novas táticas de manejo devem ser incrementadas às áreas de cultivo. O Manejo Integrado de Pragas (MIP) visa a utilização de um conjunto de táticas de controle para reduzir as populações de pragas no campo. Nesse sistema, diferentes estratégias podem ser adotadas, entre elas o controle biológico.

Alerta

Na prática, quando se fala das principais pragas no cultivo da cana-de-açúcar o bicudo da cana-de-açúcar ou gorgulho-da-cana (Sphenophorus levis), ácaro rajado (Tetranychus urticae), moleque-da-bananeira (Cosmopolites sordidus), mosca-branca (Bemisia tabaci raça B) e cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) são algumas das pragas-chave em determinadas regiões, porém, a broca-da-cana de açúcar, causada pela lagarta da espécie Diatraea saccharalis, é a principal praga da cultura.
Essa praga é polífaga, ataca principalmente a cana-de-açúcar, mas também gramíneas como o trigo, o arroz, a aveia, o milho e o sorgo. Está presente em todas as regiões canavieiras do Brasil e em outros países da América.
Ela se alimenta primeiramente do parênquima das folhas da cana até adentrar pelas partes moles, no colmo, onde abre galerias (verticais e horizontais), à medida que se alimenta, gerando prejuízos que vão desde o secamento dos ponteiros, morte de gemas (sintoma conhecido como coração morto), até a perda de peso.

Danos

Devido aos orifícios por ela abertos, favorece o ataque por fungos como Fusarium moniliforme e Colletotrichum falcatum, causadores da doença conhecida como podridão vermelha do colmo. Desta forma, é uma praga que traz grandes prejuízos e preocupações.
Do ponto de vista de possíveis danos, a broca-da-cana é uma das pragas mais relevantes entre as pragas existentes no agronegócio brasileiro. D. saccharalis é a principal razão para reduzir muito a produtividade do campo e a qualidade da matéria-prima da cana, visto que sua ocorrência é ao longo do crescimento da cultura, mas quando a planta é jovem e não há formação de entrenós, sua incidência é reduzida.
A lagarta jovem se alimenta das folhas e penetra as partes mais moles do colmo, perfurando a cana e abrindo galerias, que servem de entrada para outros microrganismos (bactérias, fungos, etc.) que causam o apodrecimento (podridão vermelha).
A cana-de-açúcar cultivada no Estado de São Paulo por um ano e meio no verão costuma ser infestada por mais insetos no verão, enquanto a cana-de-açúcar cultivada em outubro e setembro é mais severa. Em outros Estados e em certas espécies, os ataques de perfuração são quase constantes ao longo do ano, com uma ligeira diminuição no inverno. O declínio na produtividade agrícola se dá pela perda de peso dos colmos, que ficarão mais finos e muitos morrerão, além de tornarem-se frágeis à ação do vento.

Controle

Uma das melhores formas para o manejo da broca da cana-de-açúcar é o controle biológico. Neste caso, o agente biológico é uma vespa – Cotesia flavipes – que ataca a broca ainda na fase de lagarta.
A vespa se alimenta das reservas (gordura) da broca, enfraquecendo-a e levando-a à morte. A vespinha consegue localizar as lagartas por meio do odor liberado pelas fezes no interior do colmo da cana, parasitando-as em seguida.
A liberação deve ser feita sempre que a população atingir o mínimo de 800 a 1.000 lagartas/ha (1,0 a 1,5 lagarta/10 m amostrados). As liberações de vespinhas podem ser parceladas ou únicas, com uma média de 6.000 adultos (fêmeas + machos)/ha/ano.
As vespinhas devem ser liberadas de forma a cobrir toda a área-problema, posteriormente, transferindo-se o controle para outro local. Galloibug é ideal para áreas com alto índice de infestação (11%), pois age de forma preventiva (nos ovos), reduzindo rapidamente a população da praga e, consequentemente, os danos que ela causaria.
Pode ser consorciado ao uso de Cotesia flavipes, de forma a complementar a estratégia de controle da praga (Trichogramma é um parasitoide de ovos, enquanto a Cotesia parasita lagartas).
Trichogramma galloi é uma microvespa e suas fêmeas localizam no campo os ovos do hospedeiro e, neles, depositam seus ovos, interrompendo o desenvolvimento da praga logo no início do seu ciclo, tornando-os de coloração escura e dando origem a novas vespas, ao invés de lagartas.
Este processo demora de sete a 12 dias, dependendo da temperatura do ambiente. Galloibug não possui efeitos tóxicos ao meio ambiente ou a saúde do homem. Ideal para o manejo integrado de lagartas e manejo de resistência a defensivos químicos, promovendo uma agricultura sustentável, preservando os inimigos naturais e o equilíbrio do ecossistema.
Quando liberado próximo a aplicações de químicos, por se tratar de um inseto, a utilização de produtos seletivos é de extrema importância, visando a melhor eficiência de Galloibug no campo.

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