

Isaías Antonio de Paiva
Doutorando em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e consultor
paiva.isaiasantonio@gmail.com
Larissa Grasiela de Arruda Ferreira Costa
Mestrando em Agronomia – UFU
larissagrasielacosta@gmail.com
A calagem tem como principal objetivo a neutralização da acidez do solo, elevando o pH e promovendo a disponibilidade de cálcio (Ca²⁺) e magnésio (Mg²⁺). Essa prática reduz a toxidez do alumínio (Al³⁺), elemento prejudicial ao desenvolvimento das plantas, e melhora a eficiência da absorção de nutrientes essenciais, como fósforo (P).
Além disso, a calagem contribui para a atividade microbiológica do solo, tornando-o mais fértil e produtivo. Uma característica importante da calagem é que, quando utilizado o calcário, ele precisa ser incorporado fisicamente para atingir profundidades maiores (40 cm). Caso ele seja aplicado na superfície, irá acumular-se na camada de 0 – 5,0 cm, no máximo até 10 cm.
Alta solubilidade do gesso
Por outro lado, a gessagem não tem o poder de alterar o pH do solo, mas desempenha um papel crucial na mobilidade do cálcio e outros cátions como o magnésio e o enxofre e na redução da toxidez do alumínio em profundidade.
O gesso agrícola apresenta alta solubilidade e é capaz de deslocar íons de alumínio para camadas mais profundas, permitindo que as raízes das plantas se desenvolvam melhor. Além disso, o fornecimento de enxofre (S) pelo gesso é essencial para diversas reações metabólicas das plantas.
No entanto, a aplicação excessiva desse insumo pode levar à lixiviação de cátions básicos, como magnésio e potássio, podendo comprometer a fertilidade do solo se não houver um manejo adequado. Solos mais arenosos são mais propensos à lixiviação de cátions básicos e a intensidade da lixiviação é proporcional à quantidade de partículas tamanho areia do solo.
A gessagem pode substituir a calagem?
Apesar da importância da gessagem, é um erro acreditar que essa prática pode substituir a calagem. A correção da acidez do solo é fundamental para o bom desenvolvimento das plantas e, como o gesso não altera o pH, ele não pode ser usado como substituto do calcário.
Em situações em que o solo apresenta elevada acidez superficial, a aplicação apenas de gesso pode agravar problemas nutricionais, pois o cálcio fornecido pelo gesso pode competir com o magnésio e o potássio na absorção pelas raízes, levando a deficiências desses nutrientes.
Dessa forma, a análise de solo é essencial para determinar a necessidade de cada insumo e garantir que sejam aplicados de forma correta e equilibrada.
O momento ideal
A aplicação desses corretivos deve seguir critérios técnicos para garantir sua máxima eficiência. O calcário deve ser aplicado preferencialmente de três a seis meses antes do plantio, permitindo tempo suficiente para sua reação no solo.
Ele deve ser incorporado ao solo para aumentar sua eficiência, exceto em sistemas de plantio direto, onde sua reação ocorre mais lentamente. Já o gesso pode ser aplicado junto com o calcário ou posteriormente, caso a análise de solo indique a necessidade.
Sua aplicação ocorre na superfície, pois sua alta solubilidade permite que ele se mova para camadas mais profundas, sem a necessidade de incorporação mecânica. Lembrando que é preciso que tenha água no solo para que o calcário e o gesso reajam, porém, caso não dê tempo de fazer a aplicação em tempo hábil antes do plantio, o mundo não irá acabar.
No próximo ciclo da cultura ela receberá os benefícios da calagem de forma adequada, e o da gessagem ainda na metade do ciclo, caso seja uma cultura anual (soja e milho).
Gessagem acidifica o solo?
Um dos mitos mais comuns entre os produtores é a crença de que a gessagem pode acidificar o solo. Na realidade, a gessagem não reduz diretamente o pH do solo, mas pode levar a um efeito indireto de acidificação em longo prazo devido à lixiviação de cátions básicos, como magnésio e potássio.
Esse efeito pode ser evitado com o monitoramento adequado dos teores desses nutrientes e com adubações complementares, se necessário. Para realizar um efeito como esse, precisariam ser aplicadas quantidades muito elevadas de gesso na área, portanto, é raramente visto. É preciso exagerar, e muito, para conseguir acidificar o solo com gesso.
Impacto na disponibilidade de nutrientes

Os impactos da calagem e da gessagem na fertilidade do solo e no desenvolvimento das plantas são significativos. Enquanto a calagem melhora a disponibilidade de cálcio e reduz a acidez, a gessagem melhora as condições químicas do solo, principalmente em profundidade, permitindo que as raízes explorem um maior volume do perfil.
Como consequência, as plantas se tornam mais resistentes à seca, pois podem acessar água armazenada em camadas mais profundas. Além disso, a neutralização do alumínio tóxico contribui para um melhor enraizamento e absorção de nutrientes essenciais.
Dose certa
A literatura consolidada recomenda que a calagem seja feita com base na análise química do solo, considerando fatores como a saturação por bases, o teor de alumínio trocável e a disponibilidade de cálcio e magnésio.
Para a calagem, o objetivo é elevar a saturação de bases para níveis ideais, variando entre 60 e 90%, dependendo da cultura cultivada. Entretanto, alguns autores brasileiros, como o doutor e professor Silvino, da Universidade Federal de Lavras, verificaram que as quantidades obtidas nas recomendações tradicionais se mostraram insuficientes para culturas como soja, feijão e milho.
Nos experimentos realizados, doses de aproximadamente 12 t ha-1 de calcário foram as que melhor condicionaram o solo.
Por isso, na ausência de estudos mais recentes, siga a recomendação dos boletins, porém, é essencial que o produtor busque novas recomendações em contato direto com universidades, institutos e consultorias privadas (idôneas), para obter a recomendação da dose correta de calcário para a sua situação. Os estudos recentes mostram que as doses recomendadas nos boletins podem ser aumentadas em até 400%.
Recomendações
A gessagem é recomendada quando o teor de alumínio na camada de 20 a 40 cm ultrapassa 20% da CTC efetiva, sendo necessária para melhorar a fertilidade em profundidade. Em solos argilosos, as doses variam entre 1,0 e 3,0 toneladas por hectare, enquanto em solos arenosos as doses são menores, entre 0,5 e 1,5 tonelada por hectare. Contudo, o setor sucroenergético, na figura da cana-de-açúcar, utiliza valores elevados de gesso por hectare. Essa cultura tem alta extração de Ca, e o gesso é uma fonte alternativa de fornecimento, com custo-benefício adequado.