
Harianna Paula Alves de Azevedo
Doutora em Fitotecnia – Universidade Federal de Lavras (UFLA) e extensionista Agropecuária – EMATER-MG
harianna_tp@hotmail.com
Fotos: Shutterstock
A cebola é uma das hortaliças mais consumidas no mundo, mas seu cultivo enfrenta desafios como estresses ambientais, doenças e a necessidade de aumentar a produtividade de forma sustentável.
Nesse cenário, os bioestimulantes surgem como uma solução promissora, oferecendo benefícios que vão desde o fortalecimento das plantas até a melhoria da qualidade dos bulbos.
Detalhes que você ainda não conhecia
Bioestimulantes são substâncias ou microrganismos que, quando aplicados às plantas, estimulam processos naturais para melhorar o crescimento, a resistência a doenças e a tolerância a condições adversas, como seca, salinidade e temperaturas extremas.
Eles podem ser compostos por aminoácidos, extratos de algas, ácidos fúlvicos, microrganismos benéficos, entre outros.
Para a cebola
No cultivo da cebola, os bioestimulantes mais utilizados incluem os aminoácidos e proteínas hidrolisadas, que podem ser derivados de plantas, animais ou processos fermentativos.
Assim, são capazes de fornecer aminoácidos essenciais que melhoram o metabolismo vegetal, aumentam a resistência ao estresse, como seca ou geadas, e estimulam o desenvolvimento radicular, ajudando no fortalecimento das raízes e na formação de bulbos mais uniformes.
Algas tornam as plantas mais resistentes
Os extratos de algas marinhas são originados de algas marrons ou vermelhas processadas. São ricos em hormônios vegetais, como auxinas, citocininas e polissacarídeos que estimulam o crescimento, melhoram a fotossíntese e aumentam a tolerância a estresses ambientais.
Em plantios de cebola, aumentam a resistência a doenças e condições climáticas adversas, além de promover bulbos de maior tamanho e qualidade. As substâncias húmicas que são originárias da matéria orgânica decomposta, como os húmus de turfa e compostos vegetais, melhoram a estrutura do solo, a absorção de nutrientes e a retenção de água.
Também favorecem o desenvolvimento radicular e a disponibilização de nutrientes como fósforo e potássio, essenciais para o crescimento do bulbo da cebola.
Microrganismos atuam como bioestimulantes
Alguns microrganismos que atuam de maneira benéfica nos plantios também são utilizados como bioestimulantes. Entre os exemplos estão as bactérias Bacillus spp. e Pseudomonas spp. e fungos como Glomus spp., Trichoderma spp. Eles são capazes de promover a fixação de nitrogênio, solubilizam nutrientes, combatem patógenos e estimulam o crescimento radicular. Existem outros tipos de bioestimulantes também presentes no mercado que atuam de maneira a beneficiar os plantios em geral.
Contra estresses
Os bioestimulantes desempenham um papel crucial na mitigação dos estresses abióticos, como seca e salinidade, na cultura da cebola. Bioestimulantes como aminoácidos e extratos de algas estimulam o crescimento das raízes, permitindo que a planta explore um volume maior de solo em busca de água.
Substâncias como os ácidos fúlvicos e hormônios vegetais ajudam a regular a abertura e fechamento dos estômatos, reduzindo a perda de água por transpiração. Alguns induzem a produção de compostos como prolina e açúcares solúveis, que ajudam a manter o equilíbrio osmótico das células mesmo em condições de escassez de água.
Microrganismos benéficos e ácidos húmicos melhoram a estrutura do solo e a absorção seletiva de nutrientes, reduzindo a entrada de sódio nas raízes. Os extratos de algas e aminoácidos aumentam a produção de enzimas como superóxido dismutase (SOD) e catalase, que combatem os radicais livres gerados pelo estresse salino.
Compostos como a quitosana e os polissacarídeos de algas ajudam a estabilizar as membranas celulares, evitando danos causados pelo excesso de sais.
Papel dos bioestimulantes
O silício, presente em alguns bioestimulantes, é depositado na parede celular, tornando-a mais resistente a estresses mecânicos e térmicos. Isso é especialmente útil em condições de seca ou solos salinos.

Alguns estimulam a produção de lignina, um polímero que reforça a estrutura da planta e a protege contra danos físicos. Microrganismos benéficos e ácidos húmicos solubilizam nutrientes como fósforo e potássio, tornando-os mais disponíveis para a planta mesmo em solos degradados ou salinos.
Aminoácidos e extratos de algas melhoram a assimilação de nitrogênio, essencial para o crescimento e desenvolvimento da cebola. Bioestimulantes como extratos vegetais e microrganismos benéficos ativam genes que codificam proteínas de resistência ao estresse, preparando a planta para enfrentar condições adversas.
Compostos como flavonoides e terpenos, induzidos por bioestimulantes, ajudam a proteger a planta contra danos oxidativos causados por estresses abióticos.
Quando aplicar?
O momento ideal para a aplicação de bioestimulantes no cultivo da cebola depende do estágio de desenvolvimento da planta e dos objetivos específicos que se deseja alcançar. Em pré-plantio, pode ser no tratamento de sementes, quando ajudam a fortalecer as sementes, trazendo melhoria na germinação, no desenvolvimento radicular inicial e proteção contra patógenos do solo, assim, promovendo um estabelecimento inicial vigoroso.
Podem ser recomendados microrganismos benéficos, aminoácidos e extratos de algas.
Em pós-plantio, até 20-30 dias, estimulam o crescimento radicular e a parte aérea da planta. Fortalecem o sistema radicular, aumentam a absorção de nutrientes e melhoram a resistência a estresses iniciais. São usados ácidos húmicos e fúlvicos, extratos de algas e aminoácidos.
Na fase de crescimento vegetativo, 30 – 60 dias após o plantio, promovem o desenvolvimento foliar e preparam a planta para a fase de bulbificação. Aumentam a área foliar, trazem melhorias na fotossíntese e preparação para a formação dos bulbos.
Os bioestimulantes recomendados nessa fase são os extratos de algas, aminoácidos e hormônios vegetais, como auxinas e citocininas.
Na fase de bulbificação, 60-90 dias após o plantio, estimulam a formação e o crescimento dos bulbos. Aumentam o tamanho e a qualidade dos bulbos, melhoram a resistência a doenças e estresses abióticos. São recomendados os extratos de algas, aminoácidos, silício e microrganismos benéficos.
Em fase de maturação, 90 – 120 dias após o plantio, garantem a maturação uniforme e a qualidade final dos bulbos, aumentam o teor de sólidos solúveis nos bulbos e maior resistência a rachaduras.
Os aminoácidos, extratos de algas e ácidos fúlvicos, de maneira geral, são aplicados via fertirrigação ou pulverização foliar. É ideal acompanhar o desenvolvimento da cultura e ajustar as aplicações conforme necessário, com base no estágio da planta e nas condições ambientais.

Em campo
O uso de bioestimulantes na cultura da cebola tem demonstrado resultados significativos em termos de produtividade e qualidade dos bulbos. Pesquisas indicam que o tratamento de sementes com extratos de algas, como Ascophyllum nodosum, aumentou a taxa de germinação e o crescimento inicial das plântulas, resultando em maior vigor das mudas e, consequentemente, em maior produtividade dos bulbos.
Mais produtividade
Em alguns casos, o uso desses bioestimulantes aumentou a produtividade em até 20%, em outros, promoveu o crescimento uniforme dos bulbos, resultando em produtos de maior tamanho e melhor aparência comercial.
A aplicação de Trichoderma asperellum demonstrou melhorias na atividade fotossintética e no acúmulo de nutrientes, o que refletiu em maior produção de bulbos. Em mudas de cebola, a aplicação de ácidos húmicos melhorou a qualidade das mudas, com maior teor de açúcares e proteínas, o que contribuiu para um melhor estabelecimento no campo e maior produtividade.
Estudos mostraram que o uso de bioestimulantes aumentou o acúmulo de nutrientes como nitrogênio (N), potássio (K) e magnésio (Mg) nos bulbos, o que pode melhorar a qualidade nutricional do produto final.
O uso de bioestimulantes permitiu uma redução no uso de fertilizantes químicos e defensivos agrícolas, promovendo práticas mais sustentáveis e ambientalmente responsáveis.

Atenção!
O uso de bioestimulantes pode complementar outros insumos, como fertilizantes e defensivos agrícolas, mas raramente os substitui completamente. Eles atuam como uma ferramenta adicional para melhorar a eficiência do uso de nutrientes, aumentar a resistência das plantas e reduzir a dependência de insumos químicos.
Bioestimulantes como ácidos húmicos e fúlvicos, extratos de algas e microrganismos benéficos aumentam a disponibilidade de nutrientes no solo e melhoram a capacidade das raízes em absorvê-los.
Isso permite que a planta utilize os fertilizantes aplicados de forma mais eficiente. Em alguns casos, pode possibilitar a redução das doses de fertilizantes químicos sem comprometer a produtividade, pois eles maximizam a eficiência do uso de nutrientes.