A cigarrinha que se cuide: híbridos de milho resistentes

Para controlar a infestação da cigarrinha, é importante adotar um conjunto de ações dentro do manejo integrado de pragas.
close-up yellow ripe corn on stalks for harvest in agricultural cultivated field, fodder industry

Publicado em 5 de maio de 2025 às 07h55

Última atualização em 5 de maio de 2025 às 07h55

Acompanhe tudo sobre #Agricultura, Biotecnologia, Cigarrinha, Híbridos de milho, Resistência e muito mais!
Crédito Shutterstock

Fernanda Lourenço Dipple
Engenheira agrônoma e professora de Agronomia – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)
fernanda.dipple@unemat.br

A resistência da planta hospedeira a insetos refere-se a propriedades herdadas e associadas à capacidade da planta de suportar e se recuperar de injúrias causadas por insetos-praga.

Assim, podemos sintetizar que resistência de plantas é uma característica hereditária, relativa e influenciada por condições ambientais, ou seja, uma mesma planta pode ser resistente a uma espécie de inseto e suscetível a outro.

 Então, a resistência é dependente de diversos fatores:

1) Antixenose ou não-preferência: o mecanismo através do qual o inseto evitaria determinado hospedeiro pode ser de natureza química ou morfológica. Não preferência para se alimentar, ovopositar, etc.

2) Antibiose: o inseto se alimenta, mas causa efeitos negativos sobre sua biologia. Os principais sintomas comumente observados são: morte de larvas jovens, crescimento anormal, conversão alimentar anormal, fracasso para empupar, etc. Causada pela presença de metabólitos tóxicos (p.e., alcaloides, quinonas, glucosídeos, etc.); presença de fatores anti-nutricionais; etc. É um mecanismo drástico de resistência e muito buscado em programas de melhoramento.

3) Tolerância: refere-se à capacidade de certas plantas de reparar a injúria sofrida ou produzir adequadamente, a despeito de suportar uma população de insetos a níveis capazes de danificar uma planta mais susceptível. Exemplos: vigor geral das plantas, regeneração do tecido danificado, força da haste e resistência ao acamamento, produção adicional de ramos, utilização, pelo inseto, de partes não vitais da planta, compensação lateral por plantas vizinhas.

Eficácia dos híbridos de milho

A eficácia no controle da cigarrinha com a resistência ou tolerância dos híbridos é muito relativa, porém, estudos demonstram potencial de perdas drásticas nas lavouras em material suscetível, com altas populações e condições ambientais favoráveis à praga.

Em relação ao manejo, existe ainda muita dificuldade, em razão da baixa eficiência de controle da cigarrinha com inseticidas químicos, o que pode estar relacionado ao seu caráter migrador.

Muitas regiões produzem milho safrinha, após a cultura da soja. Esta segunda safra pode alterar a data da semeadura, conforme andamento das colheitas da soja. Tais mudanças e aumento da janela de semeadura favorecem a migração da cigarrinha, bem como milho voluntário ou tiguera, que se tornam hospedeiros para a pragas.

Controlar o vetor

A melhor estratégia é controlar o vetor
Crédito Shutterstock

Como não existem produtos eficientes para controle dos molicutes, a melhor estratégia é controlar o vetor. Diante desses fatos, há que se considerar que a resistência genética ainda é a estratégia mais indicada para os enfezamentos.

Apesar de o potencial produtivo ser uma característica própria de cada genótipo, a produção de grãos correlacionou-se negativamente com a severidade do enfezamento.

Características agronômicas

Diversas pesquisas estão sendo feitas no Brasil para identificação de híbridos de milho tolerantes aos problemas causados pelo enfezamento. Dentre as características buscadas, tem-se redução de sintomas nas folhas, ou seja, folha avermelhada ou amarelada, ou apresentando faixas cloróticas em sua inserção, alta tolerância ao ataque do inseto e do patógeno, diminuição de perdas de produção, com ataques severos da praga.

Para avaliação da resistência, uma das metodologias avaliadas é a população de cigarrinhas nos híbridos e uso de notas de sintomas de enfezamento pela severidade utilizando-se escala de notas, que varia de 1 a 6, em que 1: ausência de plantas; 2: menos de 25% plantas; 3: 25% a 50% das plantas; 4:  50% a 75% das plantas; 5: mais de 75% das plantas e 6: 100% das plantas com sintomas.

Além destas características pode-se avaliar características vegetativas e produtivas, como altura, massa fresca, massa de espiga, produção de grãos por planta e produtividade por hectare.

Híbridos resistentes

O manejo da cigarrinha deve ser feito preventivamente, e mesmo se os híbridos utilizados forem tolerantes não podemos deixar a cultura sem manejo de pragas, ou sem monitoramento. Pois o milho possui um ciclo de em média 90 a 120 dias, conforme material precoce ou tardio.

A cigarrinha do milho, Dalbulus maidis, possui um ciclo de 24-45 dias, com uma longevidade de 70 dias. As fêmeas depositam cerca de 14 ovos/dia, podendo colocar 611 ovos durante os seus 45 dias de vida.

Em condições ideais de 26 a 32ºC, o seu ciclo biológico se completa em 24 dias, podendo fazer tranquilamente três gerações, alcançando populações enormes e virando epidemias.

Retorno sobre o investimento

A escolha de um híbrido com características desejáveis para tolerância à cigarrinha, aos nematoides, alto teto produtivo e resistência a herbicidas é desejável e indicado para alcançar altas produtividades.

Existe muita variação de valores de precificação de sementes de milho, de R$ 300,00 a mais de R$ 1.000,00 a saca de 60 kg. Este valor pode variar muito, de acordo com o nível tecnológico de cada material.

Ataque de cigarrinha ao milho
Crédito Maurício Passini

Não existem dúvidas de que o uso de um híbrido com estes requisitos pode auxiliar na redução dos danos às adversidades e dos prejuízos produtivos causados pelo enfezamento.

A cigarrinha pode transmitir os enfezamentos pálido e vermelho e estes podem reduzir drasticamente a produtividade, alguns estudos relataram prejuízos de até 100% na produtividade, dependendo da suscetibilidade, época de semeadura, condições ambientais, etc.

Esta medida de controle é considerada de baixo custo, quando comparado ao controle químico, o qual pode ser ineficiente em altas populações e em condições que favorecem a praga.

Melhoramento genético em andamento

O desenvolvimento de cultivares e híbridos de milho com resistência a determinada doença pode ser limitado por causas diversas, incluindo o desconhecimento do controle genético da resistência, da variabilidade do patógeno e dos fatores que afetam sua incidência e severidade.

Além desses fatores, outros podem atuar sobre a tolerância ou resistência de uma doença ou praga, como os ambientais, a população de pragas ou estresse.

O milho

Para a cultura do milho, em estudo específico sobre o controle genético da resistência ao enfezamento pálido causado por espiroplasma, em que esse patógeno foi inoculado nas plantas, em condições controladas, foi confirmada a ocorrência de efeitos aditivos e também do efeito de dominância.

Já o retrocruzamento é o método indicado para a transferência de poucos alelos de uma linhagem para outra, a qual será utilizada na produção de um híbrido resistente. Quando a resistência é do tipo horizontal, a seleção recorrente é indicada para permitir a recombinação de alelos que conferem resistência.

Assim, pode-se utilizar diversos métodos de melhoramento genético, dependendo do objetivo e da linhagem do material a ser produzido. Atualmente, diversos centros de pesquisas estão trabalhando no desenvolvimento destes materiais, com resultados promissores já comercializados no mercado.

Recomendações

Quando se tratar dos genótipos de milho selecionados para resistência aos enfezamentos, recomenda-se que não sejam cultivados isolados e repetidamente em determinado local, para evitar possível seleção de variantes genéticas dos molicutes, e “quebra” da resistência.

Recomenda-se sempre a diversificação e a rotação das cultivares de milho a serem cultivadas para a produção de grãos, para evitar essa seleção dos patógenos e para minimizar possíveis perdas, quando ocorrer alta incidência dos enfezamentos.

Além disso, nunca esquecer que o manejo eficiente é a utilização de diversas técnicas de controle.

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