Ramulária no algodoeiro exige controle eficiente

A mancha de ramulária é uma doença foliar de destaque na cotonicultura brasileira. Esta doença encontra-se disseminada em praticamente todas as áreas de cultivo do País.

Publicado em 26 de abril de 2022 às 08h25

Última atualização em 15 de maio de 2025 às 16h18

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Foto: Shutterstock

Jean de Oliveira Souza
Engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia/Produção Vegetal – Unesp
jsoliveira1@hotmail.com

O cultivo do algodoeiro no Brasil obteve, nos últimos anos, aumento significativo da produtividade da fibra do algodão, resultado de avanços genéticos, o que tem permitido a viabilidade econômica dessa cultura, com relevância para a região do Cerrado.
No entanto, as condições edafoclimáticas e o sistema de cultivo com base em extensas áreas com poucos cultivares plantados, muitos deles suscetíveis a mais de uma doença, agravam as doenças e ameaçam economicamente o cultivo do algodoeiro. Entre elas, destaca-se a mancha de ramulária, causada por Ramularia aréola, que é responsável por elevadas perdas de produção, principalmente na região do Cerrado.

Alerta

A mancha de ramulária é uma doença foliar de destaque na cotonicultura brasileira. Esta doença encontra-se disseminada em praticamente todas as áreas de cultivo do País. Foi considerada no passado como de importância secundária no algodoeiro, pois ocorria no final do ciclo da cultura e não comprometia a produção.
Atualmente, no entanto, tem merecido destaque em função de sua ocorrência desde o início do ciclo da cultura, promovendo desfolha precoce, o que acarreta em redução da produção e da qualidade da fibra, além do custo de manejo.
Devido ao aumento expressivo de exploração contiínua e intensiva das áreas de cultivo do algodão, a doença passou a ser considerada a principal enfermidade da cultura no Brasil.

Sintomas

Os principais sintomas da doença surgem nas folhas mais velhas após a emissão das primeiras maçãs, porém, é possível identifica-los previamente em campo no surgimento do primeiro botão floral e o início do florescimento.
As condições climáticas também favorecem a disseminação da doença no campo, como a alta umidade relativa do ar. Em períodos chuvosos podem ocorrer sintomas precoces, chegando a provocar queda de folhas e apodrecimento das maçãs dos ramos mais próximos do solo.
A identificação dos sintomas da ramulária no campo pode ser feita pelas lesões em aspectos cotonoso, semelhantes aos míldios, evoluindo para uma necrose nos locais atingidos. Em casos de alta severidade da doença, pode ocorrer desfolha parcial e total das plantas, reduzindo a capacidade fotossintética e o transporte de assimilados, com redução da produção, principalmente se o ataque for intenso na fase de formação de maçãs, induzindo a abertura precoce de capulhos, com perdas também na qualidade da fibra.

Manejo

O manejo desta doença tem sido feito por meio da integração de medidas de manejo, como o uso de cultivares com resistência, e principalmente a aplicação de fungicidas.
As estratégias utilizadas no controle da doença se fundamentam no uso de cultivares resistentes e no controle químico. Considerando que a maioria das cultivares em uso no Brasil não possui resistência completa à doença, este último se constitui em ferramenta indispensável para o manejo, representando um papel significativo na redução dos danos e as consequentes perdas de produtividade.
O manejo adotado atualmente nas regiões de produção de algodão é o uso do controle químico, e por isso, há uma grande preocupação pela pressão de seleção que alguns grupos químicos de fungicidas que são utilizados no algodoeiro exercem sobre os patógenos, proporcionando o surgimento de populações resistentes.
Como a maioria das cultivares de algodão utilizadas não possui resistência à doença, o uso de maneira alternada com diferentes princípios ativos é fundamental, por ser uma estratégia eficaz para se evitar essa resistência da Ramularia areola.
Conhecer a eficiência dos diferentes fungicidas utilizados no controle da mancha de ramulária e identificar a possível ocorrência de populações resistentes do agente causal da doença são conhecimentos fundamentais para reduzir as perdas por ela ocasionadas, assegurar o alto rendimento da cultura do algodoeiro e a sua sustentabilidade nas diferentes regiões produtoras.

Dicas

Quando o produtor optar por fazer o controle químico, é necessário se atentar à fase fenológica do algodão para a aplicação do fungicida, visto que quando esse controle é feito após a abertura das maçãs do terceiro ramo reprodutivo, também chamada de estágio fenológico C3, a proteção não será mais eficiente e não haverá respostas em ganhos de produtividade e controle.
De maneira genérica, o controle químico tem sido eficiente, embora, este implique em custo adicional para o produtor. Apesar de ser uma técnica eficiente de controle, o uso de agroquímicos pode contaminar solos, água e agredir o meio ambiente.
Há, portanto, outras formas baratas e eficientes de controle químico com efeito menos nocivo ao meio ambiente, como o uso de caldas à base de sulfatos de cobre, zinco, magnésio e de silício. que além do controlar doenças, fornece micronutrientes.
Alternativamente, uma das maneiras mais eficientes de controle da ramulária, ecologicamente correta, tem sido o uso de cultivares resistentes. A Embrapa identificou várias linhagens resistentes à doença e lançou a cultivar BRS 371 RF. A linhagem CNPA GO 2007-423 teve seu registro aprovado e lançado como cultivar com a denominação BRS 372.
Além de possuir resistência à mancha de ramulária, é também resistente à mancha-angular e doença azul. Essa tática de controle, apesar de eficiente, alguns estudos constataram desempenho contraditório de genótipos de algodoeiro em relação à mancha de ramulária em função do local, indicando possível existência de variabilidade genética do agente causal no Brasil.
Há, portanto, a necessidade de desenvolvimento de cultivares resistentes a diferentes isolados e que sejam adaptadas a locais específicos, que garantam boa adaptação edafoclimática e com bons níveis de proteção contra a ramulária, e assim garantam um melhor comportamento produtivo e qualitativo das fibras de algodão nas lavouras brasileiras em que é explorado economicamente, permitindo melhor rentabilidade da exploração aos cotonicultores.

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