Ácidos húmicos disponibilizam nutrientes retidos no solo

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Publicado em 25 de dezembro de 2017 às 07h59

Última atualização em 25 de dezembro de 2017 às 07h59

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Nilva Terezinha Teixeira

Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora de Nutrição de Plantas, Bioquímica e Produção Orgânica do Centro Universitário do Espírito Santo do Pinhal (UniPinhal)

nilvatteixeira@yahoo.com.br

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Os ácidos húmicos e fúlvicos são componentes das chamadas substâncias húmicas, que são compostos orgânicos naturalmente encontrados em solos, sedimentos e na água e são resultantes da transformação de resíduos vegetais.

Tais compostos influenciam em inúmeros processos químicos e bioquímicos, como a capacidade de retenção de nutrientes, a complexação e transporte de cátions e reações fisiológicas em microrganismos e plantas.

O uso agrícola de produtos à base de ácidos húmicos e fúlvicos na produção agrícola vem crescendo bastante nas últimas décadas em todo o mundo, e mais recentemente no Brasil. Já existem, hoje, no mercado nacional inúmeros produtos que contêm ácidos húmicos extraídos de depósitos minerais (leonardita, lignita, etc), solos orgânicos (turfeiras) ou obtidos da humificação de resíduos vegetais.

Ação no solo

Os ácidos húmicos interferem diretamente na qualidade física do solo, por promoverem a aproximação das partículas e, consequentemente, gerar maior agregação dos solos, o que influi diretamente em outras características do solo como, por exemplo, a densidade, porosidade, aeração, capacidade de retenção e infiltração de água no solo.

Tratam-se de coloides orgânicos muito complexos, de elevado peso molecular, com cerca de 40 a 60% de carbono, 30 a 40% de oxigênio, 5,0% de nitrogênio e muitos radicais orgânicos: carboxílicos, fenólicos, hidroxifenólicos, hidroquinônicos, amínicos, amídicos, imídicos, porfirínicos, etc. (o que lhes confere elevada CTC). Têm, ainda, elevada capacidade de retenção de água.

A tabela 1 mostra algumas características e efeitos das substâncias no solo. Já a tabela 2 descreve alguns efeitos das substâncias húmicas nas plantas. Observe que tais substâncias unem as partículas do solo e desagregam argilas, melhoram a agregação do solo e sua estrutura, o que se reflete na aeração e capacidade de retenção de água, efeito que isoladamente os próprios ácidos húmicos apresentam.

Outro destaque é o efeito tampão de tais substâncias: o pH do meio fica equilibrado, o que beneficia as plantas. Assim, substâncias húmicas influenciam diretamente a estrutura física, química e microbiológica dos solos, beneficiam as condições do solo para o desenvolvimento, principalmente, do sistema radicular das culturas implantadas.

As substâncias húmicas também promovem o crescimento radicular das plantas, oque está diretamente ligado à absorção de nutrientes e água, refletindo na produtividade.

Tabela 1 ” Características e efeitos dos ácidos húmicos nos solos

PropriedadesSubstâncias húmicasEfeitos no solo
CorVariam doamarelo ao quase negro.Interferência no matiz e no croma do solo; retenção de calor.
Retenção de águaPodem reter até 20 vezes a sua massa.Armazenamento de água no solo.
União de partículas

do solo

Cimentam partículas do solo, formando agregados.Formação de estruturas no solo; porosidade e densidade do solo.
Desagregantes das argilasPromovem a melhoria das propriedades físicasde solos compactados.Auxilia na descompactação de solos.
ComplexaçãoFormam complexos (Cu++ Mn++, Zn++, Al+++,Ca++, Cd++)Detoxificação de íons tóxicos

(Al+++), aumenta a mobilidade de íon.

Efeito tampãoTem função tamponante.Ajuda a manter o equilíbrio da

solução do solo.

Disponibilização de nutrientesEx. Desloca o P da superfície das argilas.Melhora a oferta de P às plantas.
Biologia de soloFornece matéria orgânica e ativa o desenvolvimentodos microrganismos.Melhora a microbiota do solo.

Tabela 2 – Alguns efeitos das substâncias húmicas nas plantas

ProcessoSubstâncias húmicasResultados nas plantas
Absorção deágua e de nutrientesAumentaa permeabilidade celular.Melhoria da quantidade absorvida, da mobilidade dos nutrientes e transporte dos mesmos.
FotossínteseIncremento da taxa de formação das clorofilasAumento da produção deaçúcar e, em consequência, de proteínas, óleos, etc.
RespiraçãoEstímulo da atividade das enzimas do ciclo do ácido tricarboxílico e da cadeia respiratória.Maior geração de energia e de metabólitos intermediários importantes.
Divisão CelularEstimula a formação de auxinas naturais.Estímulo à formação de tecidos meristemáticos.

Estudos

Em soja e milho alguns estudos comprovam o benefício na produtividade destas culturas. Em relação à soja, citações na literatura revelam aumentos de produtividade (12-24%) e do teor de proteínas (4,0 -10%). Já no milho, citam-se aumentos entre 5,0 a 12% na produção.

No UniPinhal, Curso de Engenharia Agronômica, conduziu-se ensaio de campo com cana-de-açúcar, segundo corte, e os resultados estão inseridos na figura 1. Observe-se que houve resposta à aplicação do produto.

Foram duas as aplicações: a primeira aos 36 dias depois da colheita e a segunda 30 dias após a primeira, sobre a soqueira, por bomba costal (volume de calda 600 l ha-1).Os resultados obtidos deixam evidente que o emprego dos ácidos húmicos e fúlvicos promoveu aumentos estatísticos.

A observaçãomostra que o tratamento mais eficiente foi o 4, em que se aplicou 15 l ha-1 do produto. A análise de regressão com resumo na tabela 2 e ilustrada pela figura 1, mostra que os efeitos foram quadráticos, o que permitiu verificar que a melhor dose foi de 15,35 l ha-1.

Pode-se inferir, portanto, que as substâncias húmicas favorecem o desenvolvimento e a produção das plantas. Entretanto, a melhor dose depende da cultura e do produto aplicado. O seu uso pode ser na instalação da lavoura, quando se pode optar por aplicação localizada ou em área total ou, ainda, pulverizar os sulcos de plantio. As indicações podem ser por pulverização em fases vegetativas ou reprodutivas, sempre de acordo com o formulado escolhido e indicação técnica.

grafico

Figura 1– Peso de colmos no ensaio com ácidos húmicos e fúlvicos em cana-de-açúcar (segundo corte). Médias de quatro repetições. Médias seguidas de mesmas letras são iguais estatisticamentea 5,0% (Tukey).

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