Soja louca II tem novo alvo ” o algodão

Créditos Juliana Aparecida Homiak

Publicado em 19 de julho de 2017 às 07h46

Última atualização em 19 de julho de 2017 às 07h46

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Nematoide Aphelenchoides sp., causador da soja louca II é diagnosticado na cultura do algodão no município de Sapezal(MT)

Juliana Aparecida Homiak

Bióloga, mestre em Agronomia pela Universidade Estadual de Maringá e proprietária da Nemat Solution

julianahomiak@hotmail.com

 

Créditos Juliana Aparecida Homiak
Créditos Juliana Aparecida Homiak

Aphelenchoides está entre os gêneros com maior número de espécies descritas em Nematoda, com mais de 180 espécies (Hunt, 2008; Sanchez-Monge et al., 2015). Eles possuem um hábito micófago e algumas espécies parasitam a arte aérea de plantas, tais como folhas, vagens, nós e inflorescências (Hunt, 1993).

As espécies fitoparasitas com maior importância agronômica são: Aphelenchoides besseyi, A. fragariae, A. ritzemabosi, A. arachidis e A. subtenuis. Esses microrganismos possuem uma importante característica, que é a capacidade de entrar em anidrobiose, o que lhes permite sobreviver mesmo em condições de dessecação.

  1. besseyi já causou grandes prejuízos para a cultura do arroz, é popularmente chamado de nematoide da ponta branca do arroz, causador do nanismo de verão do morangueiro e está entre as 10 espécies de fitonematoides mais importantes economicamente no mundo (Jones, et al., 2013).

Exibem um hábito endo ou ectoparasita, o que vai depender da espécie hospedeira (Allen, 1952). O ciclo de vida se completa com sete a 10 dias, sob temperatura de ± 30ºC, ciclo relativamente curto quando comparado a outros gêneros, ou seja, consegue completar vários ciclos durante o período de infecção nas plantas hospedeiras.

Confirmação da soja louca II no algodoeiro em microscópio - Créditos Juliana Aparecida Homiak
Confirmação da soja louca II no algodoeiro em microscópio – Créditos Juliana Aparecida Homiak

Soja louca II

Há cerca de dez anos, pesquisadores trabalhavam na identificação da soja louca II, fenômeno que vem causando severas reduções na produtividade, principalmente em regiões mais quentes e chuvosas, como os Estados do Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso.

O diagnóstico veio em 2015, quando ocorreu a identificação do agente causador, o nematoide Aphelenchoides sp. Os sintomas são observados no início da fase reprodutiva da soja, e se caracterizam por plantas de soja com haste verde, retenção foliar e abortamento de vagens antes de finalizar seu ciclo e o engrossamento das nervuras nas folhas mais jovens.

Também é observado que as hastes exibem deformações e engrossamento dos nós. As vagens podem apresentar lesões, rachaduras, apodrecimento e redução do número de grãos.

Com o alto índice de abortamento de vagens, provoca, muitas vezes, a indução de uma nova floração e sintomas de superbrotamento. Segundo informações da Embrapa Soja, esse abortamento é mais intenso na parte superior das plantas, diminuindo em direção à base, o que impede o processo natural de maturação, permanecendo a planta verde mesmo após a aplicação de herbicidas dessecantes.

Confirmação da soja louca II no algodoeiro em microscópio - Créditos Juliana Aparecida Homiak
Confirmação da soja louca II no algodoeiro em microscópio – Créditos Juliana Aparecida Homiak

No algodão

Sintomas muito parecidos com os da soja louca II começaram a ser observados na cultura do algodão em meados de abril e começo de maio na região de Sapezal, no oeste do Mato Grosso.

As plantas foram encontradas dispersas, em diferentes áreas de cultivos com cultivares distintas, apresentando sintomas de abortamento das flores, engrossamento dos nós e superbrotamento, principalmente na região apical da planta.

Depois de várias suspeitas, foi levantada a hipótese de que poderia ser o nematoide Aphelenchoides sp. Seguindo esta hipótese, amostras da parte aérea das plantas com sintomas foram analisadas no laboratório de nematologia Nemat Solution, de Sapezal e as suspeitas se confirmaram com a presença do nematoide Aphelenchoide sp.

Para mim foi uma surpresa, pois acompanhei as coletas no campo e, apesar dos sintomas serem muito parecidos com os da soja louca II, não havia relatos desse nematoide na cultura do algodão até então. Quando coloquei a amostra extraída no microscópio já me deparei com minúsculos nematoides se movimentando ativamente, verifiquei a chave e não tive dúvidas – as características morfológicas do Aphelenchoides são muito peculiares, além de ser um nematoide específico de parte aérea.

Sintomas da soja louca na lavoura de algodão
Sintomas da soja louca na lavoura de algodão – Créditos Juliana Aparecida Homiak

 

Motivo de preocupação

Esse fato é motivo de alta preocupação, pois as opções de controle/manejo para esse nematoide na soja louca II ainda estão sendo pesquisadas, e não há muito o que fazer.

Mato Grosso se destaca como maior produtor de algodão no Brasil. Segundo o 8º Levantamento de Safra realizado pela Conab, a produção nacional pode chegar a 1,5 milhão de toneladas.

Sendo Mato Grosso responsável por mais de 60% dessa produção, com cerca de 628 mil hectares cultivados na safra 2016/17. A estimativa da Conab para o Estado do Mato Grosso está em 998 mil toneladas de pluma, 13,3% superior à da safra passada.

O custo de produção do algodão é considerado bem alto, e quanto mais problemas forem sendo encontrados, a tendência desse custo é aumentar cada vez mais.

Essa matéria completa você encontra na edição de Julho 2017 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua para leitura integral.

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