Perdas pós-colheita da cebola: o papel estratégico das caixas plásticas retornáveis

Rígidas, higienizáveis e compatíveis com tecnologias avançadas, as embalagens plásticas retornáveis reduzem drasticamente danos mecânicos, ampliam a vida útil dos bulbos e elevam a rentabilidade em toda a cadeia da cebola.

Publicado em 17 de dezembro de 2025 às 06h30

Última atualização em 16 de dezembro de 2025 às 21h49

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Ellen Toews Doll Hojo
Engenheira agrônoma, doutora em Produção Vegetal – UNESP/FCAV e professora – Centro Universitário Assis Gurgacz (FAG)
ellendollhojo@fag.edu.br

A cebola movimenta bilhões e é uma das hortaliças mais importantes do país — mas também uma das que mais sofre com perdas pós-colheita. No Brasil, parte do problema está na adoção de embalagens inadequadas, como sacarias e transporte a granel, que expõem os bulbos a amassamentos, abrasão e impactos invisíveis que evoluem para podridão.

Estudos da Embrapa apontam perdas entre 30 e 35% apenas na classificação e comercialização. Globalmente, a FAO estima perdas de até 40% na cadeia.

É nesse cenário que as caixas plásticas retornáveis (RPCs), fabricadas em PP ou PEAD, surgem como solução logística, sanitária e tecnológica. Rígidas, ventiladas e reutilizáveis, elas reduzem danos, facilitam rastreabilidade e permitem integração com tecnologias modernas — de atmosfera modificada a sensores IoT.

A fisiologia da cebola e sua vulnerabilidade a danos

O bulbo da cebola é fisiologicamente suscetível a lesões. Mesmo impactos leves, sem sinais visíveis, geram danos subcutâneos que funcionam como porta de entrada para fungos como Botrytis allii e Aspergillus niger.

Esses danos evoluem para podridões, brotação precoce e perda de firmeza — características críticas avaliadas pela indústria e pelo mercado.

Pesquisas destacam firmeza do bulbo e integridade da película como indicadores-chave de longevidade no armazenamento, reforçando a importância do uso de embalagens rígidas que absorvem e distribuem impactos, como as RPCs.

Quanto a caixa certa reduz as perdas?

O impacto é direto e mensurável. Sistemas tradicionais frequentemente ultrapassam 30% de perdas, enquanto países com armazenamento tecnificado, como a Holanda, chegam a menos de 8% graças ao uso de RPCs ventiladas e cura adequada. A melhoria não é apenas operacional: é econômica.

Em Santa Catarina, por exemplo, perdas estimadas pela Epagri alcançaram 30% em sistemas convencionais — números que poderiam ser reduzidos pela metade com embalagens e armazenamento adequados.

Design inteligente: ventilação, empilhamento e tecnologia embarcada

A arquitetura das RPCs é tão estratégica quanto o material que as compõe. Seu design ventilado permite a dissipação eficiente do calor gerado pela respiração dos bulbos, mantendo condições internas mais estáveis e seguras para o armazenamento.

A estrutura reforçada transfere o peso para a própria caixa, evitando que a carga pressione diretamente o produto e eliminando o esmagamento das camadas inferiores.

Além disso, a modularidade dessas embalagens facilita todo o fluxo logístico — da paletização ao empilhamento e à integração com câmaras frias — garantindo um manuseio mais rápido e padronizado.

Outro ponto decisivo é sua compatibilidade com tecnologias como atmosfera modificada e filmes biodegradáveis, que podem ser aplicados diretamente na caixa para prolongar a vida útil dos bulbos, reduzir a brotação e aumentar a segurança do armazenamento.

A Embrapa Instrumentação já testa o uso de compostos bioativos e nanotecnologia em embalagens inteligentes que interagem com o produto, inibindo deterioração.

Onion ripe plants growing in field, close up. Harvesting background with onion bulbs, closeup.

Rentabilidade e logística: quando a caixa vira lucro

O investimento inicial é maior, mas o retorno é rápido — entre uma e três safras, segundo análises econômicas. Isso porque:

– Reduz custo com embalagens descartáveis;

– Diminui significativamente perdas físicas;

– Aumenta o percentual de cebolas comercializadas como “caixa 1”, de maior valor;

– Facilita rastreabilidade e atende exigências legais do MAPA, ANVISA e CDC.

Redes varejistas já exigem padronização de embalagens, o que torna a adoção de RPCs fator competitivo.

Sustentabilidade e desafios de adoção

As RPCs duram mais de 10 anos, reduzindo resíduos e pegada de carbono. Porém, a adoção em larga escala depende de logística reversa eficiente; capacitação técnica e linhas de crédito (Pronaf, Inovagro, BNDES).

Algumas empresas divulgam especificações padronizadas e alinhadas às demandas do setor, auxiliando produtores na escolha do modelo ideal.

O futuro: sensores IoT, automação e visão computacional

O setor avança para embalagens inteligentes. Pesquisas indicam um futuro próximo onde caixas integradas a sensores monitoram temperatura e umidade em tempo real, emitindo alertas automáticos via IoT.

Sistemas de visão computacional, já usados em outras frutas, evoluem para detectar danos subclínicos em cebolas, permitindo classificação rápida e assertiva.

Painéis da Embrapa discutem o avanço da IA na pós-colheita, indicando uma transição para um manejo totalmente automatizado — com as RPCs como base física dessas tecnologias.

Divisor de águas

A adoção de caixas plásticas retornáveis não é apenas uma recomendação técnica: é um divisor de águas. Elas reduzem danos mecânicos, melhoram a qualidade comercial, prolongam o armazenamento, potencializam tecnologias modernas e aumentam a rentabilidade do produtor.

São, ao mesmo tempo, uma solução de biossegurança, sustentabilidade, eficiência logística e base estrutural para as inovações do futuro.

Quando a embalagem certa entra no processo, a cebola chega melhor ao mercado — e o lucro também.

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