Pulgões e lagartas: as principais pragas do sorgo

A introdução do pulgão M. sorghi ocorreu recentemente e forçou os produtores a aumentarem os cuidados com o manejo

Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 07h18

Última atualização em 15 de maio de 2025 às 16h00

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Cecília Czepak

Douglas Graciel
Doutorando em Bioengenharia – Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)
gracieldouglas@gmail.com
Simone Mendes
simone.mendes@embrapa.br
Ivenio Oliveira
ivenio.rubens@embrapa.br
Pesquisadores de Entomologia – Embrapa Milho e Sorgo

A lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) é a praga mais encontrada em lavouras de sorgo, seguida pela broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), também conhecida como broca-do-colmo. Esta, apesar de menos visível na lavoura, é causadora de grandes prejuízos.

Nos últimos anos, os pulgões têm alcançado status de praga-chave, juntamente com as lagartas. Três espécies têm sido relacionadas ao cultivo do sorgo. O pulgão-verde (Schizaphis graminum) e o pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis) têm convivência mais antiga com a cultura do sorgo no Brasil e, embora possam causar prejuízos, não despertaram maiores preocupações nos produtores.

Entretanto, mais recentemente outro pulgão passou a ser associado ao sorgo no país. Trata-se do pulgão-do-sorgo (Melanaphis sorghi), que vem causando grandes prejuízos aos produtores de todos os tipos de sorgo e em todas as regiões produtoras do Brasil.

Fotos: Simone Mendes

Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda)

A lagarta-do-cartucho é uma praga que, no Brasil, é particularmente relevante, devido à sua adaptabilidade a uma ampla variedade de plantas hospedeiras, sobrevivendo em mais de 350 espécies, o que torna o seu controle um grande desafio.

No sorgo, essa lagarta danifica as folhas, reduzindo a área fotossintética e prejudicando o crescimento e a formação de grãos. A infestação dessa praga durante os estágios iniciais do desenvolvimento do sorgo é especialmente prejudicial, porque pode levar à morte das plantas.

Quando o ataque ocorre após o estádio vegetativo V4 (quatro folhas completamente expandidas), a planta pode se recuperar. Contudo, como a injúria nas folhas pode comprometer a fotossíntese, o rendimento final dos grãos pode ser impactado, resultando em perdas de até 30% na produtividade do sorgo no caso de infestações graves, o que é constatado tanto na produção de grãos como na produção de forragem e biomassa.

Fotos: Simone Mendes

Broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis)

As larvas desta praga atacam diretamente os colmos do sorgo, perfurando e formando galerias internas que comprometem o desenvolvimento da planta. Em média, a infestação desta praga compromete em torno de 50% da produção.

As galerias causadas durante a alimentação da praga reduzem a translocação de nutrientes, causam quebra de colmos e acamamento das plantas. Tais galerias nos colmos causam enfraquecimento estrutural e, além disso, podem causar ainda a panícula branca, que ocorre quando a infestação é perto da panícula e impede o enchimento dos grãos.

Fotos: Simone Mendes

Pulgão-do-sorgo (Melanaphis sorghi)

É considerado o principal problema fitossanitário do sorgo na atualidade, com potencial para causar grandes prejuízos aos produtores. As infestações desta praga comprometem o desenvolvimento das plantas em todos os estádios de desenvolvimento.

Contudo, as maiores infestações são observadas após sete folhas completamente expandidas (estádio vegetativo V7). Essa infestação resulta em clorose e necrose foliar, redução do crescimento e, em casos graves, morte da planta.

Além disso, o honeydew, substância açucarada secretada pela praga, favorece o desenvolvimento de fumagina, fungo que coloniza a superfície foliar e colmo, a qual reduz a fotossíntese e interfere na colheita mecanizada.

Em híbridos suscetíveis, as perdas de produtividade podem chegar a 100%. Levantamentos realizados por Avelar et al (2022) apontaram a presença de M. sorghi causando prejuízos em todos os locais onde se cultiva sorgo no Brasil.

Alerta entre os produtores
A introdução do pulgão M. sorghi ocorreu recentemente e coincidiu com um momento em que o sorgo atingiu seu maior valor de mercado. Isso forçou os produtores a aumentarem os cuidados com o manejo de pragas nas lavouras. Estes passaram a adotar o monitoramento intensivo e têm buscado híbridos mais tolerantes aos pulgões, ao mesmo tempo em que têm investido em novas estratégias para o controle, principalmente inseticidas químicos e biológicos.

Para todas as pragas, o monitoramento das lavouras é uma das estratégias mais eficazes, uma vez que a detecção da praga no momento exato do nível de controle, antes que cause prejuízos, facilita o controle e evita a necessidade de aplicações excessivas de inseticidas químicos. No cenário atual do cultivo do sorgo, deve ser dada maior ênfase ao monitoramento dentro do manejo do pulgão, pois a população da praga cresce muito rapidamente. O tratamento de sementes com inseticidas químicos registrados para o cultivo do sorgo também é estratégia fundamental para o controle inicial desta e de outras pragas.

Obstáculos
Quanto à infestação da lagarta-do-cartucho, embora seja uma velha conhecida dos produtores, ainda há muita dificuldade no seu manejo. O uso de bioinseticidas à base de Bt (Bacillus thuringiensis) e Baculovírus pode ser uma ferramenta que, aliada ao controle químico e observando-se os níveis de controle, pode alcançar boa eficiência no controle desta praga. Vale lembrar que o manejo adequado desta lagarta ajuda também a manter sob controle a broca-do-colmo, praga que muitas vezes passa despercebida pelos produtores, mas que causa prejuízos.

Falhas fatais
Algumas falhas comuns no manejo de pragas do sorgo, como o uso excessivo ou inadequado de inseticidas, a falta de monitoramento regular nas lavouras, a não realização do tratamento de sementes e da adubação adequada podem levar à ocorrência de insetos resistentes aos inseticidas químicos, o que aumenta o custo de produção e onera ainda mais os produtores. Assim, ajustes nas estratégias de manejo de pragas são sempre bem-vindos para fazer frente às novas pragas que têm modificado o cenário de produção do sorgo no Brasil. Esses ajustes devem ser constantes, uma vez que a pesquisa em empresas públicas e privadas têm sempre focado em estratégias que minimizem problemas e facilitem a logística no campo.

Evolução urgente
Considerando o avanço da área de plantio de sorgo no Brasil, a ocorrência de novas pragas, como o pulgão-do-sorgo e as alterações constantes nas condições climáticas, entende-se que antigas ferramentas de controle podem não ser mais tão eficientes. Por isso, os avanços constantes nas pesquisas para manejo de pragas geram informações valiosas que precisam chegar aos produtores, técnicos e consultores. Torna-se necessário que haja investimento em constante capacitação técnica para uma adequada adoção do MIP (Manejo Integrado de Pragas) visando favorecer ações mais sustentáveis, como o controle biológico, para maior resiliência das lavouras de sorgo.

Agradecimentos: FAPEMIG pelo financiamento de pesquisas com manejo de pulgões na cultura do sorgo.

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