Resistência na ferrugem da soja ganha força

Crédito Daniel Cassetari

Publicado em 4 de junho de 2017 às 07h12

Última atualização em 4 de junho de 2017 às 07h12

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Claudia Godoy

Pesquisadora da Embrapa Soja e coordenadora do Consórcio Antiferrugem e integrante do Eagle Team

Crédito Daniel Cassetari
Crédito Daniel Cassetari

A resistência a fungicidas sítio-específicos para o fungo Phakopsorapachyrhizi, causador da ferrugem-asiática, continua a aumentar. No início de março, o FRAC (Fungicide Resistance Action Committee) relatou a presença da primeira mutação que confere resistência ao grupo das carboxamidas no fungo P. pachyrhizi.

Resistência a fungicidas sítio-específicos é um processo natural de seleção. A presença dessa mutação refletiu na redução de eficiência de alguns fungicidas em avaliações nos ensaios do Consórcio Antiferrugem.

Ação e reação

Os chamados fungicidas sítio-específicos para o controle da ferrugem possuem três modos de ação principais: os triazóis (inibidores da desmetilação – IDM); as estrobilurinas (inibidores de quinona externa – IQe) e, por fim, as carboxamidas (inibidores da succinatodesidrogenase – ISDH). A menor sensibilidade de P. pachyrhizi a fungicidas IDM e IQe já foi confirmada para o fungo no Brasil.

A notícia publicada pelo FRAC ressalta a necessidade urgente de adoção de estratégias que visam reduzir a pressão de seleção de resistência, uma vez que esses isolados ainda estão restritos a algumas áreas.

Essas estratégias envolvem a utilização de misturas com diferentes modos de ação, a rotação de mecanismos de ação e a associação a fungicidas multissítios, numa tentativa de atrasar a seleção de isolados resistentes e também garantir a eficiência de controle, caso haja uma falha do produto sítio-específico.

Obstáculos

A maior dificuldade hoje enfrentada no controle da ferrugem é a imprevisibilidade da população do fungo que estará presente na próxima safra. Como essa é uma doença com alto potencial de dano, o produtor deve trabalhar da forma mais segura possível para garantir um controle eficiente da doença e evitar redução de produtividade.

Os danos diretos com a ferrugem foram reduzidos ao longo dos anos com o melhor conhecimento de controle da doença. Hoje o custo atribuído à doença vem do controle com fungicidas, sendo estimado em US$ 2 bilhões.

Sintomas de ferrugem asiática em folha de soja - Crédito Ana Maria Diniz
Sintomas de ferrugem asiática em folha de soja – Crédito Ana Maria Diniz

Estratégias

Fungicidas representam uma das estratégias de controle. Para que o manejo seja eficaz, é preciso que o produtor adote todas as práticas, que incluem a utilização de cultivares de ciclo precoce; semeaduras no início da época recomendada; eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo de soja na entressafra ” também conhecido como “vazio sanitário“ e a utilização de cultivares com genes de resistência quando disponíveis.

Outro ponto importante que precisa ser levado em consideração é o monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura para que haja o emprego de fungicidas preventivamente ou logo no aparecimento dos sintomas.

Causas e consequências da ferrugem da soja

A doença é causada pelo fungo Phakopsorapachyrhizi, sendo, hoje, uma das doenças que mais têm preocupado os produtores de soja. O seu principal dano é a desfolha precoce, impedindo a completa formação dos grãos, com conseqüente redução da produtividade.

O nível de dano que a doença pode ocasionar depende do momento em que ela incide na cultura, das condições climáticas favoráveis à sua multiplicação. Os danos podem chegar a cerca de 70%. A doença foi diagnosticada pela primeira vez no Brasil em 2001. Devido à facilidade de disseminação do fungo pelo vento, a doença ocorre em praticamente todas as regiões produtoras de soja do País.

Danos

A doença apresenta-se inicialmente por pequenas pontuações de coloração mais escuras que o tecido foliar superior. Na parte inferior da folha, observam-se pequenas verrugas, chamadas de urédias, que é o local onde o fungo produz os seus esporos (uredósporos). Posteriormente, a coloração dessas urédias passa de castanho-claro para castanho-escuro e o tecido foliar nessa região vai ficando castanho-claro.

Controle

A obtenção de cultivares resistentes para a ferrugem da soja é um processo muito difícil, devido à alta variabilidade do fungo. Existem inúmeras raças de P. pachyrhizi – estudos realizados no Japão identificaram 18 raças do patógeno, para as condições daquele país.

Assim, uma cultivar descrita como resistente pode ter essa resistência quebrada facilmente. O controle químico tem se mostrado a medida mais eficiente de controle da doença.

No auxílio dessa prática de controle,devem-se evitar o plantio em épocas favoráveis a doença, o uso de cultivares precoces, para que o fungo não ataque plantas muito jovens, aumentando assim a severidade, e fazendo o diagnóstico mais precoce possível da ocorrência da doença na lavoura.

O controle de plantas invasoras também é importante, pois P. pachyrhizi, além da soja, parasita outras espécies de plantas inclusive daninhas.

Essa matéria você encontra na edição de junho 2017 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua.

 

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