Como estimar a produtividade do milho?

A estimativa da produtividade do milho é a chave para o planejamento eficaz e o futuro sustentável das colheitas.

Publicado em 16 de outubro de 2023 às 08h33

Última atualização em 15 de maio de 2025 às 16h06

Acompanhe tudo sobre Análise, cálculo, Grãos, Milho, produtividade e muito mais!

Emerson Trogello
Mestre em Produção Vegetal e professor – IF Goiano Morrinhos
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br

Danilo Ávila Jacinto
Engenheira agrônoma – ESALQ/USP

Ana Caroline de Araújo
Engenheira agrônoma – IF Goiano Morrinhos

Entender os componentes de produtividade das variadas culturas é fundamental, os quais são expressos pela relação entre a genética posicionada no sistema e o ambiente ofertado a esta genética.

Foto: Shutterstock

Buscar uma genética com alto teto produtivo e não ofertar condições de ambiente para a genética expressar seu potencial é reduzir a relação custo/benefício do sistema.

Pensando na genética e produtividade da cultura do milho, temos alguns componentes produtivos fundamentais:

1. População de plantas por unidade de área.

2. Prolificidade de cada indivíduo de planta.

3. Número de grãos por espiga (número de fileiras por espiga x número de grãos por fileira).

4. Peso de grãos (PMG).

A partir destes quatro componentes, podemos definir quantos “indivíduos” de milho temos na área e quanto cada um pode produzir. Sabendo isto, mais uma vez podemos definir a produtividade da cultura a campo.

Foco

A partir do conhecimento dos componentes de produtividade da cultura, o produtor deve focar em buscar o máximo em cada componente, lembrando sempre que eles “conversam” entre si.

Ou seja, não tem como em um primeiro momento o produtor elevar a população de plantas por área de forma indiscriminada, pois o ambiente tem um limite de fornecimento de recursos, o qual atende uma população específica de cada material.

Desta forma, se o produtor elevar a população além da capacidade de suporte do ambiente, há a tendência de reduzir o número de espigas por planta, de grãos por espiga ou mesmo de peso de grãos e, ao final do processo, terminar com uma produtividade aquém do esperado.

Sendo assim, temos que buscar uma população de plantas de milho ideal, bem como distribuir esta população em um arranjo adequado, reduzindo assim a competição intraespecífica (competição que ocorre entre mesmas espécies).

Potencial produtivo

Cada planta, tendo o espaço necessário e com fornecimento de nutrientes, água e luz, tem condições de expressar seu potencial genético. Aqui, ainda entra a necessidade de proteger o potencial produtivo de cada indivíduo de milho, ou seja, qualquer fator biótico que possa reduzir a produtividade de indivíduos de milho deve ser controlado ou evitado.

Dentre estes fatores bióticos, destacamos o controle de plantas daninhas (compete com a cultura de interesse, ocupando espaço e reduzindo a expressão de produtividade de cada indivíduo), os insetos-pragas (causam danos diretos, se alimentando das plantas de interesse econômico ou danos indiretos, como a transmissão de doenças) e as doenças (afetam o metabolismo das plantas, bem como reduzem a área fotossinteticamente ativa da cultura de interesse).

Controlar estes fatores é fundamental na preservação dos componentes produtivos da cultura do milho.

Métodos de cálculo de produtividade

Pensando em estimar a produtividade da cultura ao final de ciclo, a mesma pode ser realizada de algumas maneiras diferentes, porém, sempre utilizando os componentes produtivos como base e visando chegar a um só objetivo: quantos kg ha-1 do grão serão produzidos.

Para isso, é importante destacar que a população de espigas viáveis na área e a formação de cada uma tem impacto direto neste resultado, pois é a quantidade e qualidade de grãos que vão determinar o peso final por hectare.

Sendo assim, a cultura do milho exige atenção desde o planejamento e execução de plantio, manejo de fertilidade, disponibilidade hídrica, controle de pragas e doenças e toda a condução da lavoura que contribuirá para o número de fileiras por espiga e número de grãos por fileira, além da manutenção de população viável de plantas até o final do ciclo.

Essas boas práticas começam nas culturas anteriores ao milho, com um bom planejamento de rotação de culturas, manutenção da cobertura do solo, escolha ideal do híbrido e sua data de plantio, zoneamento climático, controle de plantas daninhas, construção da fertilidade do solo, etc.

Todos esses fatores exigem antecipação do cenário e elaboração de uma boa estratégia a médio e longo prazos. Com todo esse estudo e planejamento antecipados e uma boa condução da cultura, chega-se à fase de determinação do rendimento final.

Bases

O método de determinação da produtividade final da cultura do milho, tem como base os componentes produtivos da mesma. Inicialmente, é necessário aferir a população de plantas a serem colhidas.

Por vezes, temos como hábito definir uma população de plantas nos estádios iniciais de cultivo, entretanto, é fundamental entendermos que a produtividade é entregue no momento de colheita e, sendo assim, temos de avaliar quantas plantas viáveis chegaram até final de ciclo.

A metodologia é relativamente simples, se estende uma trena na linha de cultivo de milho. A pergunta que sempre é feita é: Quantos metros e em quantas linhas? Deve-se ter em mente que quanto maior a metragem e mais linhas avaliadas, mais assertiva será a mensuração.

Dez metros e em dez linhas aleatórias nos dão uma base interessante de um talhão uniforme. Digamos que neste somatório de 100 metros contamos um total de 350 plantas.

Sabendo-se do espaçamento entrelinhas, podemos extrapolar esta informação para plantas por hectare. Neste exemplo, tendo 0,5 m entre linhas, com uma população final de 70.000 plantas ha-1.

O próximo passo é saber quanto cada um destes 70.000 indivíduos produzirá de grãos. Para isto, inicialmente definimos a prolificidade da cultura, que indica o número de espigas por planta.

Por vezes, a planta de milho chega ao final de ciclo, entretanto, não forma espigas viáveis. Outras vezes, chega ao final de ciclo e consegue entregar duas espigas. Novamente, o ambiente e a genética vão impactar nesta prolificidade.

Ideal é que cada planta entregue uma espiga altamente produtiva. Para esta avaliação, podemos contar as espigas de cada planta amostrada anteriormente, ou mesmo selecionar plantas aleatórias na área.

Digamos que, se nos 100 metros avaliados anteriormente, e nas 350 plantas mensuradas, contabilizamos 320 espigas, teremos aqui uma prolificidade de 0,914. Ou seja, nem todas as plantas que chegaram ao final de ciclo entregaram um componente produtivo.

 Da população final de 70.000 indivíduos, devemos descontar as plantas que não forneceram espigas. Assim, temos ao total 64.000 espigas ha-1.

Amostragem

Para cada espiga, amostramos o número de grãos por espiga. Esta amostragem é feita pela contagem direta do número de fileiras de grãos por espigas e o número de grãos por fileiras observados.

Devemos, assim, buscar espigas representativas da área e contabilizar fileira e grãos por fileira. Caso tenhamos uma média de 14 fileiras de grãos por espiga e 45 grãos por fileira, teremos um total de 630 grãos espiga-1.

Para fecharmos os componentes, falta pesar os grãos. Temos como medida mais padrão o peso de mil grãos. O mesmo pode ser obtido pela contagem de alguns grãos de planta e posterior extrapolação para mil grãos. Caso haja algumas medidas de 100 grãos e se observe médias de 31,7 gramas, podemos extrapolar para 317 gramas a cada mil grãos. 

O resultado

Sabendo a população de plantas, a prolificidade, o número de grãos por espiga e o PMG, poderemos, enfim, calcular a produtividade da cultura. Se 1.000 grãos pesam 317 gramas, 630 grãos por espiga pesam 199,71 gramas.

Se temos 64.000 espigas por hectare, haverá uma produtividade final de 12.781,44 kg ha-1, ou 213 sacas ha-1. Claro que, a partir deste cálculo, teremos ainda de considerar a umidade presente no grão no momento da amostragem e as perdas por colheita, bem como toda a amostragem feita em grãos, desconsiderando as impurezas, ardidos e outros descontos.

Para este amostral, devemos considerar a variabilidade do talhão amostrado. Por exemplo, se forem coletados 10 pontos de amostragem e 80% da lavoura está uniforme, coletarei oito pontos nestes talhões, e os outros dois pontos coletarei nos 20% da lavoura onde foram identificadas plantas com menor potencial de produção.

 Essa quantidade de pontos coletados será mensurada de acordo com o tamanho e uniformidade da área. Para isso, existem ferramentas digitais, como por exemplo, voo de drones e os mapas com imagem de satélite do índice de vegetação e tom de verde na área, auxiliando na observação de talhões mais ou menos produtivos.

Tanto os melhores talhões quanto as partes mais prejudicadas da lavoura devem fazer parte da coleta, sendo o número de amostras proporcional ao tamanho destes talhões.

Efetividade

Enfim, chegamos a uma estimativa de produtividade e agora podemos planejar de forma mais efetiva a colheita, o armazenamento, as perdas possíveis no momento da colheita e diversas outras inferências no sistema.

Ainda, quando começamos a realizar estas avaliações safra após safra, vamos entendendo que todo o manejo deve favorecer estes componentes, podendo assim realizar manejos mais assertivos ao longo da safra posterior.

Sabendo a população de plantas, a prolificidade, o número de grãos por espiga e o PMG, poderemos, enfim, calcular a produtividade da cultura. Se 1.000 grãos pesam 317 gramas, 630 grãos por espiga pesam 199,71 gramas.

Se temos 64.000 espigas por hectare, haverá uma produtividade final de 12.781,44 kg ha-1, ou 213 sacas ha-1.

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