Alto teto produtivo e tolerância à cigarrinha

A cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) é, hoje, uma das que causa maior apreensão entre os produtores.

Publicado em 19 de junho de 2022 às 13h00

Última atualização em 19 de junho de 2022 às 13h00

Acompanhe tudo sobre Cigarrinha, Milho, Tolerância e muito mais!
Divulgação

Emerson Trogello
Professor – IF Goiano Campus Morrinhos
emerson.trogello@ifgoiano.edu.br

Giovana Cândida Marques
Engenheira agrônoma
giovana-candida.marques@unesp.br

A cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) é, hoje, uma das que causa maior apreensão entre os produtores, devido ao seu habito migratório, alta reinfestação e o potencial de perdas decorrentes do complexo de enfezamentos transmitidos pelos mesmos na fase inicial da cultura.

A cigarrinha do milho é motivo de prejuízo nas lavouras, assim como as demais pragas. A cigarrinha afeta o desenvolvimento, nutrição e a fisiologia das plantas infectadas, logo, compromete a produção. O enfezamento acarreta prejuízo, especialmente nos lugares mais quentes, justamente onde se cultiva mais de uma safra por ano.

A cigarrinha-do-milho transmite para as plantas de milho os agentes causais do enfezamento-pálido (espiroplasma), virose-da-risca e enfezamento-vermelho (fitoplasma). Para tal, a cigarrinha adquire o patógeno quando se alimenta de plantas infectadas e assim transmite o patógeno às plantas sadias, por meio da alimentação.

Estes patógenos devem circular e se reproduzirem dentro do inseto, para somente então poderem ser transmitidos para as plantas sadias. Portanto, é após um período de latência que a cigarrinha-do-milho vai conseguir transmitir o patógeno para a planta sadia.

A permanência da cultura no campo ao longo de todo o ano, seja por interesse econômico ou por plantas tigueras, certamente intensifica este problema.

A presença de adultos da cigarrinha-do-milho é visualmente perceptível pela inspeção do cartucho das plantas. A duração de vida das cigarras adultas é de cerca de dois meses, período em que cada fêmea oviposita até 600 ovos.

O inseto se alimenta da seiva da planta de milho e realiza postura sob a epiderme da folha, de preferência na nervura central de folhas do cartucho.

Sintomas

Os sintomas decorrentes dos enfezamentos incluem redução do porte das plantas (redução de entrenós) e da área foliar, multiespigamento, redução da altura de inserção da espiga e má formação de espigas e grãos, que afetam diretamente a produtividade da cultura.

Os sintomas de enfezamento-vermelho compreendem o avermelhamento a partir das margens e do ápice das folhas seguido de seca, enquanto o enfezamento-pálido apresenta estrias cloróticas, localizadas principalmente na base das folhas.

Os sintomas da virose-da-risca, por sua vez, representam-se por lesões na forma de pequenos pontos cloróticos alinhados, seguido de menor desenvolvimento e porte da planta.

Destaca-se, no entanto, que quanto mais cedo as plantas forem infectadas, mais cedo os sintomas dos enfezamentos e da virose-da-risca aparecem. Mas, tais sintomas tornam-se mais perceptíveis no período reprodutivo da cultura.

Perdas

A infestação por D. maidis vem aumentado em várias regiões do Brasil, e isso faz com que a doença do enfezamento ganhe cada vez mais importância. São observadas perdas de até 70%, ou mais, na produção em campos de milho em regiões como Bahia, Minas e Goiás. Notem que estas regiões apresentam clima ameno a quente na maioria do ano, bem como apresentam tendência a cultivos ao longo de todo ano, o que favorece a incidência do patógeno e consequente doença.

Em regiões em que o milho é cultivado apenas em uma safra, muitas vezes após a soja, pode haver menos danos causados pela cigarrinha, apesar de outros problemas, tais como o ataque de percevejos, se tornarem mais intensos.

A suscetibilidade do híbrido e a fase fenológica o qual foi infectado, são fatores de grande importância quando avaliamos o potencial de dano. Quanto mais cedo acontecer a infecção e mais susceptível for o material, maiores serão os danos ocasionados às plantas.

Manejo integrado

Como o potencial de dano se eleva quanto mais cedo for a infecção, é extremamente importante integrar técnicas de manejo. Fundamental é partir de uma genética tolerante/resistente e integrar tratamento de sementes e tratamento pós-emergência visando reduzir o potencial de dano. Para isto, é necessário, antes de tudo, entender a dinâmica da praga no seu ambiente, e se seu ambiente fornece condições ideais para a alta infestação.

É fundamental inserir o tratamento de sementes como uma técnica de escape da fase inicial. Tratamentos com grupo químico dos neonicotinoides, principalmente com os ativos tiametoxan e imidaclopride, apresentam alta eficiência e persistência no controle.

Aliado ao tratamento de sementes e à genética tolerante, é fundamental se atentar ao manejo químico/biológico pós-emergência. Atualmente, 34 produtos comerciais se encontram disponíveis ao tratamento de TS e pós-emergência do inseto-praga.

Estes produtos se distribuem em variados grupos químicos, como neonicotinoide, piretroide, metilcarbamato de oxima, organofosforado e metilcarbamato de benzofuranila. São comuns as pulverizações com misturas de produtos à base de neonicotinoides, piretroides e organofosforados, nas quais se espera eficiência de 90% para o controle do vetor.

Entre os principais ingredientes ativos utilizados para o controle de D. maidis estão tiametoxam, lambda-cialotrina, imidacloprido, acefato e clotianidina.

Controle biológico

Visando ainda o manejo integrado de pragas, a adoção do controle biológico da cigarrinha do milho é um importante aliado, podendo passar pelo uso do fungo entomopatogênico Beauveria bassiana ou mesmo o fungo Isaria fumosorosea (também chamado de Cordyceps fumosorosea), que é um excelente produto para ser utilizado em rotação com os produtos fitossanitários, diminuindo muito a população das cigarrinhas e contribuindo com um manejo mais integrado.

Além disso, pesquisas desenvolvidas apontam para outros fungos com grandes potenciais, caso do Metarhizium robertsii, bioinseticida natural obtido por fermentação líquida e desenvolvido por meio da parceria Embrapa e Embrapii/Esalq.

Mais uma vez, é fundamental reunir todas as ferramentas possíveis para o correto manejo do inseto-praga. Trabalhar a rotação de culturas, buscar épocas de semeadura em conjunto, escolher material genético resistente/tolerante, realizar um correto tratamento de sementes e unir o controle biológico com o controle químico em pós-emergência faz parte do arsenal que o produtor deve usar neste controle. Integrar as ações é fundamental e preciso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

Últimas publicações

1

Produção de grãos pode bater novo recorde no Brasil

2

Holding rural: o que é e quais os objetivos?

3

Tipos de abacate: conheça as variedades mais cultivadas no Brasil

4

Limão caviar: a fruta exótica que vale mais de R$ 2.000 por quilo

5

Mariangela Hungria ganha o “Nobel” da agricultura mundial

Participe do Nosso Canal no WhatsApp

Receba as principais atualizações e novidades do agronegócio brasileiro.

Assine a Revista Campo & Negócios

Tenha acesso a conteúdos exclusivos e de alta qualidade sobre o agronegócio.

Publicações relacionadas

produção de grãos

Produção de grãos pode bater novo recorde no Brasil

Futuristic technology trend in smart farm concept. Farmer use AI help agriculture to boost crop productivity with better plant health and weather monitoring And data is also gathered to further train

Holding rural: o que é e quais os objetivos?

Mariangela Hungria no laboratório

Mariangela Hungria ganha o “Nobel” da agricultura mundial

Aplicação de gesso agrícola em lavoura de café pela CultiBras

CultiBras: como a empresa transforma a fertilidade do solo em produtividade no café