No atual cenário agrícola, marcado por exigências crescentes de produtividade, uso racional de recursos e responsabilidade socioambiental, a irrigação inteligente e sustentável tem se consolidado como uma das principais estratégias de inovação no campo.
Trata-se de um conjunto de práticas e tecnologias que, integradas, promovem o uso eficiente da água e da energia, garantindo não apenas a viabilidade econômica das lavouras, mas também a preservação ambiental e a resiliência dos sistemas produtivos.
A evolução do sistema
Um sistema de irrigação é considerado inteligente quando é capaz de operar de forma automatizada e responsiva, utilizando dados em tempo real para ajustar o fornecimento hídrico de acordo com as necessidades específicas das plantas, das condições climáticas e da umidade do solo.
Essa inteligência operacional, muitas vezes integrada a plataformas digitais e sensores, permite que o agricultor tome decisões mais precisas e assertivas, reduzindo desperdícios e otimizando insumos.
Tecnologias ditam as regras
Dentre as tecnologias mais relevantes nesse contexto, destacam-se os sensores de umidade do solo, as estações meteorológicas conectadas, os sistemas de telemetria, os softwares de gestão agronômica e os sistemas de automação controlados por inteligência artificial.
Essas ferramentas, além de monitorarem continuamente o ambiente agrícola, possibilitam que a irrigação ocorra no momento ideal, na quantidade exata e no local certo. O resultado é uma significativa economia de água e energia elétrica, aliando produtividade com sustentabilidade.
O monitoramento em tempo real é um dos pilares dessa nova era da irrigação. Com ele, o produtor não depende mais de estimativas ou intervenções manuais. A resposta do sistema é imediata às variações climáticas ou às alterações nas necessidades hídricas das plantas, permitindo um manejo mais eficiente e seguro.
Além disso, a coleta e análise de dados ao longo do tempo possibilitam a construção de históricos produtivos, fundamentais para o planejamento de safras e o uso estratégico dos recursos naturais.

Automação invade o campo
Outro avanço que tem transformado a realidade do campo é a utilização de baterias e painéis solares em sistemas de irrigação, conferindo autonomia energética a propriedades localizadas em regiões remotas, onde o acesso à rede elétrica é limitado ou inexistente.
Essa independência energética, além de reduzir os custos operacionais, permite a continuidade das atividades mesmo em situações adversas, contribuindo para a segurança alimentar e o fortalecimento das cadeias produtivas locais.
Na prática, a adoção de sistemas de irrigação inteligentes tem gerado impactos expressivos sobre a produtividade e a rentabilidade das propriedades rurais. Reduções nos custos com energia elétrica, menor consumo de água, aumento do rendimento por área e melhoria na qualidade dos produtos são alguns dos benefícios mais reportados pelos produtores.
Além disso, o monitoramento e a automação reduzem a necessidade de mão de obra especializada, otimizando os processos e diminuindo riscos operacionais.
A irrigação de precisão, por sua vez, é uma aliada estratégica no atendimento às exigências ambientais e econômicas que cercam o agronegócio moderno. Ela promove o uso racional dos recursos naturais, minimiza os impactos sobre os corpos hídricos e o solo e contribui para o cumprimento de normas ambientais e certificações exigidas por mercados cada vez mais exigentes e conscientes.

Culturas em destaque
Entre as culturas de hortaliças e frutas (HF), destacam-se aquelas de maior sensibilidade ao estresse hídrico e às variações ambientais, como o morango, o tomate, a alface, a cenoura e o melão.
Essas espécies apresentam alta resposta produtiva à irrigação precisa e eficiente, o que justifica os investimentos em tecnologia. Nessas culturas, pequenas variações na lâmina de irrigação ou no momento de aplicação podem comprometer não apenas a produtividade, mas também a qualidade comercial do produto final.
Diante desse cenário, investir em irrigação inteligente e sustentável deixou de ser uma opção e passou a ser uma exigência técnica e mercadológica. A inovação no manejo hídrico é hoje um diferencial competitivo que posiciona o produtor rural como protagonista de uma agricultura mais eficiente, resiliente e comprometida com o futuro do planeta.
Segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), a agricultura irrigada representa cerca de 72% da demanda hídrica do país. Neste cenário, tornar o uso da água mais eficiente não é apenas uma questão técnica, mas também estratégica para garantir a segurança hídrica e alimentar.
Estudos apontam que sistemas inteligentes podem reduzir o consumo de água em até 30%, ao mesmo tempo em que aumentam a produtividade em 15% a 25%, especialmente em cultivos de ciclo curto.
No aspecto energético, a utilização de painéis fotovoltaicos integrados aos sistemas de bombeamento tem sido cada vez mais comum. Além de garantir autonomia, essa fonte renovável permite uma economia de até 70% nos custos com energia elétrica. Há ainda incentivos fiscais e linhas de crédito específicas para aquisição de tecnologias sustentáveis, como os oferecidos pelo Programa ABC+ do Plano Safra.

Popularização dos sistemas
Além do uso de sensores e automação, plataformas baseadas em internet das coisas (IoT) têm se popularizado entre produtores de médio porte. Dispositivos conectados fornecem dados sobre temperatura, umidade relativa do ar, radiação solar e condutividade elétrica do solo, permitindo ajustes precisos na irrigação e fertilização (fertirrigação), otimizando também o uso de nutrientes.
Para garantir o sucesso na implementação da irrigação inteligente, é recomendável iniciar com um diagnóstico da área produtiva, considerando tipo de solo, topografia, necessidades hídricas da cultura e disponibilidade de recursos financeiros.
A assistência técnica especializada tem papel fundamental nesse processo, ajudando o produtor a selecionar o sistema mais adequado, seja por gotejamento, aspersão, pivô central ou microaspersão, conforme a cultura e o ambiente.
Caso a caso
A cultura do morango, por exemplo, tem sido uma das mais beneficiadas por sistemas de irrigação inteligente em ambiente protegido. A irrigação por gotejamento associada ao controle automático da fertirrigação tem proporcionado ganhos expressivos de produtividade e qualidade, com frutos mais uniformes, maior teor de açúcares e menor incidência de doenças.
Já em hortaliças folhosas, como alface e rúcula, o uso de sensores capacitivos e atuadores automáticos tem permitido colher até duas semanas mais cedo em relação ao manejo convencional, com economia superior a 40% em água.
Tais resultados se traduzem em ciclos mais curtos, maior frequência de plantios e incremento direto na receita bruta do produtor.
Autoria:
Luiz Fabiano Palaretti 
Doutor em Recursos Hídricos e professor – UNESP/FCAV 
luiz.f.palaretti@unesp.br  
Fabio Olivieri de Nobile 
Doutor em Fertilidade do Solo e professor – Centro Universitário da Fundação Educacional de Barretos (UNIFEB) 
fabio.nobile@unifeb.edu.br


 
								


