Variedades velhas ou novas – Por que mudar?

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Publicado em 13 de setembro de 2017 às 19h59

Última atualização em 13 de setembro de 2017 às 19h59

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Amélio Dall’Agnol

Engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja

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Sei da dificuldade que muitos colegas melhoristas de plantas têm para admitir a possibilidade de que uma boa variedade de soja do passado possa competir com as melhores variedades do presente, quando apenas o fator produtividade for considerado na equação. Isto porque variedades muito produtivas do passado foram retiradas do mercado por outros defeitos genéticos, que não o seu desempenho produtivo. Na ausência dos fatores restritivos que as condenaram no passado essas variedades poderiam, eventualmente, ser cultivadas hoje e competir, em igualdade de condições, com as mais plantadas atualmente.

Eu também sou melhorista de plantas, especialização que obtive nos meus cursos de Mestrado e Doutorado na Universidade da Flórida, EUA. Pois foi da Flórida que veio Bragg, a variedade de soja mais cultivada na região sul do Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Posteriormente, mesmo continuando a ser muito produtiva, essa variedade foi descartada por causa da sua vulnerabilidade às doenças Mancha olho de rã e Cancro da haste, problemas inexistentes no Brasil quando da sua introdução.

O que teria acontecido com a soja Bragg, sem a presença dessas duas enfermidades? Talvez ela ainda estivesse sendo cultivada com êxito, juntamente com outras centenas de novas variedades que vieram depois dela e foram igualmente descartadas, o que nos permite intuir que o que mais motiva a troca de variedades no mercado de sementes não é a sua capacidade produtiva, mas outras características, como o ciclo mais adequado para o sistema de produção vigente (milho, feijão ou algodão 2ª safra), um melhor controle de plantas daninhas (soja RR), resistência a pragas (soja Bt) e o porte ereto e reduzido (menos de 90 cm) das plantas, entre outras qualidades.

Desde o início dos programas de melhoramento genético da soja no Brasil, mais de 1.300 variedades foram desenvolvidas, registradas e descartadas no país por motivos diversos, entre os quais a produtividade, mas não só.

Os pesquisadores que atuam no desenvolvimento de novas sementes precisam, portanto, estar permanentemente antenados e prontos para intervir na solução de problemas novos: novas pragas e doenças, entre outros, além de estarem prontos para aproveitar oportunidades de incorporar novas características potencialmente desejadas pelo setor produtivo de soja, sem desconsiderar que a variedade é apenas um dos muitos fatores que contribuem para uma boa colheita.

O que levar em conta

Uma variedade geneticamente superior não significa muita coisa, se ela não vier acompanhada com os demais fatores de produção e, assim, poder expressar o seu máximo potencial genético, o que só acontece quando as chuvas ocorrerem na quantidade e no momento certo, os nutrientes forem disponibilizados segundo as necessidades indicadas pela análise do solo, houver ausência de compactação do solo, controle de plantas daninhas, de pragas e de doenças, entre outros.

Ou seja, a utilização de variedades modernas, com alto potencial produtivo, deve ser acompanhada de práticas de manejo que disponibilizem às plantas as condições ambientais necessárias à expressão desse potencial.

Não faz sentido investir numa Ferrari para rodar em estrada de chão.

Essa matéria você encontra na edição de setembro 2017 da revista Campo & Negócios Grãos. Adquira já a sua.

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