Autoria:
Charles Cardoso Santana, Engenheiro Agrônomo; Dr. Engenharia Agrícola/Agricultura de Precisão, Professor pesquisador na EPAMIG ITAP.
Fábio Oseias dos Reis Silva, Engenheiro Agrônomo, Dr. Agronomia/Fitotecnia; Professor pesquisador na EPAMIG ITAP.
Ramon Ivo Soares Avelar, Engenheiro Agrônomo, Dr. Agronomia/Fitotecnia, Professor pesquisador na EPAMIG ITAP.
Ana Flávia de Freitas, Engenheira Agrônoma, Dra. Agronomia/Fitotecnia, Professora pesquisadora na EPAMIG ITAP.
A aplicação aérea de defensivos agrícolas tem evoluído de forma significativa com o surgimento de novas tecnologias, entre elas os drones pulverizadores. Esta tecnologia proporciona uma abordagem inovadora e eficiente para a aplicação de defensivos agrícolas, fertilizantes, pesticidas granulados, sementes e outros produtos agrícolas nas lavouras (Dalbianco & Daniel, 2023). O surgimento dessa tecnologia, atende, precisamente, a uma demanda crescente por aplicações mais seguras, sustentáveis, precisas e adaptáveis à realidade de produtores com diferentes dimensões produtivas. Com o aumento do custo dos insumos e a necessidade de uso mais racional, surge a importância de ferramentas que possibilitem intervenções pontuais, no momento adequado e com menor desperdício de recursos.
Os drones equipados com sistema de pulverização estão sendo utilizados, tanto em lavouras com acesso restrito quanto em áreas convencionais, por pequenos e médios produtores que buscam, além de autonomia, economia e maior controle operacional. A decisão entre investir na compra de um drone ou optar pela contratação de serviços especializados deve considerar fatores práticos como a estrutura disponível, o tipo de cultura, a frequência de aplicações por safra e a realidade técnica e econômica da propriedade, entre outros.
Diante disso, este artigo apresenta uma visão técnica e experiências de campo para orientar o produtor na tomada de decisão. São abordados aspectos com as vantagens operacionais dos drones até os custos envolvidos, os cuidados com a regulamentação e os impactos agronômicos e ambientais das aplicações aéreas com essa tecnologia.
Vantagens operacionais e aplicações recomendadas
Os drones de pulverização estão se tornando cada vez mais importantes no setor agrícola, em razão de suas diversas aplicações que não se limitam mais apenas às áreas de relevo acidentado e difícil acesso, como por exemplo, os cultivos de café em regiões montanhosas. Embora tenham ganhado visibilidade, principalmente em lavouras com, obstáculos, acesso limitado, e outros, hoje são amplamente utilizados também em áreas mecanizáveis e de topografia regular, especialmente por pequenos e médios produtores.
Uma das principais vantagens dos drones pulverizadores está na flexibilidade e precisão da operação, especialmente em situações onde o acesso com tratores se torna limitado, mesmo em áreas de topografia plana. Esse é o caso de o caso de cultivos como a cana-de-açúcar e o arroz irrigado, em que o porte é elevado ou o excesso de umidade no período chuvoso podem, temporariamente inviabilizar o tráfego de máquinas.
O tráfego de tratores acoplados com equipamentos de pulverização é mais preocupante nesse período, pois contribui para a compactação do solo devido à maior frequência de patinagem dos pneus. Nessas condições, os drones se destacam por permitirem aplicações logo após eventos de chuva ou em momentos críticos de infestações, favorecendo o uso de produtos fitossanitários dentro da janela ideal de controle, de forma pontual e precisa, sem ocasionar amassamentos, deslizamentos ou danos físicos às plantas, ou seja, mantendo a eficiência da operação mesmo em cenários adversos.
Além disso, é importante destacar a capacidade de utilização dos drones de forma rápida, possibilitando não perder o momento ideal de aplicação, algo determinante para o controle eficiente de pragas e doenças em culturas de alto valor agregado ou sensíveis a atrasos nas intervenções, a exemplo do tomateiro e o morango. Outra vantagem é a redução dos impactos negativos ao solo e às plantas, ou seja, diminuição da compactação do solo, preservando sua estrutura física favorecendo a saúde das plantas, o que contribui para a qualidade da safra e para a longevidade produtiva das lavouras.
Importante destacar também, que as aplicações por meio de drones apresenta uma solução eficaz em lavouras com espaçamentos muito adensados, onde o tráfego de tratores se torna impraticável.
Os drones de pulverização também são úteis em aplicações localizadas, com base em mapas de prescrição agronômica ou imagens NDVI, otimizando o uso de insumos e focando o tratamento nas áreas que realmente necessitam. A versatilidade dos drones faz com que sua aplicação seja válida não apenas em locais de difícil acesso, mas em diferentes contextos produtivos, desde que tecnicamente justificada e operacionalmente viável.
Equipamentos e infraestrutura envolvida
A decisão da compra ou não de um drone pulverizador vai além das características do equipamento em si. Além de modelos amplamente conhecidos como o DJI Agras T50 e o XAG P100, que comportam tanques de 20 a 40 litros com autonomia de 10 a 12 minutos por voo, existem drones de maior capacidade como o KING‑150 MAX, destaque recente da América Latina. Com impressionantes 120 litros de capacidade para líquidos (e ainda 170 L para sólidos), esse modelo representa uma nova categoria de equipamento para quem precisa cobrir grandes áreas por voo.
Independente da capacidade, todos exigem suporte sólido: como uma estrutura para operação em campo, base RTK, baterias extras, gerador, carregadores rápidos, misturadores de calda, além de registro junto à ANAC, ANATEL, MAPA, órgão de defesa agropecuária do estado, formação do piloto (com certificação CAAR) e rotina de manutenção preventiva.
O investimento inicial, apenas com a aquisição do drone podem variar entre R$ 70 mil e R$ 200 mil. Esse valor pode ser maior, conforme características do drone, a exemplo do KING‑150 MAX ou dos acessórios adicionais. No entanto, tende a ser recuperado em duas a três safras, quando há operação frequente.
Por isso, antes de tomar a decisão de compra, o produtor precisa ponderar vários fatores. Dentre os principais fatores, destacam-se: a) frequência de aplicações b) tamanho da área a ser coberta c) topografia do terreno/propriedade d) infraestrutura já disponível na propriedade e e) qualificação de pessoal para pilotar o drone e preparo dos produtos (calda) a serem aplicados.
Assim, em propriedades menores ou com aplicações esporádicas, o alto custo de aquisição e de manutenção pode não compensar. Nesses casos, a terceirização do serviço passar a ser uma opção mais adequada.
Contratação de serviços especializados
A contratação de empresas para a aplicação de defensivos com drones vem se tornando como uma opção estratégica para produtores que não possuem infraestrutura própria ou que realizam pulverizações com baixa frequência. Além da praticidade, essa alternativa permite ao produtor pagar apenas pelo serviço prestado, sem custos fixos com compra de equipamentos, manutenção, formação de operadores ou trâmites legais. Nesse processo, essas empresas experientes também ajustam os parâmetros operacionais, como altura de voo, tipo de bico, vazão e tamanho de gotas, de acordo com o produto, a cultura, estágio da lavoura e das condições ambientais, de modo a garantir uma aplicação tecnicamente eficiente e segura.
No entanto, é fundamental que o produtor esteja atento à regularidade e à qualidade dos serviços prestados pela empresa a ser contratada. Mesmo quando o serviço é terceirizado, falhas no cumprimento de exigências legais podem gerar responsabilidades compartilhadas. Por isso, é necessário verificar se a empresa está registrada nos órgãos reguladores, se os pilotos têm certificação válida, se há seguro para as operações e se os equipamentos estão em conformidade com as normas técnicas e legais.
Essa verificação prévia ajuda a prevenir problemas legais ou agronômicos, assegura que a aplicação seja realizada de forma segura e eficiente e contribui para a rastreabilidade e credibilidade das operações agrícolas realizadas com drones.
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