Viabilidade: Manejo de produção orgânica de couve-flor

Publicado em 24 de março de 2020 às 14h37

Última atualização em 24 de março de 2020 às 14h37

Acompanhe tudo sobre Cálcio, Hortifrúti, Mecanização, Plantio, Semente orgânica e muito mais!

Autores

Talita de Santana Matos
Engenheira agrônoma, doutora e pós-doutoranda – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRRJ)
talitasmatos@gmail.com
Elisamara Caldeira do Nascimento
Engenheira agrônoma, doutora e pós-doutoranda – Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)
elisamara.caldeira@gmail.com
Glaucio da Cruz Genuncio
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia/Ciência do Solo e professor de Fruticultura – UFMT/FAA/DFF
glauciogenuncio@gmail.com
Crédito Miriam Lins

A couve-flor teve origem em clima temperado, sendo plantas bienais que exigem frio para passar do estádio vegetativo para o reprodutivo. É uma planta alógama e comporta-se como uma cultura indiferente ao fotoperíodo, sendo a temperatura o fator agroclimático mais limitante.

Graças aos programas de melhoramento genético que produziram cultivares e híbridos resistentes e adaptados a temperaturas elevadas, pode ser produzida o ano todo em diversas regiões do País. As variedades produzidas no Brasil podem ser divididas em dois grupos: um com as cultivares adaptadas ao plantio no outono-inverno e o outro abrangendo as cultivares de primavera-verão, pouco exigentes em frio, que se desenvolvem e produzem sob temperaturas mais elevadas.

Possui folhas alongadas de limbo elíptico. As raízes se concentram nos primeiros 20-30 cm de profundidade. A inflorescência (cabeça) se desenvolve sobre um caule curto e é formada a partir do conjunto de primórdios florais, que se transformam, posteriormente, em botões florais, podendo ter coloração branca, creme, amarela, e mais recentemente roxa e verde, que se caracteriza pela parte comestível da planta.

Benefícios nutracêuticas

De acordo com alguns pesquisadores, apresenta características nutracêuticas, com inúmeros benefícios para a saúde, como boa fonte de vitaminas A, B e C, ácido fólico, vitamina K, B6, B1, B2, B3 e E, além de ser rica em potássio, fósforo, cálcio, magnésio, manganês, fibras e pobre em calorias, possuindo 93% de água.

Apresenta propriedades mineralizante, fortificante, oxidante e, graças ao elevado conteúdo de cálcio, é importante para a boa formação dos ossos.

O sistema orgânico de produção pode ser caracterizado como a procura por maximizar os processos naturais. Para isso, utiliza práticas agrícolas mais ecológicas, como a exclusão do uso de agrotóxicos, fertilizantes solúveis e reguladores de crescimento. Também se fundamenta em técnicas agroecológicas, principalmente baseadas no manejo da matéria orgânica.

Desta forma, tem como proposta ser um sistema eficiente na utilização de recursos naturais e, por estes e outros motivos, se contrapõe ao modelo convencional, em geral melhorando a qualidade e a conservação dos solos.

Normas para a produção orgânica

De acordo com a Instrução Normativa nº 64 de 12/2008 (MAPA), para que uma área seja considerada orgânica, deverá ser obedecido um período de conversão que será estabelecido pelo organismo de avaliação da conformidade (OAS) ou pela Organização de Controle Social (OCS).

A produção de hortaliças em sistema orgânico requer tecnologias que respeitem os processos ecológicos, que promovam o aumento da matéria orgânica do solo e que sejam poupadoras de energia. Para tanto, é necessário a realização de análises periódicas de solo, para a avaliação de sua fertilidade, afim de determinar as melhores práticas de manejo, incluindo a minimização de uso da mecanização, cobertura do solo, cultivo mínimo, plantio direto, rotação e consórcio de culturas.

Para a adubação, sempre que possível deve-se priorizar a utilização de recursos locais, bem como subprodutos orgânicos que proporcionem o fornecimento de nutrientes, de forma ampla e diversificada, optando pela ciclagem de nutrientes por meio de restos culturais, compostos, resíduos orgânicos e adubações verdes com leguminosas ou plantas espontâneas.

Nutrição orgânica

A adubação orgânica é realizada fundamentalmente com a aplicação de matéria orgânica. Esta pode ser adicionada ao solo via compostagem e diversos outros fertilizantes orgânicos. Os fertilizantes permitidos para a agricultura orgânica podem ser classificados como: fertilizantes orgânicos simples: fertilizante de origem animal ou vegetal (estercos animais, torta de mamona, borra de café); fertilizantes orgânicos mistos: produto da mistura de dois ou mais fertilizantes orgânicos simples (cinzas (fonte principalmente de K) + torta de mamona (fonte principalmente de N); fertilizantes orgânicos compostos: fertilizante não natural, ou seja, obtido por um processo químico, físico, físico-químico ou bioquímico, sempre a partir de matéria-prima orgânica, tanto vegetal como animal.

Pode ser enriquecido com nutrientes de origem mineral (composto orgânico, vermicomposto (húmus de minhoca)) e fertilizantes organominerais: não passam por nenhum processo específico, são simplesmente o produto da mistura de fertilizantes orgânicos (simples ou compostos) com fertilizantes minerais.

Para a agricultura orgânica, alguns fertilizantes minerais (não processados quimicamente) e de baixa solubilidade são permitidos pela legislação. As doses de calcário e de fertilizantes são definidas a partir da análise de solo e da necessidade da cultura.

Adubação verde

Os adubos verdes podem ser plantados no sistema de rotação de cultura. Sendo assim, os mesmos devem ser plantados antes do cultivo da couve-flor, cortados no período da floração, tendo sua biomassa deixada sobre o solo, o que favorece a manutenção da umidade e da temperatura devido à cobertura do solo.

Além do possível efeito supressor e/ou alelopático sobre várias plantas espontâneas, também podem ser incorporadas ao solo, para promover maior contato com os organismos do perfil e favorecer uma decomposição mais acelerada. Para o cultivo do adubo verde em consórcio com hortaliças, deve-se observar o porte das plantas e a época de plantio do adubo verde, em relação à da cultura, para que não haja competição.

A escolha do cultivar de couve-flor vai depender das condições climáticas da região e da época de plantio (cultivares outono/inverno ou primavera/verão). Estas podem ser agrupadas conforme suas respostas à temperatura, com base na formação de cabeças.

Mudas

A produção de mudas é uma das etapas mais importantes da produção de hortaliças, pois a qualidade da muda determina o desempenho produtivo das plantas. Algumas empresas já produzem substratos apropriados; entretanto, a maioria dos substratos comerciais não é recomendada para sistemas orgânicos, não sendo registrados e, portanto, não permitidos para utilização em sistema orgânico de produção.

Antes de usar os substratos produzidos com resíduos orgânicos obtidos nas propriedades agrícolas, é importante submetê-los ao processo de solarização, tratamento que se baseia no aquecimento do substrato por meio da energia solar, para a sua desinfecção e inativação de estruturas e sementes de plantas espontâneas, a menos que tenha sido produzido por processo adequado de compostagem dos materiais orgânicos.

A compra de mudas também merece cuidados especiais. É imprescindível que estas sejam produzidas em viveiros reconhecidos e que produzam mudas para sistema orgânico.

O transplante das mudas de couve-flor deve ser realizado assim que estas atingirem cerca de 10 cm de altura, apresentando de quatro a cinco folhas definitivas. Isso deve ser feito imediatamente após o preparo e a adubação na cova.

Detalhes importantes

A couve-flor é altamente exigente em água, razão pela qual se irriga em caráter suplementar, mesmo durante o período chuvoso, em curtos períodos de seca.

O espaçamento entre plantas deve ser mais largo, pois as plantas de couve-flor são grandes. Por isso, considere-se um espaçamento de 0,45 m a 0,50 m entre elas e 0,80 m a 0,90 m entre ruas, quando a finalidade é a produção para mercado “in natura”.

Para o controle do mato (quando este for necessário), adotar práticas de capina manuais ou roçadas. O mato pode servir como cobertura viva ou morta.

Algumas práticas são recomendáveis para o manejo de plantas “invasoras”, como a utilização de mudas/sementes comprovadamente isentas de sementes invasoras, uso de plantas de cobertura com efeito alelopático, rotação e consorciação de culturas e adubos verdes.

Para o manejo de pragas e doenças, recomenda-se: diversificação do sistema produtivo (policultivos); adequação e seleção de cultivares; nutrição adequada; manejo cultural (cultivo em faixa, antecipação ou retardamento das épocas de plantio, cultivo, colheita e manejo do solo; uso de bordadura; técnicas que utilizem métodos físicos e mecanismos como armadilhas luminosas e/ou mecânicas e adesivos); cultivo de plantas repelentes; cercas-vivas; erradicação de plantas vetores de fitopredadores; uso de medidas de ação de combate, como manejo integrado de pragas e doenças; uso do controle biológico (usando fungos, bactérias, vírus indicados para controle) e de controle alternativo (caldas e extratos de plantas que são recomendados pela legislação).

Colheita

A colheita ocorre geralmente entre os 75 e 100 dias da semeadura, para as cultivares de primavera-verão. Já as cultivares de outono-inverno produzem com 90 a 115 dias do semeio. No que se refere ao ponto de colheita, as cabeças de couve-flor são colhidas quando atingem o seu máximo desenvolvimento, mas antes que iniciem a formação de pelos.

 É importante ressaltar a importância de acompanhamento de profissionais especializados para o suporte ideal ao desenvolvimento do sistema de produção.

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