Uso de herbicidas na produção de soja cresceu 2.274%, revela estudo

Aumento registrado mostra a importância da transição do modelo produtivo da commodity.
Imagem ilustrativa de soja/Embrapa Soja
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A liderança do Brasil no mercado global de soja se deve em grande parte à adoção do plantio direto. Ao deixar de revolver o solo, os produtores brasileiros do grão conseguem reduzir a erosão, aumentando a capacidade de absorção de água nas áreas de plantio e a manutenção dos nutrientes. O problema é que essa prática é adotada amplamente no país de forma isolada, sem ser acompanhada de outros procedimentos para conservação e regeneração do solo, como a rotação de culturas. 

Entre as consequências da adoção generalizada do plantio direto incompleto está o uso cada vez maior de herbicidas para o controle de plantas daninhas nas lavouras de soja, de acordo com o estudo “Como a soja pode liderar a transição da agricultura brasileira?”, lançado nesta segunda-feira (13) pelo Instituto Escolhas em parceria com o Instituto Folio. Em 30 anos, a utilização estimada de herbicidas na produção do grão cresceu 2.274%. Entre 1993 e 2023, a área com plantio direto aumentou 11% ao ano, mesmo percentual de crescimento do uso de herbicidas sintéticos na soja, segundo o levantamento. 

“Sem considerar sistemas integrados, como é o caso do Sistema de Plantio Direto, a prática do plantio direto isolado pode gerar consequências negativas para o solo, como a compactação e o aumento do uso de herbicidas para controle de plantas daninhas. Estamos substituindo um impacto negativo (causado pelo revolvimento do solo) por outro (causado pelo uso intensivo de agrotóxicos)”, afirma Jaqueline Ferreira, uma das coordenadoras do estudo do Escolhas.

“A implementação do Sistema de Plantio Direto, que inclui a prática de rotação de culturas, é o caminho para a redução do uso de herbicidas sintéticos nas lavouras de soja, especialmente em um contexto em que ainda não há bioherbicidas disponíveis no mercado”, afirma. Jaqueline Ferreira lembra ainda que o uso intensivo de herbicidas reduz a composição microbiana do solo, o que pode impactar negativamente em sua capacidade produtiva. 

O uso crescente de insumos sintéticos afeta também a rentabilidade do produtor, conforme apontou estudo do Escolhas divulgado em junho passado. Em 1993, com 1 kg de agrotóxico se produzia 23 sacas de soja. Em 2023, a mesma quantidade de agrotóxico conseguia produzir apenas sete sacas. Entre 2013 e 2023, os gastos com sementes, agrotóxicos e fertilizantes cresceram 8% ao ano no país. 

O novo estudo entrevistou 34 agricultores dos principais estados produtores de soja (Mato Grosso, Goiás e Paraná) e visitou suas propriedades, que variam de 16 hectares a 19 mil hectares – no total, somam 88 mil hectares. A relação inclui produtores convencionais, orgânicos e regenerativos. O foco foi identificar quais práticas eles implementam ou deixam de implementar para conservação/regeneração do solo e redução de insumos sintéticos (agrotóxicos e fertilizantes). 

Todos os produtores convencionais entrevistados adotam o plantio direto, mas apenas 31% deles implementam a rotação de culturas, 23% têm diversidade de raízes vivas, 15% fazem adubação verde e 15% adotam cobertura viva do solo. O modelo produtivo consolidado não mostra sinais de avanço para a implementação de um sistema de plantio direto completo. 

O esgotamento do modelo produtivo da soja, evidenciado pelo estudo anterior, coloca em risco a liderança mundial do Brasil na produção do grão. Mas por ser a principal cultura agrícola do país – ocupando 46% do total da área cultivada em 2023 –, a soja pode ser a grande protagonista da transição da agricultura brasileira para modelos mais sustentáveis e adaptados à crise climática. 

Para que isso aconteça, é importante que o Estado brasileiro, em conjunto com produtores rurais e a indústria de insumos, estabeleça metas, compromissos e políticas públicas mais ambiciosas para a transição da agricultura. O Plano Nacional de Fertilizantes exemplifica como o país está distante dessa realidade. Os investimentos previstos de R$ 24,41 bilhões estão voltados para a produção de fertilizantes nitrogenados, fosfatados e potássicos, dentro do modelo tradicional químico/sintético (92% do total). Para as cadeias emergentes (como fertilizantes organominerais e orgânicos), o investimento previsto é de apenas 0,11% do total.

O novo estudo do Instituto Escolhas propõe cinco compromissos ambiciosos para impulsionar a transição da agricultura brasileira. São eles:

1 – Tornar meta principal do Plano ABC+ — principal instrumento de política pública dedicado à promoção da agricultura sustentável — o aumento da área que utiliza o Sistema de Plantio Direto (SPD).

2 – Incluir a defesa vegetal na meta do Plano ABC+ de aumento da área que utiliza bioinsumos.

3 – Aumentar substancialmente os investimentos do Plano Nacional de Fertilizantes na indústria e no mercado de fertilizantes organominerais e orgânicos.

4 – Investir em pesquisa, desenvolvimento e estruturação da indústria e do mercado de biodefensivos.

5 – Investir em pesquisa, capacitação e oferta de orientação técnica para apoiar produtores na implementação de práticas produtivas mais sustentáveis.

Clique aqui para ler o Sumário Executivo do estudo “Como a soja pode liderar a transição da agricultura brasileira?”, realizado pelo Instituto Escolhas.

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