
Rafael Rosa Rocha
Engenheiro agrônomo e mestre em Ambiente e Sistemas de Produção Agrícola – UNEMAT
rafaelrochaagro@outlook.com
O Brasil, ao longo dos anos, se consolidou como um dos maiores produtores de milho no mundo, e muito dessa posição se deve ao desenvolvimento de tecnologias para Tratamento de Sementes (TS).
Isso porque, décadas atrás, produtores enfrentaram infestações de pragas e doenças que dizimaram por completo suas safras. Um dos episódios marcantes aconteceu nas décadas de 70 e 80, quando a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) se tornou uma praga significativa para os agricultores brasileiros.
Trata-se de uma praga polífaga e tem o milho como uma de suas principais hospedeiras. O uso de fungicidas, inseticidas e bioestimulantes nas sementes proporciona proteção inicial, minimizando os riscos de pragas e doenças que podem comprometer a germinação e o desenvolvimento das plantas.
Além disso, esse tratamento contribui para uma brotação mais vigorosa e uniforme, favorecendo o estabelecimento de uma lavoura de alta qualidade e maior produtividade ao longo da safra.
Fases cruciais
O período de germinação da semente até a emergência da planta é crucial, pois é nessa fase que a planta está mais vulnerável a patógenos e pragas. Quando a semente é atacada, pode haver prejuízo na germinação ou até mesmo a morte da plântula, afetando diretamente o estande e o potencial produtivo da lavoura.
É nessa visão que entra o TS. Ao se optar por essa tecnologia, as sementes são revestidas com uma camada de substâncias que as protegem de possíveis ameaças. Esse tratamento, contendo inseticidas, fungicidas e, em alguns casos, bioativadores, assegura que as sementes germinem e iniciem seu crescimento de maneira saudável e vigorosa.
Tipos de tratamentos
Existem dois tipos de tratamentos de sementes: o on farm, realizado pelo próprio agricultor, e o TSI (Tratamento de Sementes Industrial, ou Tratamento Industrial de Sementes), que é realizado pelas empresas que comercializam sementes. Ambos garantem essa proteção inicial para a semente e plântula.
Existem algumas associações de moléculas utilizadas no TS para milho, sendo que no Brasil há vários outros produtos formulados disponíveis para o tratamento de sementes de milho, por exemplo.

Os princípios ativos e combinações registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para tratamento de sementes são os seguintes:
• Carbendazim (benzimidazol) + tiram (dimetilditiocarbamato)
• Piraclostrobina (estrobilurina) + tiofanato-metílico (benzimidazol)
• Fipronil (pirazol) + piraclostrobina (estrobilurina) + tiofanato-metílico (benzimidazol)
• Fluazinam (fenilpiridinilamina) + tiofanato-metílico (benzimidazol)
• Piraclostrobina (estrobilurina) + tiofanato-metílico (benzimidazol)
• Ipconazol (triazol)
• Fipronil (pirazol) + piraclostrobina (estrobilurina) + tiofanato-metílico (benzimidazol)
• Tiametoxam (neonicotinoide)
• Abamectina (avermectina)
• Ciantraniliprole (antranilamida)
• Carbossulfano (metilcarbamato de benzofuranila)
• Tiodicarbe (metilcarbamato de oxina)
Alternativas
Além dos inseticidas, um exemplo utilizado para fungicida é a molécula de ação fúngica fludioxonil, mefenoxam, tiabendazol e azoxistrobina. Outra associação é o emprego de biológicos no TS, os produtos biológicos (Trichoderma, Bacillus) e inoculantes (Azospirillum, Rhizobium e fixadores de nitrogênio).
Além dos produtos de intuito preventivo, existe também o emprego dos bioestimulantes no tratamento de sementes. Os bioativadores são compostos que aceleram o crescimento das plântulas.
No tratamento de sementes eles atuam no processo de germinação e oportunizam que o milho ultrapasse o período crítico inicial de forma eficaz, solidificando a importância de um tratamento uniforme, como o fornecido por meio do TS.
Os estágios iniciais após a germinação são considerados críticos porque é nesse período que a planta está mais vulnerável a estresses ambientais, como variações climáticas, presença de pragas iniciais e competição por recursos com plantas daninhas.
Assim, se a planta ultrapassar esse período crítico com vigor, garante uma estabilidade de estande inicial e estabilidade na condução inicial da cultura. O tratamento via sementes com o uso de produtos de ação fisiológica é o caminho para se ter essa garantia de contribuição.
Ação de cada nutriente
É importante usar uma tecnologia que entregue nutrientes minerais, como zinco, cobre, níquel e fósforo; aminoácidos, extrato de algas e substâncias húmicas. O zinco, por exemplo, age na divisão celular, na síntese de proteínas, na desintoxicação das espécies reativas de oxigênio, causada pelo ataque de pragas que afeta as paredes celulares.
O níquel tem um papel importante na hidrogenase do N. O cobre é um precursor de lignina e o fósforo é fonte de energia para processos metabólicos que são superimportantes para o processo de germinação.
Os extratos de algas, que atuam como promotores de crescimento vegetal, trazem em sua composição macro e micronutrientes, aminoácidos, proteínas, glicoproteínas. As algas estimulam a ativação do metabolismo vegetal e melhoram o balanço hormonal.
A citocinina é responsável pela divisão e alongamento celular e que promove a germinação; a giberelina, o alongamento celular, estimulando a velocidade da germinação; e a auxina, responsável pela divisão celular, com crescimento da raiz primária e caule, são fundamentais. Desta forma, as algas protegem e estimulam as plantas.
São inúmeros os benefícios a serem alcançados quando se adota um promotor hormonal no tratamento via sementes: mais raízes, velocidade de germinação, estabelecimento da planta e tolerância ao estresse.
O tratamento de sementes oferece os seguintes benefícios:
• Obtenção do estande adequado de plantas;
• Melhor desenvolvimento inicial da cultura (vigor);
• Plantas uniformes e mais resistentes a estresses diversos;
• Maior precisão do tratamento;
• Cobertura uniforme;
• Qualidade das sementes garantida;
• Otimização do tempo do produtor e da gestão da cultura;
• O tratamento de sementes é uma prática com excelente custo/benefício;
• É um investimento barato que visa proteger o potencial produtivo que tem alto valor agregado;
• Garante a proteção abaixo e acima do solo;
• Promove melhoria no enraizamento e germinação uniforme.
Quando tratar as sementes?
Existe um momento ideal para realizar o tratamento de sementes antes do plantio, sendo o mais próximo possível do momento da semeadura. Para garantir a eficácia do tratamento, é preciso ter em conta alguns cuidados, como: utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPIs); utilizar produtos registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA); seguir as doses e orientações de bula; garantir a compatibilidade dos produtos; evitar o molhamento excessivo das sementes; testar a sanidade das sementes para identificar a qualidade sanitária e as causas de baixa germinação; evitar danos mecânicos à embalagem e às sementes; transportar as sementes sem que caiam e protege-las do calor e umidade.
Além disso, é importante ter em conta que a germinação das sementes é influenciada por diversos fatores, como a qualidade das sementes, o conteúdo de água, a temperatura e outros fatores. Então, a garantia de um excelente tratamento de semente é imprescindível.

São inúmeros os benefícios do tratamento de sementes, por isso, abrir mão dele é um risco que não vale a pena correr, pois o custo é muito baixo, quando comparado às perdas que a falta dele pode acarretar.
Quanto custa?
O custo do tratamento de sementes de milho representa apenas 0,06% do custo de produção, enquanto se houver necessidade de replantio o custo representará em torno de 14%.
Além disso, tratar as sementes pode reduzir a necessidade de aplicações, ocasionando uma economia de produto utilizado e permitindo, assim, que se tenha um menor impacto ao ecossistema.
Benefícios potencializados
A biotecnologia tem revolucionado a agricultura, possibilitando cultivos mais resistentes, produtivos e sustentáveis. Quando aliada ao TS, essa tecnologia potencializa seus benefícios, criando um escudo protetor eficaz contra diversas adversidades, pois a biotecnologia modifica a genética da semente, conferindo à planta uma capacidade inerente de combater pragas, especialmente lepidópteros, como as lagartas.
Isso significa que o próprio milho se torna uma barreira contra esses invasores, reduzindo a necessidade de aplicações externas de inseticidas e, consequentemente, os custos de produção.
Esse duplo escudo protetor assegura que a planta tenha as melhores condições possíveis para se desenvolver desde o estágio inicial. Além disso, possibilita redução do impacto ambiental, ao diminuir a necessidade de aplicação de produtos químicos na lavoura, graças ao controle de pragas proporcionado pela biotecnologia e reforçado pelo TS.
Possibilita, também, uma maior produtividade, pois com a planta protegida desde seu estágio inicial e resistente a diversas pragas ao longo do ciclo, a chance de obter uma colheita farta e saudável aumenta consideravelmente.
Agricultores podem esperar melhores rendimentos e colheitas de qualidade superior, maximizando seu retorno sobre o investimento.
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Recomendações
Não há dúvidas da importância do tratamento de sementes, no entanto, algumas recomendações devem ser seguidas, como: utilizar mistura de produtos, de preferência um sistêmico e um de contato, cuidados no volume da calda e sempre tratar sementes de alta qualidade.