Autoria:
Patrick Alves de Oliveira
Engenheiro agrônomo, mestre em Produção Vegetal e agente de Pesquisa e Inovação em Olericultura – CPDI Serrano
patrick.oliveira@incaper.es.gov.br
O tomateiro de crescimento indeterminado nunca “para de crescer”. Ele emite folhas, flores e frutos ao longo de todo o ciclo, e se não tiver um suporte, acaba se deitando no solo. Quando isso acontece, a planta perde eficiência: recebe menos luz, fica mais abafada e abre espaço para que doenças se instalem.
Plantas tutoradas conseguem aproveitar melhor a radiação solar, ficam mais arejadas e, com isso, sofrem menos com fungos e bactérias. Além disso, a distribuição da carga de frutos é mais equilibrada, o que evita quebramento de ramos e perdas por estresse mecânico.
Outro ponto importante é a questão operacional. Quando a planta está ereta, é muito mais fácil podar, fazer pulverizações e colher. O tutoramento, portanto, não é apenas um detalhe de manejo: é um pilar do sistema produtivo. Ele garante que a planta se mantenha saudável por mais tempo e que os frutos cheguem ao mercado com qualidade superior.
Ventilação x incidência de doenças fúngicas
O tutoramento adequado mantém a planta ereta, permitindo melhor circulação de ar entre folhas e frutos, o que reduz o tempo de molhamento foliar após chuvas, irrigação ou orvalho.

Essa condição é desfavorável à germinação de esporos de fungos como Phytophthora infestans (requeima), Alternaria solani (pinta-preta) e Cladosporium fulvum (mancha-de-cladospório).
A arquitetura tutorada também melhora a interceptação da luz solar, acelerando a secagem da superfície foliar. Como consequência, observa-se menor pressão de doenças e redução da necessidade de defensivos, o que diminui custos e resulta em frutos mais sadios e uniformes.
Quem já trabalhou em uma lavoura de tomate sabe: planta muito fechada e próxima ao chão é sinônimo de doença. O tutoramento bem-feito abre o dossel e melhora a circulação do ar.
Isso reduz o tempo que as folhas ficam molhadas após uma irrigação ou uma chuva. Pode parecer detalhe, mas é justamente nesse período de molhamento que fungos como a requeima (Phytophthora infestans) e a pinta-preta (Alternaria solani) conseguem se desenvolver.
Com a planta tutorada, o microclima ao redor das folhas e frutos muda completamente. A luz entra melhor, a temperatura sobe um pouco e a superfície das folhas seca mais rápido. Isso dificulta a vida dos patógenos.
Na prática, produtores que adotam tutoramento eficiente percebem menor severidade de doenças e até conseguem reduzir o número de aplicações de defensivos. Ou seja, há um ganho duplo: a lavoura fica mais sadia e o custo de produção diminui.
Tipos de tutores
O mercado dispõe de diferentes formas de tutoramento, e cada uma apresenta características próprias em termos de custo, praticidade, durabilidade e eficiência.

Crédito: Patrick Alves

Crédito: Patrick Alves
Os principais sistemas são:
● Estaca individual (bambu, madeira ou eucalipto tratado): Método tradicional, amplamente utilizado em pequenas propriedades. Consiste em fincar uma estaca junto à planta e fazer amarrações periódicas com fitilho. Tem baixo custo inicial e é de fácil implantação, mas demanda muita mão de obra.
● Fitilho vertical com arame suspenso: Sistema bastante eficiente para cultivares indeterminadas. Utiliza arames esticados sobre a fileira de plantas, de onde descem fitilhos que servem de guia para a condução da haste. Esse método favorece boa ventilação, maior interceptação de luz e frutos de melhor qualidade. O custo de instalação é moderado, e a mão de obra é mais racionalizada.
● Cerca cruzada em “V” invertido: formada por estacas duplas inclinadas e unidas no topo, criando fileiras em forma de túnel. Os ramos crescem apoiados nas laterais, com amarrações menos frequentes. Facilita a colheita em alguns contextos, mas pode criar microclimas com excesso de umidade, predispondo a doenças fúngicas. Tem custo intermediário e costuma ser usado em áreas de porte médio.
● Meia-estaca: indicada principalmente para cultivares de crescimento determinado, de porte mais baixo. Consiste em colocar uma estaca curta ou um suporte parcial apenas para evitar o acamamento. É um sistema simples, barato e de baixa demanda de mão de obra, mas não se aplica a híbridos de crescimento indeterminado, que exigem suporte contínuo.
● Sistema “Florida Weave” (ou cerca trançada): utilizado principalmente em cultivos ao ar livre. Estacas de madeira ou bambu são fixadas a intervalos regulares, e fios ou fitilhos são entrelaçados horizontalmente entre as plantas, formando uma rede de sustentação lateral. É econômico, rápido de instalar e permite boa condução em áreas de médio porte.
● Treliça suspensa: Comum em estufas ou ambientes protegidos. Os tomates são conduzidos verticalmente em fios pendurados de uma estrutura superior (arames ou cabos metálicos). Permite aproveitar ao máximo o espaço vertical, melhora ventilação e facilita a execução de podas e colheita. Tem custo inicial mais elevado, mas alta eficiência em produtividade e qualidade dos frutos.
● Malhas treliçadas de polipropileno: alternativa prática e durável. A malha é fixada sobre a fileira, permitindo que os ramos se apoiem naturalmente, sem necessidade de tantas amarrações. Reduz o manuseio direto da planta, o que diminui a transmissão mecânica de viroses. Pode ser reutilizada por vários ciclos, mas requer maior investimento inicial.
● Gaiolas ou espirais metálicas: muito usadas em hortas caseiras e pequenas áreas comerciais. Consistem em estruturas cilíndricas ou helicoidais onde a planta cresce apoiada. São fáceis de manusear, reutilizáveis e exigem pouca mão de obra. Entretanto, em cultivares indeterminadas de porte elevado, podem se tornar insuficientes, limitando sua adoção em escalas maiores.
A escolha deve considerar cultivar, ambiente, mão de obra e custos. Sistemas mais simples, como estacas individuais e o Florida Weave, são viáveis para pequenas e médias propriedades pela economia inicial, mas demandam mais mão de obra.
Já os sistemas suspensos e treliçados, embora mais caros, são indicados para cultivos tecnificados em estufas e maiores áreas, pois aumentam a eficiência do trabalho e a qualidade dos frutos.

Crédito: Luize Hess
Como escolher o melhor
O sistema de tutoramento que o produtor escolhe tem impacto direto no dia a dia da equipe no campo. Se opta por estacas individuais, por exemplo, precisa estar preparado para muitas amarrações ao longo do ciclo.
Já quando se adota métodos mais modernos, como fitilhos suspensos, malhas ou até clipes reutilizáveis, o trabalho fica mais rápido e padronizado. A equipe consegue conduzir as plantas com menos esforço e em menos tempo.
Nas estufas, vemos uma realidade diferente: as treliças suspensas, apesar de mais caras no começo, trazem um ganho enorme em eficiência. O produtor precisa de menos trabalhadores para manejar a mesma área, e a ergonomia das operações melhora muito.
Na prática, quanto mais racional e planejado for o tutoramento, maior a produtividade por trabalhador e menor o peso da mão de obra no custo final da produção.
Vamos à produtividade
Estudos e experiências de campo mostram que o tutoramento pode elevar em 25 a 40% a produtividade de frutos comercializáveis.
Além disso, o tutoramento prolonga o ciclo produtivo, mantendo colheitas economicamente viáveis por mais tempo.
O tutoramento distribui melhor a carga de frutos, reduzindo o estresse mecânico e evitando o quebramento de ramos.
O suporte evita também o contato com o solo, reduzindo injúrias mecânicas e contaminações. Como resultado, colhe-se tomates de casca mais firme, coloração uniforme e maior durabilidade pós-colheita, com maior proporção de frutos de primeira categoria.
Tutoramento adequado

Crédito: Shutterstock
A escolha do sistema de tutoramento deve considerar um conjunto de fatores técnicos, econômicos e operacionais. Entre os principais critérios, destacam-se:
● Tipo de cultivar:
○ Cultivares de crescimento indeterminado necessitam obrigatoriamente de sistemas robustos, geralmente verticais, que permitam condução contínua, bom arejamento e facilidade de podas. São as mais utilizadas no tomate de mesa destinado a mercados exigentes.
○ Cultivares de crescimento determinado têm porte mais baixo e ciclo mais curto, tolerando sistemas simplificados, como meia-estaca ou o método Florida Weave.
● Escala de produção:
○ Pequenas propriedades: tendem a adotar sistemas de menor investimento inicial, como estacas de bambu ou madeira, aproveitando mão de obra familiar. O foco é reduzir custos, mesmo que a durabilidade seja limitada.
○ Médias propriedades: buscam sistemas que conciliem eficiência e viabilidade econômica, como o Florida Weave ou fitilhos verticais com arame. Esses métodos equilibram produtividade, custo e disponibilidade de mão de obra.
○ Grandes áreas comerciais e cultivos em estufa: demandam padronização, praticidade e menor dependência de mão de obra intensiva. Estruturas suspensas, treliças e malhas treliçadas, embora mais onerosas no início, trazem retorno pela durabilidade, produtividade elevada e frutos de melhor qualidade.
● Durabilidade e custo do material:
○ Materiais perecíveis (bambu, madeira não tratada, cordas simples) apresentam baixo custo inicial, mas vida útil curta.
○ Materiais duráveis (arames galvanizados, malhas de polipropileno, estruturas metálicas) exigem maior investimento inicial, mas podem ser reutilizados por vários ciclos, diluindo o custo ao longo do tempo.
● Sanidade e condições ambientais: Em regiões úmidas ou quentes, sistemas que promovam maior aeração do dossel (fitilho vertical, treliça suspensa, malha treliçada) são preferíveis, pois reduzem a incidência de fungos. Em áreas sujeitas a ventos fortes, é essencial utilizar estruturas firmes e bem ancoradas para evitar tombamentos.
● Exigência do mercado consumidor: Mercados que demandam tomates premium, com padrão visual superior, exigem tutoramento que favoreça frutos de primeira categoria. Já mercados locais e de menor exigência podem permitir sistemas simplificados, desde que o custo de produção seja reduzido.

Crédito: Shutterstock
O que há de novidades
Nos últimos anos diversas inovações têm sido incorporadas ao tutoramento de tomate, principalmente em cultivos tecnificados e em estufas, mas com potencial de adaptação também em campo aberto.
Essas tecnologias surgem para reduzir custos de mão de obra, aumentar a eficiência do manejo e melhorar a sustentabilidade do sistema produtivo. Entre as principais, destacam-se:
● Clipes plásticos e ganchos reutilizáveis: em vez de realizar amarrações sucessivas com barbante, muitos produtores têm adotado clipes plásticos que fixam rapidamente o caule da planta ao fio condutor. Esses clipes são fáceis de instalar, reaproveitáveis em vários ciclos e reduzem o tempo gasto com condução. Já os ganchos reguláveis, geralmente metálicos ou plásticos reforçados, permitem ajustar a altura da planta ao longo do ciclo. São bastante utilizados em estufas, onde a planta pode atingir grande porte, permitindo inclusive o “descer e enrolar” do caule quando atinge o limite superior da estrutura.
● Malhas treliçadas de polipropileno (ex.: Hortomallas®): Essas malhas substituem parte do trabalho manual de tutoramento. Fixadas em estruturas verticais, funcionam como uma rede de apoio, onde os ramos se apoiam naturalmente. A redução do contato direto dos trabalhadores com as plantas contribui para menor disseminação de viroses mecânicas, como o Tomato Mosaic Virus. Além disso, a malha pode durar vários anos e sua instalação é relativamente simples. Apesar do custo inicial mais alto, tem boa relação custo-benefício, principalmente em áreas médias e grandes.
● Sistemas de carretéis ou roletes de fio: muito comuns em estufas de alta tecnologia, esses dispositivos são instalados na parte superior da estrutura, de onde descem fios enrolados em carretéis. À medida que a planta cresce, o produtor pode liberar mais fio com facilidade, ajustando a condução sem necessidade de reamarração. Esse sistema é fundamental em cultivos longos, em que o tomateiro precisa ser “descido” e conduzido horizontalmente ao longo da linha para prolongar o ciclo produtivo.
● Estruturas metálicas modulares: em substituição às estacas de bambu ou madeira, vêm ganhando espaço estruturas de aço galvanizado ou alumínio, projetadas para durar vários anos. Essas estruturas são desmontáveis, resistentes e padronizadas, o que confere uniformidade ao cultivo e reduz custos de reposição. São indicadas para propriedades empresariais e cultivos intensivos, onde o investimento inicial é compensado pela durabilidade.
● Automação em estufas de última geração: em países com horticultura altamente tecnificada, como Holanda, Espanha e Canadá, já existem sistemas de tutoramento integrados a trilhos aéreos, onde os trabalhadores utilizam carrinhos móveis para realizar poda, condução e colheita em altura com segurança e ergonomia. Esses sistemas permitem maior precisão no manejo e aproveitamento máximo do espaço vertical. No Brasil, ainda são pouco comuns, mas algumas empresas que operam com hidroponia ou cultivo protegido já iniciaram a adoção de tecnologias similares.
● Materiais sustentáveis e biodegradáveis: uma tendência crescente é a substituição de fios de polipropileno por cordas produzidas a partir de fibras naturais ou polímeros biodegradáveis. Essa mudança está alinhada às exigências ambientais e certificações de sustentabilidade, além de reduzir o impacto do descarte de resíduos plásticos no campo.
● Integração com sensores e agricultura de precisão (tendência futura): embora ainda em fase experimental, já se estuda a integração do tutoramento com sensores que monitoram crescimento, carga de frutos e microclima da planta, ajustando automaticamente a altura do fio ou o espaçamento entre plantas. Essa abordagem aponta para um futuro em que o tutoramento será não apenas um suporte físico, mas também uma ferramenta de manejo inteligente.
Manuseio pós-colheita dos frutos
Plantas tutoradas apresentam frutos mais expostos, o que facilita a visualização, reduz o tempo de colheita e melhora a ergonomia do trabalho. Além disso, o suporte evita contato com o solo, diminuindo defeitos e contaminações.
No pós-colheita, a uniformidade de tamanho e maturação simplifica classificação e embalagem, enquanto a menor incidência de injúrias e doenças prolonga a vida de prateleira. Isso garante tomates mais valorizados no mercado e menores perdas ao longo da cadeia.
Retorno financeiro
Diversos trabalhos de pesquisa e relatos de campo demonstram, de forma consistente, que o tutoramento é uma prática que agrega retorno econômico significativo à produção de tomate de mesa. Entre os principais resultados observados, destacam-se:
● Redução de perdas no campo e no transporte: lavouras tutoradas apresentam redução significativa de frutos descartados por podridões, manchas, rachaduras e injúrias mecânicas. Em sistemas bem conduzidos, essa redução pode chegar a 30% menos perdas em relação a plantas sem suporte. Isso significa maior aproveitamento da produção total e menor descarte em etapas de classificação e pós-colheita.
● Melhoria na qualidade e no valor de mercado: O tutoramento favorece frutos de formato mais regular, casca firme, coloração uniforme e menor incidência de defeitos. Esses atributos atendem aos padrões de classificação exigidos por centrais de abastecimento e supermercados, que remuneram melhor tomates de categorias superiores. Assim, além de aumentar a produtividade, o tutoramento eleva o preço médio obtido por caixa comercializada.
● Eficiência da mão de obra: Apesar de alguns sistemas exigirem maior investimento inicial, observa-se que a colheita em plantas tutoradas é mais rápida e ergonômica, permitindo que o mesmo número de trabalhadores colha uma área maior em menos tempo.
● Longevidade da lavoura: em plantas tutoradas, o ciclo produtivo pode ser estendido, com manutenção de colheitas economicamente viáveis por mais tempo. Em média, obtém-se de duas a quatro colheitas adicionais em comparação a sistemas sem tutoramento, o que dilui custos fixos e aumenta a rentabilidade líquida.
● Resultados econômicos consolidados: a soma desses fatores: maior produtividade, menor perda, melhor preço médio, eficiência de mão de obra e prolongamento do ciclo. Se traduz em ganhos concretos. Relatos de campo mostram que produtores que adotam tutoramento eficiente alcançam incrementos de 20 a 35% no valor bruto da produção por hectare, quando comparados a áreas não tutoradas ou conduzidas de forma precária.
