Tecnologias de liberação de parasitoides com drones: como funciona?

No controle da broca-da-cana (Diatraea saccharalis), a liberação conjunta de Tetrastichus howardi e Cotesia flavipes por drones tem se mostrado altamente eficaz.
Campo e Negócios

Publicado em 16 de março de 2025 às 08h02

Última atualização em 16 de março de 2025 às 08h02

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Crédito: Koppert

Gabriel Carvalho Ribeiro de Oliveira
Engenheiro agrônomo/pesquisador e mestrando em Produção Vegetal – UNESP/FCAV
gabriel.cr.oliveira@unesp.br
Maibi Alves de Macedo Panichelli
Técnologa em Biocombustíveis/pesquisadora em Ciências Agronômicas – Herbae- Consultoria e Projetos Agrícolas
maibi.panichelli@hotmail.com
Carlos Vital Gonzalez-Porras
Engenheiro agrônomo, mestre e doutorando em Produção Vegetal – UNESP/FCAV
vital_gp@outlook.es

A utilização de drones para a liberação de parasitoides em sistemas agrícolas apresenta diversas vantagens técnicas em comparação aos métodos tradicionais, como a dispersão manual ou o uso de veículos terrestres.

A principal vantagem dos drones é a sua capacidade de realizar uma aplicação precisa e eficiente, garantindo que os parasitoides sejam distribuídos uniformemente nas áreas infestadas.

Isso resulta em uma cobertura mais homogênea, aumentando a eficácia do controle biológico e otimizando os recursos disponíveis. Além disso, os drones podem ser programados para voar em padrões específicos, adaptando a dispersão dos parasitoides às características topográficas e à densidade populacional das pragas, algo que é difícil de alcançar manualmente.

Vantagens

Outra vantagem significativa dos drones é a capacidade de cobrir grandes áreas em um curto período de tempo, algo essencial em culturas extensivas, como a cana-de-açúcar.

Métodos tradicionais de aplicação requerem mais tempo e mão de obra, enquanto os drones tornam o processo mais ágil, reduzindo a necessidade de operadores no campo e aumentando a segurança operacional.

Além disso, drones são especialmente eficazes em áreas de difícil acesso, como terrenos acidentados ou com vegetação densa, onde o uso de veículos terrestres seria menos eficiente.

Os drones também oferecem maior controle sobre a dispersão dos parasitoides, ajustando a densidade e localização da liberação conforme necessário. Sensores embarcados monitoram as condições climáticas, como vento e temperatura, permitindo ajustes durante a aplicação para garantir que essas variáveis não comprometam a eficácia dos parasitoides.

Esse nível de precisão otimiza o uso dos insumos biológicos, minimizando o desperdício e reduzindo custos operacionais.

Para a cana

No controle da broca-da-cana (Diatraea saccharalis), a liberação conjunta de Tetrastichus howardi e Cotesia flavipes por drones tem se mostrado altamente eficaz.

O Cotesia flavipes parasita a fase larval da praga, enquanto o Tetrastichus howardi ataca a fase de pupa. Essa combinação torna os dois parasitoides complementares, permitindo uma maior cobertura dos diferentes estágios do ciclo de vida da praga, o que aumenta a janela de controle e a eficácia do combate à praga.

Estudos indicam que o T. howardi pode produzir até 66 descendentes por pupa de Diatraea saccharalis, o que demonstra sua alta capacidade de reprodução e um grande potencial para reduzir rapidamente as populações da praga.

Portanto, o uso conjunto de drones com esses parasitoides complementares, T. howardi e C. flavipes é uma solução eficiente para o controle biológico da broca-da-cana, especialmente em áreas com altos níveis de infestação.

Eficácia

Para garantir a eficácia da liberação por drones, é fundamental considerar alguns fatores técnicos e ambientais. As condições climáticas, como ventos fortes e altas temperaturas, podem prejudicar a dispersão dos parasitoides, desviando-os da área-alvo ou comprometendo sua sobrevivência.

Monitorar o clima e ajustar as rotas e a altura de voo dos drones pode mitigar esses riscos e garantir a eficiência da aplicação. Além disso, é importante observar a densidade populacional da praga e o estágio de desenvolvimento da Diatraea saccharalis para maximizar a eficácia do controle biológico.

Sintomas da broca na cana
Crédito: José Francisco Garcia

Pesquisas em andamento

Estudos recentes conduzidos por Juliana Santos de Oliveira na Universidade de São Paulo (USP) corroboram esses achados. Em sua dissertação, Juliana investigou a associação de Cotesia flavipes e Tetrastichus howardi no controle da Diatraea saccharalis, explorando a complementaridade desses parasitoides para controlar diferentes fases do ciclo de vida da praga.

A pesquisa demonstrou que a liberação conjunta dos dois parasitoides aumentou significativamente a eficácia do controle biológico, sobretudo quando realizada com a precisão proporcionada pelos drones.

O trabalho de Juliana Santos também introduziu modelos matemáticos para prever a eficácia do controle a longo prazo, confirmando que a liberação de C. flavipes e T. howardi por drones não apenas reduz a população atual de D. saccharalis, mas também minimiza as reinfestações futuras.

Planejamento é fundamental

As características topográficas e a vegetação também influenciam o planejamento da liberação de parasitoides. Em terrenos com relevo acidentado, os drones podem ajustar altitude e velocidade de voo para garantir uma cobertura eficiente, minimizando falhas na dispersão dos parasitoides.

A programação adequada das rotas de voo otimiza a operação, reduzindo o tempo necessário e os custos operacionais.

Automação no controle biológico

A automação proporcionada pelos drones também facilita o monitoramento em tempo real das áreas tratadas, permitindo ajustes rápidos e ações corretivas mais eficientes.

A pesquisa de Juliana Santos de Oliveira, apresentada à USP em 2022, reforça o papel crucial dessa automação no controle biológico da broca-da-cana. Os modelos matemáticos desenvolvidos em seu estudo mostraram que a liberação conjunta de C. flavipes e T. howardi, quando controlada com a precisão dos drones, apresenta uma eficácia muito superior às técnicas tradicionais de liberação manual.

A capacidade de T. howardi de tolerar condições climáticas mais adversas, como temperaturas mais elevadas, torna essa estratégia particularmente valiosa em regiões de clima quente.

A flexibilidade e a precisão dos drones tornam o manejo biológico mais acessível e eficiente em larga escala. Assim, o uso de drones se mostra uma ferramenta essencial para otimizar o controle biológico e garantir práticas agrícolas mais sustentáveis e produtivas.

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