As novas tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos sobre os produtos da piscicultura brasileira — o chamado tarifaço — provocaram uma queda de 28% na receita das exportações do setor no terceiro trimestre de 2025, em comparação ao mesmo período de 2024.
Em volume, a redução foi de 26%, registrando o pior resultado do ano tanto em toneladas quanto em valores.
De julho a setembro, o Brasil exportou quase 3 mil toneladas de pescado, gerando US$ 13,3 milhões. A retração foi gradual: em julho, 1.390 toneladas renderam US$ 5,7 milhões; em agosto, 800 toneladas resultaram em US$ 3,9 milhões; e em setembro, menos de 780 toneladas somaram US$ 3,7 milhões.
Os dados são do Informativo de Comércio Exterior da Piscicultura, publicado pela Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas-TO) em parceria com a Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR).
Tilápia e concorrência asiática
Segundo o pesquisador Manoel Pedroza, da Embrapa, o período também foi marcado por um aumento nas importações de filé de tilápia do Vietnã, que chegaram ao Brasil a R$ 16,70/kg FOB — valor muito inferior ao preço médio nacional de R$ 31,00/kg.
“Esses preços extremamente baixos representam um risco à cadeia produtiva da tilápia no Brasil”, alerta Pedroza.
O filé de tilápia é o principal produto da piscicultura brasileira destinado à exportação, e a competição com o mercado vietnamita amplia as preocupações sobre rentabilidade e sustentabilidade do setor.
EUA: principal parceiro, maior impacto
Os Estados Unidos, principal destino das exportações brasileiras de piscicultura, reduziram suas compras em 32% no terceiro trimestre.
Empresas do setor conseguiram atenuar parte das perdas por meio de negociações diretas com importadores norte-americanos, mas o cenário segue incerto.
“Alguns exportadores afirmam que não será possível manter essas negociações a longo prazo. Se o tarifaço persistir, as vendas devem cair ainda mais no último trimestre de 2025”, destaca o pesquisador.
A tilápia representa 99% das exportações brasileiras de pescado para os EUA. As vendas caíram de US$ 16,2 milhões no primeiro trimestre para US$ 15,5 milhões no segundo, e US$ 11,5 milhões no terceiro.
O aumento das tarifas — de 10% para 50%, determinado pelo governo de Donald Trump — é apontado como principal fator de retração.
Perspectivas e desafios
De acordo com a Embrapa, a continuidade do tarifaço pode causar uma queda ainda maior nas exportações brasileiras de pescado até o final do ano.
Os exportadores buscam novos mercados, mas a substituição do volume destinado aos EUA é desafiadora, especialmente porque o mercado europeu segue fechado para o pescado brasileiro.
O cenário exige estratégias de diversificação, acordos comerciais e inovação em processamento e agregação de valor para reduzir a dependência das exportações de tilápia e garantir a competitividade da piscicultura nacional.


 
								


