Nilva Teresinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora e professora de Bioquímica, Nutrição de Plantas e Produção Orgânica (UniPinhal)
nilva@unipinhal.edu.br
A soja é uma das culturas mais importantes para o Brasil, que lidera mundialmente tanto na produção quanto na exportação desse grão. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a safra 2023/24 deverá atingir 298,41 milhões de toneladas de grãos.
Exigências nutricionais
A soja é uma planta exigente em nutrientes, especialmente em nitrogênio e potássio. No entanto, por ser uma leguminosa, ela possui a capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico, ou seja, transformar o nitrogênio molecular (N₂) presente no ar em uma forma assimilável pelas plantas.
Esse processo ocorre por meio de uma simbiose entre a planta e bactérias fixadoras de nitrogênio, como as do gênero Bradyrhizobium, especificamente B. japonicum e B. elkanii. Isso permite substituir, total ou parcialmente, o uso de fertilizantes nitrogenados, que são caros e ecológicos ao meio ambiente.
Embora essas bactérias fixadas de nitrogênio já estejam presentes no solo, sua introdução via inoculação (seja nas sementes ou no sulco de plantio) é recomendada para garantir que o microrganismo específico para a soja esteja presente. A coinoculação com Azospirillum brasilense também pode aumentar o rendimento da cultura.
O processo
Após a germinação da planta, compostos como flavonoides e isoflavonoides são emitidos pelas raízes, atraindo as bactérias fixadoras. Cerca de 10 dias após a germinação, inicia-se o processo de nodulação, que se torna mais evidente na fase V3 da planta.
A nodulação ocorre quando os pelos radiculares se curvam e se envolvem com bactérias, que penetram nas raízes e formam os nódulos. Nesses nódulos, o nitrogênio atmosférico é convertido em uma forma utilizável pela planta.
Nutrientes essenciais
Diversos nutrientes são essenciais para o sucesso desse processo, como o cobalto, que é vital para a propriedade da hemoglobina nos nódulos; o molibdênio, que faz parte da enzima nitrogenase, responsável pela fixação da nitrogênio; e o fósforo, que fornece energia para a multiplicação dos microrganismos e o enraizamento da planta.
Outros nutrientes, como zinco, boro, e cálcio, também desempenham papéis importantes na divisão celular e na formação dos nódulos.
Onde entra o silício
O silício (Si), embora não seja considerado um nutriente essencial para todas as plantas, é classificado como benéfico. Ele desempenha várias funções importantes nas plantas, como melhorar a capacidade fotossintética e a resistência ao estresse hídrico, toxicidade por metais e salinidade.
Nas plantas fixadas de nitrogênio, o silício pode melhorar a interação entre planta e microrganismo, favorecendo a formação de nódulos nas leguminosas. Ele também está envolvido no metabolismo de substâncias que regulam a nodulação, como os compostos fenólicos e isoflavonoides.
O estresse causado por fatores ambientais pode comprometer a fixação de nitrogênio (N) nas plantas. O estresse hídrico, por exemplo, reduz a disponibilidade de água e nutrientes, afetando a formação dos nódulos.
O Si ajuda as plantas a resistirem a esses estresses abióticos, como seca, salinidade e presença de metais pesados. Isso é crucial, porque esses estresses ambientais prejudicam a fixação de nitrogênio, e o Si atua minimizando o impacto, permitindo que o processo continue em condições adversas.
Ação contra as pragas
Pragas e doenças também podem afetar as raízes, comprometendo a interação delas com os microrganismos fixadores, o que, por sua vez, prejudica a nodulação e o processo de fixação.
Além disso, o silício melhora a fotossíntese, essencial para a produção de compostos orgânicos que fornecem energia para o estabelecimento das bactérias nas raízes e a formação dos nódulos nas leguminosas.
Embora a silício não esteja diretamente envolvido na bioquímica da infecção das plantas pelas bactérias ou na fixação de nitrogênio, ele influencia positivamente a expressão gênica ligada à nodulação. Também fortalece a planta contra condições adversas, sejam elas biológicas ou ambientais.
Contudo, é importante lembrar que os benefícios da fixação do nitrogênio dependem de uma série de fatores, incluindo os preparativos adequados do solo, a correção da fertilidade, a escolha e aplicação correta dos inoculantes, entre outros.
A aplicação de adubos silicatados é uma parte essencial desse processo.
Programa nutricional
A inclusão do silício em um programa nutricional para a soja pode ser feita via solo ou foliar. O Si pode ser aplicado no sulco de plantio por meio de insumos sólidos ou líquidos, ou incorporado junto com o fertilizante.
Também há a opção de aplicar o silício via foliar. Fontes como escórias de siderurgia, que contêm silicatos de cálcio e magnésio, podem ser utilizadas, mas é importante observar que elas podem conter metais pesados.
No entanto, também existem produtos no mercado compostos por silicato de potássio, cálcio, magnésio e ácidos silícicos solúveis, que são de rápida disponibilidade e podem ser aplicados tanto no solo quanto via foliar.
O silício pode ser incluído no programa de adubação no momento do plantio, promovendo o enraizamento e a formação dos nódulos, que ocorre logo após as raízes cumprirem sua função de fixação da planta.
Ao longo do ciclo da cultura, o uso do Si também é indicado, com aplicações estratégicas quando ela estiver com quatro pares de folhas, antes da resistência, e durante a florada, reforçando a resistência da planta e a formação das vagens e sementes.
Mais que benefícios
Além de beneficiar a nodulação, o silício desempenha várias outras funções na soja, como aumentar a resistência contra pragas, doenças e nematoides, melhorar a disponibilidade de nutrientes, como o fósforo, aumentar o vigor e o rendimento das culturas, e melhorar o enraizamento e o desenvolvimento metabólico.
Estudos indicam que a aplicação de silício pode aumentar a resistência a diversas pragas, como percevejos, e o rendimento de vagens e grãos, propiciando grandes vantagens como, por exemplo, o menor uso de defensivos agrícolas e mais lucro aos sojicultores.
Por fim, as doses e formas de aplicação de silêncio variam de acordo com o produto escolhido e devem sempre ser baseadas em recomendações técnicas especializadas.
