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Segurança alimentar e a revolução dos nutrientes: o potencial estratégico dos fertilizantes organominerais e biossólidos

Autoria de: Dr. Emmerson Rodrigues, Diego Santos e Renata Carla.
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Autoria de: Dr. Emmerson Rodrigues de Moraes
Engº. Agrônomo e Doutor Produção Vegetal na área de fertilidade do solo e nutrição de plantas, Professor do IF Goiano – Campus Morrinhos
Diego Santos Almeida Pinto
Mestre em Olericultura  – IF Goiano – Campus Morrinhos
Renata Carla Lemes Silva
Mestranda em História – UEG – Morrinhos

A segurança alimentar global enfrenta um desafio sem precedentes: a exaustão das reservas minerais de fertilizantes e a necessidade urgente de sustentabilidade ambiental. Este trabalho analisa a vulnerabilidade do agronegócio diante da finitude de fontes de potássio e fósforo e propõe a adoção de biossólidos e fertilizantes organominerais como estratégia definitiva. Aborda-se a transição da economia linear para a circular, a eficiência agronômica proporcionada pela matéria orgânica no solo tropical e o papel da tecnologia na conversão de passivos ambientais em ativos nutricionais, fundamentando-se na legislação vigente e em experimentos práticos, como os conduzidos no IF Goiano.

O futuro, da segurança alimentar, não começa na colheita, mas no gerenciamento do que a sociedade descarta hoje. O agronegócio brasileiro, responsável por alimentar uma parcela significativa da população mundial e por sustentar grande parte do PIB nacional, opera sob um paradoxo: é uma potência na produção de biomassa, mas extremamente dependente da importação de nutrientes.

Sem nutrientes, não há produção de alimentos. Contudo, o modelo atual baseia-se majoritariamente em fontes minerais não renováveis e finitas. A discussão sobre a fertilidade do solo transcende a agronomia e torna-se uma questão de soberania nacional e segurança alimentar. O presente artigo explora a necessidade crítica de “reciclar” nutrientes através do uso de biossólidos e da tecnologia dos fertilizantes organominerais, transformando resíduos urbanos e agroindustriais em insumos de alta tecnologia para garantir a perenidade da produção agrícola.

O CENÁRIO DE ESCASSEZ: A FINITUDE DAS FONTES MINERAIS

A agricultura moderna é movida a NPK (Nitrogênio, Fósforo e Potássio). Enquanto o nitrogênio pode ser fixado da atmosfera, o Fósforo (P) e o Potássio (K) dependem da mineração.

A Geopolítica e o Esgotamento das Reservas

O cloreto de potássio e as rochas fosfatadas são recursos finitos. Estudos globais alertam para o “Peak Phosphorus” (pico do fósforo), momento em que a produção mundial atingirá seu máximo e começará a declinar, enquanto a demanda por alimentos continuará a crescer (CORDELL et al., 2009). Além da questão geológica, há o risco geopolítico: as reservas estão concentradas em poucos países (como Marrocos, Rússia, China e Canadá), deixando o Brasil vulnerável a flutuações de preço e disponibilidade.

Segundo Malavolta (2006), a extração contínua sem reposição adequada leva à degradação química dos solos. Se as fontes minerais se esgotarem ou se tornarem economicamente inviáveis, a produtividade agrícola tropical — que depende de correção e adubação intensiva — entrará em colapso, comprometendo a oferta de alimentos para as próximas gerações.

BIOSSÓLIDOS: DO SANEAMENTO À AGRICULTURA

A solução para mitigar a dependência mineral reside na economia circular. Os centros urbanos, através de seus efluentes, concentram nutrientes que foram extraídos do campo via alimentos. O tratamento desses efluentes gera o lodo de esgoto que, após processos adequados, torna-se o biossólido.

Processamento e Segurança Ambiental

O biossólido não é esgoto in natura; é um material tecnicamente processado. Para seu uso agrícola, ele deve passar por etapas de estabilização, higienização (como a solarização e tratamento térmico) e desinfecção, eliminando patógenos e vetores.

No Brasil, o uso é estritamente regulado pela Resolução CONAMA nº 498/2020, que estabelece critérios para a produção e aplicação de biossólidos em solos. Esta norma garante que o material reciclado seja seguro, transformando um passivo ambiental — que poluiria rios e ocuparia aterros sanitários — em uma fonte rica de matéria orgânica e nutrientes (BRASIL, 2020).

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FERTILIZANTES ORGANOMINERAIS: TECNOLOGIA E SINERGIA

A evolução do uso de resíduos na agricultura culmina nos fertilizantes organominerais. Estes produtos resultam da mistura física ou complexação de fertilizantes minerais com matrizes orgânicas (como biossólidos, turfa ou cama de frango).

Vantagens Físico-Químicas nos Solos Tropicais

A superioridade dos organominerais sobre os minerais exclusivos explica-se pela interação da matéria orgânica com o solo:

  • Aumento da CTC: A fração orgânica aumenta a Capacidade de Troca de Cátions, permitindo que o solo retenha mais nutrientes e reduza perdas por lixiviação (especialmente de Potássio).
  • Proteção do Fósforo: Em solos tropicais ácidos, ricos em óxidos de ferro e alumínio, o fósforo tende a ser “fixado” e indisponibilizado para as plantas. A matéria orgânica atua quelatando esses óxidos e competindo pelos sítios de adsorção, deixando o fósforo mais disponível para a cultura (NOVAIS; SMITH, 1999).
  • Retenção de Água: A melhoria na estrutura física do solo aumenta a capacidade de armazenamento de água, vital em períodos de veranico.

Eficiência Comprovada

Pesquisas conduzidas no IF Goiano – Campus Morrinhos demonstram a viabilidade do cultivo de commodities, como a soja, utilizando exclusivamente fertilizantes organominerais à base de biossólidos, eliminando a necessidade de fertilizantes sintéticos importados.

SUSTENTABILIDADE E PERSPECTIVAS FUTURAS

A adoção dessa tecnologia transcende a produtividade; é uma ferramenta de mitigação climática.

Sequestro de Carbono e Ciclo de Nutrientes

Os fertilizantes organominerais possuem, em média, cerca de 50% de Carbono Orgânico Total. Ao aplicar este material, o agricultor está devolvendo carbono ao solo, contribuindo para o sequestro de CO2 e mitigação do efeito estufa (KIEHL, 2008). Além disso, evita-se a eutrofização de corpos hídricos que ocorreria com o descarte inadequado de esgotos.

O Futuro é Organomineral

Para cidades com mais de 40.000 habitantes, a gestão de resíduos sólidos é um desafio logístico e ambiental. A conversão de lodo de esgoto em fertilizante organomineral resolve o problema do saneamento e fornece insumo para a agricultura periurbana e extensiva. É um modelo de bioeconomia que garante que os nutrientes permaneçam no ciclo produtivo por séculos, assegurando a base para a segurança alimentar futura.

CONCLUSÃO

A continuidade do agronegócio brasileiro exige uma ruptura com o modelo puramente extrativista de minerais. A segurança alimentar do futuro depende da nossa capacidade presente de reciclar nutrientes. O uso de biossólidos e fertilizantes organominerais apresenta-se não apenas como uma alternativa viável, mas como uma estratégia mandatória de soberania nacional, eficiência agronômica e responsabilidade ambiental. Somente através do fechamento do ciclo dos nutrientes será possível sustentar a produtividade agrícola e garantir alimentos de qualidade para as próximas gerações.

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