Processos e desafios: melhoramento genético de hortaliças

Foto: Shutterstock

Publicado em 10 de outubro de 2025 às 07h13

Última atualização em 6 de outubro de 2025 às 14h17

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Gustavo Hacimoto
Desenvolvimento de Produto – Enza Zaden Brasil

A busca por variedades superiores às já existentes no mercado é o grande objetivo dos programas de melhoramento genético. E o termo superiores não se restringe apenas ao potencial produtivo ou a resistência a determinadas doenças, mas que no caso de frutas e hortaliças, por exemplo, abrangem também um sabor ou valor nutricional melhor, mais elevado.

Essa é uma das grandes diferenças ao se comparar um programa de melhoramento genético de grandes culturas como soja e milho, onde o potencial de produção dos grãos e resistência a doenças é de extrema relevância, enquanto para hortaliças como melão e tomate, os caracteres qualitativos são tão importantes quanto os quantitativos.

Métodos de melhoramento

O caminho para se chegar a essas cultivares superiores é longo, haja vista os inúmeros detalhes que precisam ser levados em conta para se chegar em tal objetivo. O início de tudo é escolher a cultura a ser trabalhada e o seu respectivo comportamento quanto ao modo de reprodução dessa espécie, já que o método de melhoramento acaba sendo diferente para plantas autógamas e alógamas.

Plantas autógamas são aquelas em que a taxa de fecundação cruzada é menor do que 5%, ou que a taxa de autofecundação é superior a 95% e plantas alógamas são aquelas em que a taxa de fecundação cruzada é maior que 95% ou que a autofecundação é baixa, menor do que 5%. Como exemplo de plantas autógamas é possível citar soja, tomate e alface, enquanto o milho, cenoura e cebola são exemplos de plantas alógamas.

Linhagens e híbridos

Geralmente para as autógamas o objetivo é a obtenção de linhagens e de alógamas a obtenção de híbridos. Um exemplo de autógamas em hortaliças é a alface, em que o objetivo a partir de uma população segregante em F2 é selecionar os indivíduos que possuam características desejáveis em relação a tamanho de planta, tolerância a pendoamento precoce, ao tipburn (deficiência de cálcio) e outras, sendo que a cada geração de seleção a uniformidade e homogeneidade vão aumentando até se chegar em linhagens, a partir de F6, F7.

Já nas alógamas, como a cebola e cenoura o início do melhoramento é similar ao das autógamas, sendo que após a obtenção das linhagens realiza-se as combinações para obtenção dos melhores híbridos.

Para essas duas classes têm-se ainda algumas exceções e particularidades, como é o caso do tomate em que o objetivo é a obtenção de híbridos, mesmo sendo uma planta autógama e para as brássicas como couve-flor e brócolis em que se faz uso da autoincompatibilidade para a produção de híbridos, além de outros exemplos.

Há ainda uma terceira classe, a das plantas mistas, na qual a taxa de fecundação cruzada fica entre o intervalo de 5% a 95%, sendo assim mais difícil de se determinar um método de melhoramento, como é o caso do algodão, canola e sorgo.

Parâmetros importantes

A busca pelo melhor material genético é o grande objetivo diante de todo esse cenário, e para isso deve ser levado em conta alguns parâmetros que contribuem para que esse objetivo seja alcançado.

Na parte de experimentação a campo a escolha do delineamento mais adequado, de acordo com a quantidade de genótipos, sementes disponíveis e características da área experimental, para que sejam gerados dados confiáveis, a fim de se tomar uma melhor decisão sobre os melhores materiais.

Partindo para a parte de conhecimento de mercado, saber quais as tendências para o futuro da cultura a ser trabalhada, já que para um híbrido ou linhagem a ser desenvolvida levam-se alguns anos.

Do cultivo em si, saber quais as particularidades em relação ao manejo, as principais demandas por parte dos produtores em relação a resistência a doenças por exemplo, vivenciando o dia a dia no campo para que os processos sejam feitos de maneira mais assertiva possível. Da parte genética, propriamente dita, possuir um banco genético de confiança ou, então, iniciar um a partir dos materiais comerciais já existentes e realizando todas as etapas de seleção do programa.

Desafios

Todo esse processo possui um nível elevado de dificuldade, já que são muitas as variáveis envolvidas, como a presença de muitos genes relacionados no controle de um determinado caráter, cada ambiente distinto de produção influencia bastante nos resultados obtidos, além de existir uma interação entre esses ambientes e os genótipos.  Também porque se seleciona para vários caracteres ao mesmo tempo, sendo que nesse sentido, dependendo de fatores como a distância entre os genes por exemplo, tanto uma característica desejável quanto uma indesejável pode ser passada aos descendentes.

Uma frase que resume muito bem os desafios de todo esse processo foi elaborada por Simmonds e Smart, em 1999, que diz: “A cultivar perfeita nunca foi obtida. As cultivares de sucesso são meramente menos imperfeitas do que as pré-existentes”. A natureza por si só, as interações entre os inúmeros ambientes de produção e vários outros componentes e interações nos mostram que o desafio é sempre contínuo, e que a busca pelos melhores genótipos vai sempre continuar em andamento.

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