Por que as lagartas pardas tiram o sono dos silvicultores?

Por que as lagartas pardas tiram o sono dos silvicultores?
Por que as lagartas pardas tiram o sono dos silvicultores?

Publicado em 30 de dezembro de 2019 às 10h49

Última atualização em 15 de maio de 2025 às 16h53

Acompanhe tudo sobre Água, Armadilha, Bacillus thuringiensis, Biológico, Eucalipto, Lagarta, Madeira, Percevejo, Pinus, Plantio, Pulverização e muito mais!

Autor

Pedro José Ferreira Filho
Doutor e professor da Universidade Federal de São Carlos – DCA/UFSCar, campus de Sorocaba (SP)
pedrojf@ufscar.br
Créditos: Pedro José Ferreira Filho

As lagartas desfolhadoras têm grande importância econômica devido à persistência e incremento de danos em cultivos de eucalipto, com aproximadamente 60.000 ha desfolhados por ano no Brasil. Apesar de existirem 10 espécies consideradas primárias no País, a lagarta parda Thyrinteina arnobia é a principal, com a maioria das ocorrências em campo.

A lagarta parda ocorre desde a América Central até o norte da Argentina. No Brasil, essa praga é verificada o ano todo, no entanto, a época de maior ocorrência é entre fevereiro e agosto, com registro em grande parte do País.

As lagartas atacam plantios de eucalipto com seis meses até sete anos de idade, além de rebrotas. Entretanto, o ataque pode ocorrer desde plantios novos, com um mês de idade, até florestas com mais de 20 anos.

Plantios de eucalipto têm sofrido com o ataque da lagarta parda, pois ao longo dos últimos anos essa praga vem sendo registrada com maior frequência nas áreas cultivadas. Isso pode estar acontecendo devido às mudanças climáticas, à característica e comportamento dos materiais genéticos utilizados em campo e, principalmente, devido à redução do número de parasitoides e predadores que podem estar favorecendo o aumento da população deste inseto-praga nesses cultivos de eucalipto.

Danos

Os danos causados por essas lagartas são expressivos, por exemplo, uma desfolha de 100% em cultivo de eucalipto com 2,5 a 3,5 anos de idade, pode reduzir o volume médio de madeira em aproximadamente 40% no ano seguinte ao ataque, e apresentar mortalidade de árvores em torno de 6%. Ataques sucessivos podem causar paralisia no crescimento das plantas no campo.

Monitoramento e controle

A determinação da população de mariposas é realizada com a instalação de armadilhas luminosas, com o nível de controle quando as coletas ultrapassam 100 indivíduos, em média, por armadilha. Nesse caso, aguarda-se de 15 a 20 dias para o início da oviposição dos adultos e eclosão das lagartas, para a aplicação do inseticida.

O controle deve ser coordenado nas áreas de ocorrência, com o objetivo de quebrar o ciclo de desenvolvimento da praga no campo. Para o controle é recomendado o uso de inseticida biológico à base de Bacillus thuringiensis var. kurstaki. Trata-se de um produto biológico (bactéria), de ocorrência natural, que controla de maneira eficaz as lagartas desfolhadoras. O produto é específico para lagartas, ou seja, não oferece risco à saúde do homem e animais, como os pássaros que se alimentam das lagartas mortas.

O mecanismo de ação do B. thuringiensis se dá pela liberação de toxina no sistema digestivo alcalino das lagartas e, por isso, é inofensivo a todos os demais organismos, inclusive aos parasitoides e predadores da lagarta parda, permitindo o restabelecimento do equilíbrio natural, assim que rompido o ciclo do surto atual. A aplicação do B. thuringiensis pode ser realizada por meio da pulverização aérea e/ou terrestre, e deve ser realizada sob rigoroso monitoramento de técnicos.

Custo

O custo da pulverização aérea está em torno de R$ 55,00/ha, com rendimento próximo a 400 ha por dia, dependendo das condições da área e distância da pista de pouso. Rapidez na execução e rendimento operacional são as grandes vantagens dessa operação, pois permite tratar grandes áreas no momento correto.

Já o custo da pulverização terrestre é maior, em torno de R$ 70,00/ha, além dessa tecnologia apresentar menor rendimento operacional, aproximadamente 50 ha/dia. Outro fator que deve ser considerado é a limitação desses equipamentos com relação à fase de desenvolvimento das florestas, pois a grande desvantagem dessa tecnologia ainda é conseguir distribuir verticalmente a pulverização na copa das árvores.

A preservação dos fragmentos florestais nativos ligados com faixas de vegetação nativa, próximos as áreas de cultivo de eucalipto é uma estratégia de manejo que deve ser adotada, pois assim é possível fornecer alimento, proteção e manutenção aos inimigos naturais dessa praga.

Outra estratégia de manejo seria a adoção do controle biológico aplicado, com a liberação de inimigos naturais nas áreas de ocorrência da praga, como os percevejos predadores Podisus nigrispinus, Alcaeorrynchus grandis e Montina confusa, ou o parasitoide de pupas Palmistichus elaeisis.

Programas de melhoramento genético de eucalipto com objetivo de proporcionarem resistência das plantas às lagartas, também devem ser considerados, pois a utilização de espécies resistentes, além de aumentar a capacidade das plantas de suportar danos, aumenta à duração do ciclo ovo-adulto e consequentemente a possibilidade de morte das lagartas.

Considerações finais

A periodicidade indefinida de ocorrência, indefinição de local, associação com outras espécies de plantas e sobreposição de gerações faz com que não existam pacotes prontos para o controle dessas pragas, ficando a conservação de faixas de vegetação nativa, realização do monitoramento para tomada de decisão, preservação, criação e liberação de inimigos naturais, utilização de inseticida biológico, amostragens periódicas e registro do histórico de ocorrência como condutas e técnicas que devem ser consideradas e utilizadas para tentar responder quando, onde e quantos serão os próximos surtos?

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