
Claudia Adriana Görgen
Engenheira agrônoma e doutora em Geociências e consultora
gorgenclaudia@gmail.com
O agronegócio brasileiro é um grande consumidor de fertilizantes. Este consumo de luxo se dá mais pela falta de consciência do manejo sustentável do que pela escassez de recursos naturais.
Além disso, a dependência ou necessidade de importação de fertilizantes é parte do programa de mercado internacional de exportação e importação. O Brasil exporta grãos (especialmente a soja) e, em consequência, importa fertilizantes, uma simples questão de mercado para viabilizar o frete.
Dependemos da importação desses insumos, seguindo o preço exercido pelo mercado. Para reprogramar o modelo de produção, muitas pesquisas têm sido realizadas e novas possibilidades de práticas agrícolas vêm sendo testadas.
Utilizar pó de basalto como remineralizador é apenas uma das inúmeras tecnologias utilizadas no processo de transição agroeconômica do planeta. Assim, reduzir a dependência brasileira de fertilizantes importados vai, obrigatoriamente, reduzir as áreas de cultivo de soja. Os resultados mais recentes indicam que isso é plenamente possível.
Sempre começando do começo!
É essencial entender os diferentes tipos de fertilizante e os diferentes tipos de rochas.
1. Fertilizantes: na legislação brasileira (https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-agricolas/fertilizantes/legislacao/decreto-4954-2004-com-alteracoes-do-dec-8384-2014-planalto.pdf) são considerados vários tipos de fertilizantes.
1) Fertilizante mineral: produto de natureza fundamentalmente mineral, natural ou sintético, obtido por processo físico, químico ou físico-químico, fornecedor de um ou mais nutrientes de plantas;
2) Fertilizante orgânico: produto de natureza fundamentalmente orgânica, obtido por processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou controlado, a partir de matérias-primas de origem industrial, urbana ou rural, vegetal ou animal, enriquecido ou não de nutrientes minerais;
3) Fertilizante mononutriente: produto que contém um só dos macronutrientes primários; d) fertilizante binário: produto que contém dois macronutrientes primários;
4) Fertilizante ternário: produto que contém os três macronutrientes primários;
5) Fertilizante com outros macronutrientes: produto que contém os macronutrientes secundários, isoladamente ou em misturas destes, ou ainda com outros nutrientes;
6) Fertilizante com micronutrientes: produto que contém micronutrientes, isoladamente ou em misturas destes, ou com outros nutrientes;
7) Fertilizante mineral simples: produto formado, fundamentalmente, por um composto químico, contendo um ou mais nutrientes de plantas;
8) Fertilizante mineral misto: produto resultante da mistura física de dois ou mais fertilizantes minerais; (Redação dada pelo Decreto nº 8.384, de 2014)
9) Fertilizante mineral complexo: produto formado de dois ou mais compostos químicos, resultante da reação química de seus componentes, contendo dois ou mais nutrientes;
10) Fertilizante orgânico simples: produto natural de origem vegetal ou animal, contendo um ou mais nutrientes de plantas;
11) Fertilizante orgânico misto: produto de natureza orgânica, resultante da mistura de dois ou mais fertilizantes orgânicos simples, contendo um ou mais nutrientes de plantas;
12) Fertilizante orgânico composto: produto obtido por processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou controlado, a partir de matéria-prima de origem industrial, urbana ou rural, animal ou vegetal, isoladas ou misturadas, podendo ser enriquecido de nutrientes minerais, princípio ativo ou agente capaz de melhorar suas características físicas, químicas ou biológicas; e
13) Fertilizante organomineral: produto resultante da mistura física ou combinação de fertilizantes minerais e orgânicos.
Os tipos de rochas

Rochas: os tipos de rochas, incluindo basalto, que podem ser utilizados como remineralizadores de solos, segundo Suzi Huff Theodoro, na Cartilha de Rochagem divulgada pelo Instituto Brasil Orgânico, são:
1) Anfibolito: rocha metamórfica formada principalmente por anfibólios e feldspatos (plagioclásio).
2) Basalto: rocha ígnea de granulação fina – quando seus cristais não são vistos à vista desarmada – podendo ainda conter grandes quantidades de uma matriz fina, até mesmo vítrea (material amorfo). Essa rocha é constituída principalmente por plagioclásios e piroxênios, e em muitos casos, por olivina. A rocha basáltica geralmente possui cor escura acentuada (rocha máfica).
3) Carbonatito: rocha ígnea ultramáfica constituída essencialmente por carbonatos como calcita e dolomita, além de outros minerais, tais como: magnetita, flogopita, apatita, olivina, piroxênio.
4) Filito: rocha metamórfica de granulação fina constituída basicamente de sericita, clorita, caulinita e quartzo. Tem comumente aspecto sedoso, devido à sericita.
5) Folhelho: rocha sedimentar caracterizada por uma granulação fina, com lâminas facilmente separadas. Formada pela consolidação de camadas de lama, argila ou silte.
6) Granito: rocha ígnea plutônica, ácida, granular e de coloração clara, essencialmente constituída por quartzo e feldspatos alcalinos e a acessoriamente por biotita, muscovita, piroxênio e anfibólios.
7) Gnaisses: grupo de rochas metamórficas originadas por metamorfismo regional, especialmente de alto grau, de textura orientada, granular, caracterizada pela presença de minerais como feldspato, além de quartzo, mica, anfibólio.
8) Fonolito: rocha ígnea eruptiva microcristalina – ou seja, possui minerais muito pequenos – rica em potássio.
9) Granodiorito: rocha ígnea plutônica ácida, granular, de composição intermediária, constituída por plagioclásio, quartzo e feldspato potássico; contém biotita, hornblenda e mais raramente piroxênio.
10) Kamafugito: grupo de rochas ígneas riquíssimas em potássio. Normalmente, o grupo é associado à ocorrência de diamantes.
11) Pegmatito: rocha ígnea de granulação grosseira (o tamanho dos minerais é igual ou maior que 20 mm). A maioria apresenta mineralogia semelhante ao granito. É composto em geral por quartzo, feldspato e mica. Pode conter outros minerais tais como terras raras e gemas (água-marinha, turmalina, topázio, fluorita e apatita, entre outros).
12) Piroxenito: rocha ígnea plutônica composta essencialmente por piroxênio e olivina – esta em menores quantidades. Acessórios comuns são: magnetita, cromita, espinélio, pirrotita e outros sulfetos.
13) Serpentinito: rocha ígnea ultramáfica composta quase inteiramente por minerais do grupo da serpentina.
14) Verdete: rocha sedimentar rica em minerais potássicos (glauconita, ilita e sercita) e com teores de 5 a 15% de K2O.
15) Xisto: rocha metamórfica acentuadamente foliada (laminada), composta predominantemente por minerais micáceos orientados – biotita, muscovita, clorita, sericita, etc. – e por quartzo, em menor proporção.

O que são os remineralizadores?
Os remineralizadores de solo foram definidos no Brasil na Lei nº 12.890/2013: “Material de origem mineral que tenha sofrido apenas redução e classificação de tamanho por processos mecânicos e que altere os índices de fertilidade do solo por meio da adição de macro e micronutrientes para as plantas, bem como promova a melhoria das propriedades físicas ou físico-químicas ou da atividade biológica do solo”.
Posteriormente, essa Lei foi regulamentada pelo Decreto nº 8.384/2014 e pelas Instruções Normativas (IN) 5 e 6 de 2016, publicadas pelo Mapa, onde foram definidos os critérios para registro, garantias mínimas, comercialização e fiscalização desses insumos.
Os remineralizadores estão sendo conhecidos e difundidos como pó de basalto, entre outros inúmeros motivos, porque rochas ígneas foram as primeiras estudadas e a maioria das pessoas (leigos) acredita que toda rocha ígnea é basalto.
A motivação por trás da pesquisa e desenvolvimento do uso de pó de rochas/remineralizadores como alternativa aos fertilizantes tradicionais foi por amor à natureza e também financeiro, ou seja, um “plano B” para complementação mineral em momentos de alta dos preços de adubos e fertilizantes solúveis.
Pó de rocha x fertilizantes importados/nacionais
São princípios totalmente diferentes e complementares. É como comparar a rapidez da ação, no corpo humano, entre um elemento químico presente em um alimento mastigado e ingerido pela boca com a ação de um elemento químico injetado na veia artéria do paciente.
As rochas basálticas são tipicamente formadas por plagioclásios e piroxênios e constituídas por silício, alumínio, ferro, cálcio e magnésio. A contribuição dos elementos Si, Al, Fe, Ca e Mg no crescimento e desenvolvimento das plantas é exatamente igual ao que acontece na aplicação destes elementos de forma prontamente solúvel.
Resultados em campo
Entre os resultados mais significativos das pesquisas recentes que indicam a viabilidade do uso de pó de basalto como fertilizante estão aumento da CTC, rejuvenescimento pela adição de minerais primários com elementos químicos essenciais e bioativação.
A questão fundamental é que, na presença do “pó de rocha de basalto” ocorre uma ativação da microbiota naturalmente presente na rizosfera, desencadeando uma série de reações biogeoquímicas, reestabelecendo a dinâmica nutricional e equilíbrio energético da planta.
O que vem por aí
Os desafios são: estudo e capacitação. É preciso conhecer a mineralogia e a geoquímica do solo em questão, bem como, o manejo realizado pelo produtor e as culturas implantadas, daí então adequar a rocha certa para aquele ambiente.
A aplicação é realizada com o mesmo tipo de equipamento para o calcário. Importante: o melhor equipamento para aplicação de toneladas de remineralizadores é o “espalhador de calcário tipo cocho”. Daí, é só aplicar uniformemente em área total seguindo a recomendação do técnico responsável.
Potencial da técnica
Quanto ao potencial de crescimento e adoção do uso de pó de basalto/remineralizadores na agricultura brasileira nos próximos anos, vai depender do entendimento de que são tecnologias complementares.
Não há competição entre uso de rocha e fertilizantes químicos prontamente solúveis. Sem preconceito e com ação conjunta, só vai aumentar a utilização de remineralizadores, devido, especialmente, ao rejuvenescimento dos solos e pelo aumento de cargas de superfície, promovendo eficácia dos fertilizantes solúveis.