Ellen Toews Doll Hojo
Engenheira agrônoma, doutora em Produção Vegetal – UNESP/FCAV e professora – Centro Universitário Assis Gurgacz (FAG)
ellendollhojo@fag.edu.br
A cebola movimenta bilhões e é uma das hortaliças mais importantes do país — mas também uma das que mais sofre com perdas pós-colheita. No Brasil, parte do problema está na adoção de embalagens inadequadas, como sacarias e transporte a granel, que expõem os bulbos a amassamentos, abrasão e impactos invisíveis que evoluem para podridão.
Estudos da Embrapa apontam perdas entre 30 e 35% apenas na classificação e comercialização. Globalmente, a FAO estima perdas de até 40% na cadeia.
É nesse cenário que as caixas plásticas retornáveis (RPCs), fabricadas em PP ou PEAD, surgem como solução logística, sanitária e tecnológica. Rígidas, ventiladas e reutilizáveis, elas reduzem danos, facilitam rastreabilidade e permitem integração com tecnologias modernas — de atmosfera modificada a sensores IoT.
A fisiologia da cebola e sua vulnerabilidade a danos
O bulbo da cebola é fisiologicamente suscetível a lesões. Mesmo impactos leves, sem sinais visíveis, geram danos subcutâneos que funcionam como porta de entrada para fungos como Botrytis allii e Aspergillus niger.
Esses danos evoluem para podridões, brotação precoce e perda de firmeza — características críticas avaliadas pela indústria e pelo mercado.
Pesquisas destacam firmeza do bulbo e integridade da película como indicadores-chave de longevidade no armazenamento, reforçando a importância do uso de embalagens rígidas que absorvem e distribuem impactos, como as RPCs.

Quanto a caixa certa reduz as perdas?
O impacto é direto e mensurável. Sistemas tradicionais frequentemente ultrapassam 30% de perdas, enquanto países com armazenamento tecnificado, como a Holanda, chegam a menos de 8% graças ao uso de RPCs ventiladas e cura adequada. A melhoria não é apenas operacional: é econômica.
Em Santa Catarina, por exemplo, perdas estimadas pela Epagri alcançaram 30% em sistemas convencionais — números que poderiam ser reduzidos pela metade com embalagens e armazenamento adequados.
Design inteligente: ventilação, empilhamento e tecnologia embarcada
A arquitetura das RPCs é tão estratégica quanto o material que as compõe. Seu design ventilado permite a dissipação eficiente do calor gerado pela respiração dos bulbos, mantendo condições internas mais estáveis e seguras para o armazenamento.
A estrutura reforçada transfere o peso para a própria caixa, evitando que a carga pressione diretamente o produto e eliminando o esmagamento das camadas inferiores.
Além disso, a modularidade dessas embalagens facilita todo o fluxo logístico — da paletização ao empilhamento e à integração com câmaras frias — garantindo um manuseio mais rápido e padronizado.
Outro ponto decisivo é sua compatibilidade com tecnologias como atmosfera modificada e filmes biodegradáveis, que podem ser aplicados diretamente na caixa para prolongar a vida útil dos bulbos, reduzir a brotação e aumentar a segurança do armazenamento.
A Embrapa Instrumentação já testa o uso de compostos bioativos e nanotecnologia em embalagens inteligentes que interagem com o produto, inibindo deterioração.

Rentabilidade e logística: quando a caixa vira lucro
O investimento inicial é maior, mas o retorno é rápido — entre uma e três safras, segundo análises econômicas. Isso porque:
– Reduz custo com embalagens descartáveis;
– Diminui significativamente perdas físicas;
– Aumenta o percentual de cebolas comercializadas como “caixa 1”, de maior valor;
– Facilita rastreabilidade e atende exigências legais do MAPA, ANVISA e CDC.
Redes varejistas já exigem padronização de embalagens, o que torna a adoção de RPCs fator competitivo.
Sustentabilidade e desafios de adoção
As RPCs duram mais de 10 anos, reduzindo resíduos e pegada de carbono. Porém, a adoção em larga escala depende de logística reversa eficiente; capacitação técnica e linhas de crédito (Pronaf, Inovagro, BNDES).
Algumas empresas divulgam especificações padronizadas e alinhadas às demandas do setor, auxiliando produtores na escolha do modelo ideal.
O futuro: sensores IoT, automação e visão computacional
O setor avança para embalagens inteligentes. Pesquisas indicam um futuro próximo onde caixas integradas a sensores monitoram temperatura e umidade em tempo real, emitindo alertas automáticos via IoT.
Sistemas de visão computacional, já usados em outras frutas, evoluem para detectar danos subclínicos em cebolas, permitindo classificação rápida e assertiva.
Painéis da Embrapa discutem o avanço da IA na pós-colheita, indicando uma transição para um manejo totalmente automatizado — com as RPCs como base física dessas tecnologias.

Divisor de águas
A adoção de caixas plásticas retornáveis não é apenas uma recomendação técnica: é um divisor de águas. Elas reduzem danos mecânicos, melhoram a qualidade comercial, prolongam o armazenamento, potencializam tecnologias modernas e aumentam a rentabilidade do produtor.
São, ao mesmo tempo, uma solução de biossegurança, sustentabilidade, eficiência logística e base estrutural para as inovações do futuro.
Quando a embalagem certa entra no processo, a cebola chega melhor ao mercado — e o lucro também.

