Novas variedades de tomate declaram guerra ao TOBRFV

O ToBRFV representa uma das maiores ameaças à produção de tomate no Brasil e no mundo, devido à sua alta transmissibilidade, quebra de resistência genética e potencial de perdas totais. A adoção de cultivares resistentes é hoje a forma mais eficaz, segura e sustentável de proteção.
Foto: Giancarlo Couto
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Giancarlo Couto da Costa

Giancarlo Couto da Costa
Engenheiro agrônomo, produtor de tomate e consultor técnico
giancarlocouto@gmail.com

O Tomato brown rugose fruit virus (ToBRFV), ou simplesmente ‘rugoso do tomateiro’, é um tobamovírus (fam. Virgaviridae) que causa mofo/rugosidade marrom nos frutos e sintomas em folhas e caules.

Foi identificado em 2014/15 em Israel e Jordânia e se espalhou rapidamente por diversas regiões agrícolas, como EUA, México, Itália, Turquia, China e outros

A condições propicias à proliferação do ToBRFV são:

• Cultivos protegidos (estufas, túneis): ideal para manipulação intensa.

• Alta umidade e ausência de higienização: favorecem persistência viral em ferramentas e mãos.

• Uso de sementes contaminadas ou mudas sem certificação fitossanitária.

• Polinização induzidas por abelhas ‘Bombus terrestris’ (estas espécies não são usadas no Brasil), que podem disseminar o vírus entre flores.

Sintomas

Os sintomas são nitidamente observados, sendo que nas folhas nota-se mosaico, enrugamento e clorose, e nos frutos, manchas marrom-rugosas, irregularidade na forma e coloração, frutos murchos/não comercializáveis, frutos com aparência ruim, fora dos padrões de mercado e armazenamento prejudicado.

O ToBFV pode acarretar perdas severas na produção, podendo chegar a 100%,  dependendo do nível de infestação.

Prejuízos

Os prejuízos dados pelo ToBFV podem chegar a 100% se a infestação for alta, devido à queda na produção e descarte de frutos por estarem fora dos padrões de comercialização.

A cultura do tomate envolve altos custos com sementes e mudas, adubos, defensivos, operações de plantio e condução, colheita e frete, podendo ultrapassar R$ 30.000,00/ha no tomate rasteiro e até R$ 100.000,00/ha no tomate de mesa (envarado). Com isso, os prejuízos com perdas por doenças podem ser irreparáveis.

Prevenção e controle

A prevenção e controle podem ser obtidos com uso de sementes testadas/certificadas via RT-PCR ou ELISA; higiene rigorosa de pessoas, ferramentas, estufas – uso de desinfetantes como hipoclorito, tratamento térmico de bandejas; rotação e isolamento de áreas contaminadas; capacitação da equipe e protocolos padrões de biossegurança.

Identificação de genes de resistência

Pesquisadores investigaram, em espécies selvagens de tomate (Solanum habrochaites, S. peruvianum, entre outras), genes associados à resistência ao ToBRFV. Tais genes foram avaliados quanto à sua eficácia em impedir a entrada, replicação ou movimentação do vírus nas plantas.

Já o melhoramento assistido por marcadores moleculares (MAS) permite o rastreamento eficiente de genes de interesse, como os relacionados à resistência, utilizando marcadores de DNA.

O uso dessa abordagem agiliza o processo de cruzamentos, eliminando a necessidade de aguardar o desenvolvimento e infecção da planta, já que a análise genética identifica rapidamente a presença do gene desejado.

Empilhamento de genes (“stacked genes”)

Empresas privadas aplicaram a estratégia de combinar múltiplos genes de resistência em uma mesma cultivar. Essa prática resulta em uma barreira mais efetiva e reduz as chances de adaptação viral.

Diversas organizações de pesquisa avaliam o potencial do sistema CRISPR/Cas9 para a inativação de genes do tomateiro essenciais à replicação viral, como SlTOM1 e SlTOM3. Essa metodologia possibilita o desenvolvimento de plantas imunes de forma natural, sem a introdução de sequências genéticas exógenas.

A maioria das variedades comerciais atualmente disponíveis não são transgênicas, pois os genes utilizados originam-se de espécies compatíveis dentro do próprio gênero Solanum.

Características desejadas

Empresas afirmam que as novas cultivares mantêm brix, sabor, cor, forma e pós-colheita similares às variedades comerciais, características essenciais para a venda do produto final.

Já existem cultivares resistentes ao ToBRFV à venda no Brasil, especialmente para tomate envarado cultivado em estufas, com resistência intermediária ou alta, adaptadas a diferentes regiões e necessidades do mercado.

Para potencializar a resistência, é fundamental adotar protocolos rigorosos de biossegurança e garantir que as áreas se mantenham limpas e devidamente isoladas. O monitoramento sistemático deve ser realizado de forma constante e, além disso, é aconselhável promover treinamentos regulares para toda a equipa envolvida.

Sintomas de TOBRFV nas folhas de tomate

Redução de perdas diretas

Em cultivos com infecção severa por ToBRFV, as perdas podem atingir de 70% a 100% da produção, especialmente em ambientes protegidos ou na produção de tomate industrial. O uso de variedades resistentes permite a manutenção dos níveis produtivos mesmo sob pressão viral, evitando perdas totais e promovendo maior estabilidade na produtividade.

Em um hectare de tomate protegido, os prejuízos podem variar entre R$ 80.000,00 e R$ 150.000,00 em casos de infecção grave. A adoção de variedades resistentes pode reduzir essa perda potencial para menos de 10%, conforme dados apurados pelas empresas privadas.

Considerando que o vírus não possui tratamento curativo, o controle tradicional se baseia em práticas de biossegurança e remoção das plantas infectadas. O emprego de cultivares resistentes proporciona:

• Redução na necessidade de monitoramento intensivo;

• Menor descarte de plantas;

• Diminuição de aplicações preventivas de desinfetantes e sanitizantes;

• Otimização do manejo, reduzindo o retrabalho.

Em determinadas lavouras, estima-se uma economia operacional de até 30% por ciclo.

Valorização da produção

Produtos livres de deformações ou manchas alcançam melhor valor de mercado. Além disso, há redução no descarte pós-colheita e melhoria nos padrões exigidos por destinos internacionais com rigor fitossanitário elevado.

A resistência genética minimiza o risco de falhas generalizadas nas lavouras, oferecendo maior segurança no planejamento financeiro, na celebração de contratos e na organização do cronograma de colheita.

Inovações sinalizam o futuro

Sem dúvida, essas inovações sinalizam um novo momento para o melhoramento genético em hortaliças. O desenvolvimento de novas variedades, que antes levava de oito a 10 anos, agora pode ser realizado em apenas três a cinco anos com o apoio de ferramentas moleculares, acelerando significativamente o progresso no setor.

A precisão obtida por meio de técnicas como edição genética, genômica por marcadores e mapeamento genético permite que características desejáveis sejam incorporadas de forma mais eficiente e segura.

Além disso, a estratégia de empilhar múltiplas resistências resulta em cultivares mais duráveis e bem adaptadas aos desafios atuais, especialmente diante do aumento das viroses emergentes. A colaboração internacional entre empresas e centros de pesquisa facilita respostas rápidas e inovadoras aos desafios fitossanitários das hortaliças.

Logo ali

Olhando para o futuro da genética na luta contra viroses em hortaliças, diversos caminhos inovadores se destacam. A busca por resistência múltipla é uma das estratégias mais promissoras.

Consiste em combinar genes capazes de conferir proteção contra diferentes vírus, como o ToBRFV, begomovírus e TSWV, utilizando, muitas vezes, genes provenientes de espécies selvagens como Solanum habrochaites e S. chilense.

Paralelamente, a edição genética emerge como uma ferramenta revolucionária, sobretudo com a aplicação de técnicas como o CRISPR. Por meio dela, é possível desativar genes do tomate que são essenciais para a replicação viral, como o knockout de SlTOM1/3 para o ToBRFV, acelerando significativamente o desenvolvimento de novas variedades sem necessariamente recorrer à transgênese.

Além disso, o monitoramento em tempo real passa a ter papel fundamental: o sequenciamento diretamente no campo permite detectar novas cepas virais com agilidade, possibilitando que o melhoramento genético se adapte rapidamente às mutações que surgem.

Por fim, a inteligência artificial aliada à genômica preditiva traz um novo patamar de precisão, com modelos que prevêem as melhores combinações genéticas para cada região, otimizando cruzamentos com base em dados sólidos e atualizados.

Diante desse cenário, é possível visualizar um setor muito mais preparado para responder aos desafios fitossanitários contemporâneos, sempre com agilidade e inovação.


Tomate blindado: resistência ao ToBRFV promete mais segurança

Desde 2014, o vírus do rugoso castanho do tomateiro (ToBRFV) tem sido um verdadeiro pesadelo para os produtores.

Altamente contagioso, esse vírus já causou perdas devastadoras em lavouras no mundo todo, afetando a produtividade, elevando os custos de produção e comprometendo a qualidade dos frutos ao longo de toda a cadeia de suprimentos. Hoje, o ToBRFV é considerado um dos maiores desafios fitossanitários da cultura do tomate.

Diante desse cenário desafiador, a Enza Zaden se destaca como uma das pioneiras no combate ao vírus, apresentando uma solução inovadora e eficaz: a introdução da Alta Resistência (HREZ), baseada em reação de hipersensibilidade.

Isso representa um avanço significativo na proteção das lavouras, pois atua bloqueando ativamente a propagação do ToBRFV nas plantas — estabelecendo um novo padrão de segurança e estabilidade para a produção de tomates.

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