A diversidade de subprodutos extraídos de florestas plantadas abrange recursos estratégicos para múltiplos setores. Óleos essenciais, como o cineol obtido de folhas de eucalipto, são amplamente utilizados na indústria farmacêutica devido às suas propriedades antissépticas e expectorantes.
Resinas de pinus, por sua vez, fornecem terpenos que servem de base para adesivos cirúrgicos, tintas industriais e fragrâncias. Na esfera cosmética, destaca-se o óleo de pequi, rico em vitamina A e carotenoides, incorporado em cremes antienvelhecimento e produtos capilares de alto valor.
A indústria alimentícia beneficia-se de óleos comestíveis derivados de sementes de pinus e farinhas funcionais produzidas a partir da casca de pequi, que agregam fibras solúveis a produtos nutricionais.

Esta integração multifacetada transforma resíduos antes desprezados em insumos premium, reduzindo perdas e fomentando cadeias produtivas interconectadas.
Potencial de aproveitamento integral
Entre as espécies plantadas, o eucalipto se destaca pela versatilidade: suas folhas rendem óleos essenciais para farmácia, enquanto resíduos de colheita alimentam biorrefinarias para produção de biocombustíveis.
O pinus oferece uma tríade de valor – resinas para indústria química, cascas para extração de taninos usados em curtumes, e sementes para óleos alimentícios. O pequi, cultivado em sistemas agroflorestais, exemplifica a economia circular com uso integral: polpa para alimentos, amêndoa para cosméticos e casca para biomateriais.
Em contraste, espécies nativas como a araucária (Araucaria angustifolia) fornecem pinhões para alimentação, porém, com limitações operacionais devido a restrições de escala e logística, reforçando a vantagem competitiva das florestas plantadas.
Sustentabilidade e redução de desperdícios
O modelo multiproduto opera sob princípios de economia circular, transformando subprodutos antes incinerados ou abandonados em recursos valiosos. Dados da Embrapa (2021) indicam que a conversão de galhos e cascas em biomassa energética ou compostos bioativos reduz desperdícios para menos de 5%.
Adicionalmente, florestas plantadas sequestram 4,2 gigatoneladas de CO₂ equivalente/ano no Brasil (WRI, 2022), ampliando seu papel na mitigação climática.

Economicamente, atendem 90% da demanda madeireira industrial, aliviando a pressão sobre ecossistemas nativos e criando um ciclo virtuoso onde resíduos geram receita e serviços ambientais.
Aproveitamento integral das florestas plantadas
As florestas comerciais produzem madeira e fornecem subprodutos de origem vegetal conhecidos como produtos florestais não madeireiros (PFNM), sem a necessidade de cortar as árvores.
Esses extrativos incluem resinas, óleos essenciais, gomas e taninos, que podem gerar valor econômico à floresta preservada e contribuir para a bioeconomia. De acordo com a Embrapa, a extração de PFNM é considerada uma prática que agrega valor à floresta, favorecendo aspectos sociais, ambientais e econômicos locais.
Estudos indicam que o uso sustentável desses recursos vegetais pode contribuir para a manutenção da cobertura florestal, conservação da biodiversidade e geração de renda rural.

Subprodutos não madeireiros e usos industriais
Entre os principais subprodutos das plantações florestais estão as resinas de pinus (como colofônia e terebintina), óleos essenciais de Eucalyptus e espécies similares, taninos, látex e outros extrativos.
O óleo de eucalipto é extraído por destilação das folhas e possui aplicações nas indústrias farmacêutica, de perfumaria e alimentícia. No Brasil, as espécies E. globulus, C. citriodora e E. staigeriana são as mais cultivadas para obtenção de cineol, citronelal e citral.
Esses princípios ativos são utilizados em medicamentos, antissépticos, aromatizadores, fragrâncias, fixadores, aromatizantes naturais e conservantes suaves.
As resinas provenientes do Pinus são extraídas por meio de cortes controlados no tronco da árvore em pé e passam por destilação para originar breu e terebintina. O breu encontra aplicação na produção de adesivos, vernizes, plásticos e produtos cosméticos, enquanto a terebintina é usada como solvente em tintas, desinfetantes, inseticidas e integra composições de perfumaria industrial.
Espécies florestais de maior potencial
No cenário brasileiro e latino-americano, destacam-se especialmente as espécies Eucalyptus spp. e Pinus spp., amplamente cultivadas e com alto potencial para aproveitamento integral.
O eucalipto apresenta uma versatilidade notável: suas folhas são ricas em óleos essenciais, amplamente utilizados nas indústrias farmacêutica e cosmética, enquanto resíduos de colheita podem ser destinados a biorrefinarias para a produção de biocombustíveis.
Os pinus, por sua vez, oferecem uma ampla gama de produtos: goma-resina para a indústria química, cascas para extração de taninos, e até sementes para óleos alimentícios. Espécies como o Pinus caribaea (pinus tropical) também são utilizadas para resinagem comercial.
A seringueira (Hevea brasiliensis) é outra espécie de destaque, fornecendo látex natural essencial para a produção de borrachas, com aplicações em adesivos médicos e materiais hospitalares.


Outras espécies tropicais
Já o pequi, cultivado em sistemas agroflorestais, representa um exemplo claro de economia circular: sua polpa é usada na alimentação, a amêndoa em cosméticos, e a casca em biomateriais.
Outras espécies tropicais adaptadas, como Acacia mangium e Spondias spp., embora ainda pouco cultivadas no Brasil, apresentam potencial para fornecer taninos, óleos essenciais e outros produtos de valor econômico.
Por fim, espécies nativas como a araucária (Araucaria angustifolia) também oferecem recursos valiosos, como o pinhão, mas enfrentam limitações operacionais, o que reforça a competitividade das florestas plantadas no país.
Sustentabilidade e redução de desperdícios
O aproveitamento integral significa usar ao máximo a biomassa da floresta plantada, reduzindo resíduos. Por exemplo, as folhas e ramos que sobrariam após o corte para madeira podem ser aproveitados em destilarias de óleo essencial ou em produção de carvão vegetal, conforme o manejo apropriado.
Essa diversificação gera benefícios ambientais: não só evita que componentes úteis sejam descartados, mas também distribui a pressão de exploração ao longo do ciclo das árvores.

De acordo com a Embrapa, a extração de produtos florestais não-madeireiros (PFNM) é compatível com a conservação, pois não há a derrubada de árvores, sendo uma excelente alternativa para agregar valor à floresta em pé.
Além disso, o manejo sustentável de PFNM costuma causar menor impacto sobre o estoque de carbono e biodiversidade do que a extração madeireira convencional.
Tecnologias de extração e processamento
As tecnologias disponíveis vêm facilitando a extração e beneficiamento dos PFNM. No caso dos óleos essenciais de eucalipto, emprega-se a destilação por arraste a vapor, processo tradicional que separa os compostos voláteis das folhas.
Para pinus, a resinagem tradicional (manual) envolve aberturas na casca para coleta de seiva, mas já existem inovações mecanizadas: por exemplo, a empresa Irani (RS) desenvolveu um resinador mecânico que faz cortes na casca por trator, reduzindo o esforço do trabalhador e aumentando a produção em cerca de 20%.
Tecnologias inovadoras
Inovações tecnológicas têm impulsionado a eficiência no aproveitamento multiproduto das florestas. Técnicas como extração supercrítica com CO₂, ultrassom e extração pressurizada permitem isolar compostos termossensíveis com alta pureza e com um maior rendimento, utilizando menos solventes e viabilizando operações em pequena escala.

Essas soluções favorecem o acesso de cooperativas rurais a mercados sofisticados. Biorrefinarias integradas convertem biomassa residual em produtos de alto valor, como etanol celulósico, nanofibras para embalagens biodegradáveis e lignina kraft que já é comercializada por empresas como a Suzano para uso em borrachas, aditivos químicos e como antioxidante na indústria de elastômeros.
No setor farmacêutico, tecnologias como a extração supercrítica e o microencapsulamento têm viabilizado o uso de compostos bioativos de origem florestal com alta pureza e estabilidade, especialmente em fitoterápicos e nutracêuticos.
Esses avanços permitem transformar esses produtos, como óleos essenciais e extratos de cascas e sementes, em insumos de alto valor agregado, ampliando o mercado para comunidades extrativistas e promovendo a integração entre conservação e inovação.
Novas fontes de renda para produtores
A diversificação da produção florestal abre oportunidades econômicas relevantes para produtores. O uso de produtos florestais não madeireiros (PFNM), como a resina de pinus, já movimenta milhões de dólares e gera milhares de empregos, com produção anual de cerca de 100 mil toneladas no Brasil (EPAMIG, 2022).
Clones específicos de eucalipto podem ser destinados aos mercados de medicamentos e perfumaria, agregando valor à biomassa.
Coprodutos industriais, como lignina e nanocelulose, também vêm ganhando espaço como novas fontes de receita, como mostra a iniciativa da Suzano. No Ceará, cooperativas de agricultura familiar aumentaram em 40% sua renda com derivados de pequi para a indústria cosmética (Projeto Biomas, 2023). Em Minas Gerais, produtores de resina de pinus obtêm até R$ 1.200/ha/ano adicionais.
Aproveitamento integral das florestas plantadas
Nos últimos anos, o setor florestal brasileiro tem passado por uma importante transformação no que diz respeito ao aproveitamento total das florestas plantadas, indo muito além da madeira tradicional.
Diversas iniciativas, políticas públicas e colaborações entre setores vêm sendo implementadas para fomentar o uso de Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNM), tornando esta atividade uma verdadeira oportunidade de diversificação e geração de renda para produtores e agricultoras.
O governo federal, por meio do “Plano Nacional de Desenvolvimento das Florestas Plantadas”, estabeleceu diretrizes claras para fomentar o uso de PFNM. O plano incentiva explicitamente a integração entre reflorestamento e atividades como apicultura, extração de óleos essenciais, produção de látex e aproveitamento de frutos e sementes nativas, promovendo uma sinergia que amplia o potencial econômico das áreas plantadas.
O objetivo não é apenas aumentar o valor das florestas comerciais, mas também estimular práticas que contribuem para a conservação ambiental, a geração de emprego local e o desenvolvimento de cadeias produtivas mais resilientes.
Bioeconomia florestal
Além dessas diretrizes, órgãos do governo como o Serviço Florestal Brasileiro têm promovido grupos de trabalho e eventos específicos voltados à bioeconomia florestal. Nesses encontros, especialistas, empresas e representantes rurais compartilham experiências e novos conhecimentos sobre o manejo sustentável dos PFNM, destacando estratégias para maximizar a produtividade sem comprometer a saúde dos ecossistemas.
Por exemplo, há orientações técnicas sobre como coletar resinas, extrair óleos essenciais ou manejar apiários em áreas de eucalipto e Pinus, tudo de forma que agregue valor sem prejudicar a floresta.
Exemplos no campo
No setor privado, empresas reconhecidas do ramo florestal, como Suzano, Klabin e Irani, têm investido pesado em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para extração eficiente de PFNM.
Um dos exemplos mais emblemáticos é a parceria entre a Irani e a startup Real World Agronomy, que resultou no desenvolvimento de resinadores mecânicos capazes de aumentar a produtividade, reduzir o esforço físico dos trabalhadores e agregar um novo fluxo de receita para os produtores.
Além disso, essas empresas têm buscado diversificar o uso dos subprodutos industriais. A Suzano, por exemplo, comercializa lignina extraída do eucalipto não apenas para uso próprio, mas para indústrias de borracha e química, mostrando que até mesmo resíduos da produção de celulose podem se converter em fontes lucrativas de renda.
A colaboração com universidades e institutos de pesquisa, como Embrapa, IPEF e IMAFLORA também merece destaque. Esses centros produzem estudos, manuais técnicos e metodologias de manejo sustentável dos PFNM.
O acesso a esse conhecimento, muitas vezes disponibilizado gratuitamente em portais oficiais, é fundamental para capacitar produtores rurais interessados em iniciar ou aperfeiçoar a extração de resinas, óleos, frutos ou mesmo a implantação de apiários em áreas de florestas plantadas.
Incentivos fiscais
No campo regulatório, os produtores e agricultoras que optam pelo manejo sustentável encontram vantagens adicionais. Existem incentivos fiscais destinados a quem investe em práticas que gerem menor impacto ambiental, além de certificações reconhecidas internacionalmente, como o FSC (Forest Stewardship Council) e o PEFC (Programme for the Endorsement of Forest Certification).

Essas certificações não só ajudam a abrir portas para mercados mais exigentes, como também valorizam os produtos e agregam credibilidade ao negócio.
Movimento ascendente
Portanto, o cenário nacional e latino-americano mostra um movimento crescente em prol do aproveitamento integral das florestas plantadas. O arcabouço de políticas públicas, incentivos, parcerias tecnológicas e troca de informações está mais robusto, permitindo que produtores e agricultoras diversifiquem suas fontes de renda, reduzam riscos econômicos e contribuam para a sustentabilidade ambiental em suas propriedades.
Quem busca competitividade e inovação no campo tem muito a ganhar ao apostar na diversificação dos usos florestais e no aproveitamento de produtos não madeireiros, transformando desafios em oportunidades de crescimento.
Autoria:
Annie Karoline de Lima Cavalcante
Doutoranda PPG Ciências Florestais – UnB
annie.karolinelima@gmail.com
Rossana Cortelini da Rosa
ro.cortelini@hotmail.com
Dione Dambros Raddatz
dionedambros@hotmail.com
Doutores em Ciências Florestais
Fotos usadas: Shutterstock
