Milho safrinha promete boa rentabilidade

Com preços firmes e produtividade crescente, a segunda safra de milho segue como uma aposta lucrativa para os produtores.
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João Vitor Fonseca Sales
Engenheiro agrônomo e coordenador de pesquisa – Fisioplant Pesquisa e Desenvolvimento
joaov0022@hotmail.com
Camila Xavier Rabelo
Gestora de projetos – Fisioplant Pesquisa e Desenvolvimento
camilaxavier1510@hotmail.com
Fernando Simoni Bacileri
Doutor em Agronomia e pesquisador – Fisioplant Pesquisa e Desenvolvimento
feagro@hotmail.com

No Brasil, o milho é cultivado em três safras: a primeira safra, ou safra de verão, que ocorre de agosto a novembro; a segunda safra, conhecida como milho safrinha, semeada de janeiro a maio; e a terceira safra, no nordeste, que é plantada de abril a julho. O milho safrinha tem ganhado destaque na expansão da produção nacional, especialmente por ser cultivado após a soja, atendendo tanto ao mercado interno quanto externo.

Apesar das variações nas condições edafoclimáticas entre as safras, muitas cultivares adaptadas à safra de verão também apresentam bom desempenho na safrinha, devido ao avanço dos programas de melhoramento genético.

Em Destaque
A produção de milho de segunda safra tem ganhado destaque no Brasil devido à sua importância econômica e aos avanços tecnológicos. A produção de milho safrinha no Brasil em 2024 foi estimada em 115,6 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Esse número representa uma queda de 12% em relação à safra anterior, que alcançou cerca de 132 milhões de toneladas.

Embora o cultivo enfrente desafios climáticos e de custo, como geadas e déficits hídricos, ele oferece grande potencial de rentabilidade, superando muitas vezes a produção da primeira safra, devido à alta demanda e à sua integração com o cultivo da soja. Para garantir sua viabilidade econômica, é essencial realizar análises financeiras e estratégicas que considerem os custos, as oscilações de preços e as condições de infraestrutura.

Manejo Ideal
Diante do papel crescente do milho safrinha na produção nacional, é essencial adotar um manejo adequado, especialmente no que diz respeito à adubação, para assegurar uma boa produtividade, mesmo em condições climáticas e de solo desafiadoras.

Os nutrientes mais críticos para o milho safrinha são o nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K) e os micronutrientes, considerando as condições de solo e clima. Embora os princípios de adubação sejam os mesmos da safra de verão, é necessário fazer ajustes para a safrinha. A recomendação de fertilizantes leva em conta a análise do solo, a expectativa de produtividade e a resposta à adubação nitrogenada.

A menor produtividade da safrinha exige doses menores de fertilizantes, enquanto a redução da chuva com a chegada do inverno influencia o parcelamento da adubação. Além disso, o milho geralmente é cultivado após a soja, o que pode impactar a disponibilidade de nutrientes no solo. Por isso, a adubação para a safrinha é ajustada para ser mais econômica e adequada às condições de cada safra.

Correção do solo e adubação equilibrada

Para garantir a máxima produtividade do milho safrinha, a correção do solo e a adubação equilibrada são essenciais. A maioria dos solos no Brasil é pobre em nutrientes, tem alta acidez e níveis elevados de alumínio trocável, o que dificulta o crescimento das plantas.

A correção do solo, com a aplicação de calcário (calagem), é importante para melhorar a produção, especialmente em culturas anuais como o milho. Para o milho safrinha, essa correção é ainda mais necessária, pois ajuda no desenvolvimento de um sistema radicular forte, capaz de enfrentar os estresses hídricos do outono e inverno.

Além disso, é importante tratar as camadas mais profundas do solo (abaixo de 20 cm), o que pode ser feito com a aplicação de gesso agrícola. Embora o gesso não corrija a acidez, ele fornece enxofre e cálcio e ajuda a reduzir o alumínio tóxico no solo, permitindo que as raízes cresçam mais profundamente e a planta suporte melhor a falta de água, aumentando a produtividade.

A aplicação de fertilizantes nitrogenados, tanto no plantio quanto durante as coberturas, é fundamental para o desenvolvimento da cultura, mas é preciso ter cuidado para evitar perdas, especialmente ao usar ureia como fonte de nitrogênio. Além disso, o sistema de plantio direto, aliado à cobertura adequada do solo, oferece benefícios como maior infiltração de água e menor evaporação, proporcionando às plantas uma melhor disponibilidade hídrica.

Estresse hídrico e térmico
O estresse hídrico e térmico, comuns durante o cultivo do milho safrinha, impactam diretamente a fisiologia da planta e sua produtividade. No período da safrinha, a cultura enfrenta desafios como a escassez de água e temperaturas baixas, além de geadas em algumas regiões, resultando em danos fisiológicos significativos.

O estresse hídrico acontece quando a quantidade de água disponível no solo é insuficiente, o que interrompe o fluxo hídrico entre o solo, a planta e a atmosfera, causando desidratação das células e redução do turgor. Isso inibe a expansão das folhas, diminuindo a área transpiratória, limitando a fotossíntese e afetando o crescimento da planta. O fechamento estomático, embora seja uma resposta de defesa, também restringe a entrada de CO2, prejudicando a produção de carboidratos.

O acúmulo excessivo de ATP e NADPH pode, ainda, gerar fotoinibição, resultando em estresse oxidativo e danos celulares, afetando a absorção de nutrientes essenciais. Por outro lado, o estresse térmico, causado por temperaturas abaixo de 15ºC, prejudica o crescimento das raízes e a absorção de água e nutrientes, reduzindo a capacidade de desenvolvimento da planta.

O frio também afeta as estruturas reprodutivas, gerando anomalias nas flores, abortamento de óvulos e esterilidade do pólen, o que diminui a formação e enchimento dos grãos.

Ação dos bioestimulantes e aminoácidos
Produtos como bioestimulantes e aminoácidos podem aumentar significativamente a resistência do milho safrinha a condições ambientais adversas. Esses produtos fortalecem o metabolismo da planta, ativando mecanismos que aumentam sua resiliência frente a estresses como seca, temperaturas extremas e carência de nutrientes.

Bioestimulantes ajudam na ativação de enzimas que favorecem o crescimento saudável e a adaptação ao estresse, além de melhorar a absorção de nutrientes, fortalecer o sistema radicular e melhorar o desempenho da planta nas primeiras fases de crescimento, garantindo maior resistência ao estresse climático.

Além disso, aminoácidos como prolina e glicina estabilizam as proteínas da planta em condições de estresse hídrico ou térmico, protegendo as células e ajudando a regular o equilíbrio osmótico. O uso desses produtos tem mostrado ganhos de produtividade de até 10%, além de melhorar a resistência a doenças e pragas, pois as plantas se encontram em melhores condições nutricionais.

Manejo integrado e pragas e doenças
Para controlar as pragas no milho safrinha, o monitoramento constante é essencial para determinar quando a infestação atinge níveis críticos. Devem ser registradas tanto a presença de pragas quanto a densidade de inimigos naturais, como predadores e parasitoides, que ajudam a controlar essas pragas.

O controle químico só deve ser feito quando a infestação superar o nível de dano econômico, priorizando métodos naturais e biológicos, como o uso de inseticidas seletivos e microbianos, que causam menos impacto ao meio ambiente. Quanto ao controle de doenças, o manejo preventivo é fundamental. A utilização de híbridos resistentes, o plantio na época correta e a rotação de culturas são práticas que ajudam a reduzir a incidência de doenças.

Também é importante eliminar plantas daninhas e voluntárias que servem como hospedeiras para os patógenos. O manejo adequado da irrigação, evitando o excesso de água, e a adoção de boas práticas de adubação e manejo cultural também são essenciais para prevenir doenças e garantir o bom desenvolvimento do milho safrinha.

Rotação de culturas

A sucessão de culturas, como a soja seguida do milho safrinha, impacta diretamente o manejo nutricional e o desempenho fisiológico do milho. A soja, ao ser cultivada antes do milho, retira grandes quantidades de nutrientes do solo, especialmente potássio e fósforo. Como o milho safrinha necessita de potássio para seu desenvolvimento, é importante priorizar a adubação desse nutriente na soja, já que o milho tem limitações técnicas para receber grandes doses de potássio diretamente no sulco de semeadura.

Além disso, o milho safrinha exige doses menores de fósforo em comparação com a soja, mas sua omissão pode prejudicar o desempenho da cultura. A rotação de nutrientes entre as duas culturas deve ser cuidadosamente planejada para evitar o empobrecimento do solo e garantir a produtividade das lavouras. Já a rotação de culturas, que alterna a soja com outras plantas, oferece benefícios adicionais ao solo e à produtividade do milho safrinha. Embora a sucessão soja-milho possa levar a problemas como compactação do solo e o acúmulo de pragas e doenças, a rotação pode ajudar a mitigar esses efeitos.

A diversificação das culturas aumenta a cobertura do solo, o que contribui para a diminuição da compactação, melhora a estrutura do solo, aumenta a resistência a pragas e doenças, e favorece a ciclagem de nutrientes.

Benefícios da adubação foliar

A adubação foliar, aplicada em momentos específicos do ciclo do milho safrinha, traz diversos benefícios e atua como um complemento importante à adubação do solo. Os fertilizantes nitrogenados, amplamente produzidos a partir de fontes não renováveis, como combustíveis fósseis e N2, podem se perder por volatilização ou lixiviação quando aplicados em excesso, além de se tornarem poluentes ambientais.

Nesse contexto, a adubação foliar serve para suplementar o fornecimento de nutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio, que já são fornecidos pelo solo. Deste modo, a incorporação de nitrogênio via adubação foliar com aminoácidos pode suplementar o fornecimento via solo em determinados estágios de crescimento.

Quando o nitrogênio é aplicado diretamente nas folhas, especialmente na forma de aminoácidos livres, ele é rapidamente absorvido pela planta e incorporado ao seu metabolismo, como se fosse um nutriente sintetizado internamente. Isso reduz a necessidade de transformações químicas do nitrogênio, garantindo que a planta utilize esses nutrientes de maneira mais eficiente.

Densidade de plantio

A densidade de plantio tem um impacto significativo na absorção de nutrientes e no crescimento fisiológico do milho safrinha. Ao lançar novos genótipos, as empresas de sementes frequentemente indicam a densidade populacional recomendada para cada híbrido, levando em consideração características como porte da planta, formato das folhas e resistência ao acamamento e quebra.

Híbridos de porte mais baixo e maior resistência ao acamamento podem ser cultivados em populações mais densas, enquanto outras variedades exigem densidades menores. No entanto, a definição da densidade de plantio deve ser ajustada levando em conta não apenas as características do híbrido, mas também fatores ambientais, como a previsão de precipitação, a capacidade de retenção de água do solo, a fertilidade natural do solo e as práticas de adubação.

A densidade populacional ideal precisa ser adaptada a essas variáveis para garantir que as plantas tenham acesso suficiente aos nutrientes, sem sobrecarregar o solo.

Recomendações

Para o milho safrinha, como o potencial produtivo é menor em relação à safra de verão, recomenda-se uma densidade de plantio entre 10 e 20% inferior àquela recomendada para a safra normal. Isso se deve ao fato de que a safrinha enfrenta desafios adicionais, como menor disponibilidade de água e temperaturas mais baixas, o que limita o crescimento das plantas.

Embora a redução da densidade de plantio possa diminuir a competição entre as plantas por recursos, o uso excessivo de sementes pode aumentar os custos e, em alguns casos, intensificar problemas como acamamento e quebra das plantas.

Pesquisas recentes

As instituições de pesquisa estão em constante evolução, buscando oferecer inovações ao agronegócio para melhorar o desempenho das lavouras, incluindo o milho safrinha. Com o objetivo de aumentar a produtividade e a rentabilidade, pesquisas contínuas têm aprimorado o manejo nutricional e fisiológico dessa cultura.

Empresas do setor desenvolvem constantemente bioestimulantes, biológicos, entre outros, combinados com tecnologias que fortalecem as plantas ao nutri-las adequadamente e ativar enzimas específicas, tornando-as mais resistentes e produtivas.

Um estudo realizado por Simões, em 2022, mostrou que o uso de um bioestimulante à base de zinco e molibdênio favoreceu o desenvolvimento inicial do milho, promovendo um sistema radicular robusto e um crescimento vigoroso após sua aplicação. Pesquisas como essa reforçam a importância de práticas inovadoras e sustentáveis para superar adversidades e garantir o sucesso das lavouras de milho safrinha.

Estratégias eficazes

Para otimizar o uso de fertilizantes e reduzir os custos no cultivo de milho safrinha, sem comprometer o rendimento, várias estratégias de manejo podem ser implementadas. A agricultura de precisão, por exemplo, permite adaptar a aplicação de nutrientes conforme as diferenças de solo dentro de um mesmo talhão. Técnicas como mapeamento do solo e a aplicação de fertilizantes em doses variáveis são essenciais para atender às necessidades específicas das plantas, aproveitando ao máximo os nutrientes disponíveis.

A disponibilidade de nutrientes no solo é influenciada por fatores como pH, matéria orgânica e presença de outros elementos. Em solos ácidos, a disponibilidade de fósforo pode ser reduzida, enquanto solos alcalinos podem dificultar a absorção de micronutrientes como o ferro. Além disso, a perda de nutrientes por lixiviação, volatilização ou imobilização microbiana torna imprescindível o uso de adubos de liberação controlada, o manejo integrado de nutrientes e o monitoramento contínuo da fertilidade do solo. Essas práticas garantem maior eficiência na adubação, evitando desperdícios e custos elevados.

Técnicas sustentáveis

Outra abordagem importante é a adoção de técnicas sustentáveis, como a rotação de culturas, a adubação verde e o consórcio de plantas, que promovem maior atividade biológica no solo. Essas práticas podem diminuir a necessidade de fertilizantes nitrogenados minerais, resultando em uma redução de custos e melhorando a fertilidade do solo a longo prazo.

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