Matéria Orgânica do Solo: como transformar o solo em ativo no mercado de carbono

Com dados simples de solo, produtores podem gerar crédito de carbono.
Análise de solo em laboratório mostrando matéria orgânica
Análise de solo - Crédito: Shutterstock
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Você sabia que aquele laudo de análise de solo guardado na gaveta pode valer dinheiro? Não estamos falando de financiamento ou crédito rural, mas sim de um novo mercado: o de créditos de carbono, onde a Matéria Orgânica do Solo (MOS) pode colocar o agricultor brasileiro na vitrine global.

A matéria orgânica do solo como indicador de carbono

A MOS é um dos principais indicadores da saúde do solo e do carbono estocado. Quanto maior o teor de matéria orgânica, mais carbono está sequestrado no solo e menos CO₂ circula na atmosfera. O que poucos sabem é que essa informação, rotineiramente presente nas análises laboratoriais, pode ser convertida em toneladas de CO₂ equivalente — a “moeda” do mercado de carbono.

O mercado de carbono ainda é restrito — e o produtor está fora

Hoje, esse mercado é dominado por grandes emissores e corporações. Os protocolos exigem aferições complexas com drones, sensores e auditorias caras, o que exclui pequenos e médios produtores. Mesmo quem adota práticas regenerativas como plantio direto e rotação de culturas não consegue acessar o sistema por falta de ferramentas acessíveis.

Um modelo nacional com base em dados que já existem

Imagine um sistema onde os dados de matéria orgânica coletados por laboratórios certificados são enviados para uma plataforma digital. Essa base nacional compara a evolução da MOS e calcula o carbono retido no solo ao longo do tempo. Se for identificado um aumento, por exemplo, de 0,2% ao ano, isso já pode gerar créditos de carbono negociáveis.

O Brasil tem estrutura — falta conexão

Já contamos com ferramentas como o Plataforma Agro Brasil Sustentável, o CAR, o SICV-Brasil, e programas como o PronaSolos e o BioAS da Embrapa, que mede saúde do solo com foco em matéria orgânica e microrganismos. O país tem dados, tecnologia e escala. O que falta é integrar essas iniciativas em uma plataforma acessível e validada.

Potencial financeiro: do solo ao crédito

Simulações da Embrapa indicam que um aumento de apenas 1% na MOS pode gerar até 25 toneladas de CO₂ equivalente por hectare em cinco anos. Em uma fazenda de 100 hectares, isso representa até 2.500 tCO₂e, o que pode resultar em R$ 60 mil a R$ 250 mil no mercado voluntário atual, sem alterar drasticamente o sistema produtivo.

Os desafios para incluir o produtor rural

Padronizar análises de solo, garantir auditoria dos dados, criar uma plataforma nacional segura e validar o crédito gerado são obstáculos reais — mas superáveis. O Brasil já tem os fundamentos técnicos e legais. Agora, é preciso articulação política e vontade do setor para construir um modelo inclusivo e transparente.

A COP30 e o solo como símbolo de restauração

A COP30, que acontecerá em Belém (PA) em 2025, é uma oportunidade única para mostrar ao mundo que a agricultura brasileira pode ser parte da solução climática. Não apenas com a conservação da floresta, mas com a restauração produtiva via solos vivos e carbono sequestrado.

BioAS: um ativo estratégico do Brasil

Desenvolvido pela Embrapa, o BioAS já processou mais de 15 mil amostras em todo o país. Ele mede a matéria orgânica do solo com base em parâmetros físicos, químicos e biológicos, criando um banco de dados robusto e público. Incorporar o BioAS aos protocolos de carbono do solo é mais do que estratégico — é uma vantagem competitiva do Brasil frente ao mundo.

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