A história da Fazenda Pau Furado começa nos anos 1960 na região do Paraná, quando a família de Fabiano Mottim Gomes adquiriu uma área inteiramente dedicada à pecuária. Décadas depois, já formado em Engenharia Agronômica e atuando em multinacionais do setor, Fabiano decidiu aplicar na propriedade familiar tudo o que via de mais moderno no campo.
Em 2002, iniciou a conversão da fazenda, direcionando todos os investimentos para a agricultura — processo que exigiu anos de correção de solo, reorganização estrutural e adoção de tecnologias. Assim, a antiga fazenda de gado tornou-se um modelo de produção agrícola moderna e sustentável.
A área original de 3.021 hectares foi dividida pela família, e Fabiano, ao lado do irmão e sócio Luciano Mottim Gomes, seguiu operando 784 hectares. “Hoje, aproximadamente 600 hectares são cultivados com soja, milho, feijão, aveia, cevada e trigo, além de 67 hectares de pinus”, conta Fabiano. De acordo com a auditoria aprovada em 2024, a RTRS registrou mais de 1.400 toneladas de soja e mais de 1200 toneladas de milho certificado.
A gestão é realizada por Fabiano, cinco colaboradores e um gerente operacional, também engenheiro agrônomo, responsável por conduzir auditorias e garantir a eficiência dos processos internos.
Sustentabilidade no DNA
Conforme conta o engenheiro agrônomo, desde o início da transição agrícola, a Fazenda Pau Furado adotou práticas sustentáveis como plantio direto, rotação de culturas, uso de biológicos, manejo conservacionista e rigor nas áreas trabalhista, ambiental e de resíduos.
Esse conjunto de ações preparou o caminho para um marco importante: a adoção da certificação da Mesa Global da Soja Responsável (Round Table on Responsible Soy – RTRS).
A vontade de certificar a propriedade era antiga e ganhou impulso quando Fabiano e Luciano participaram do Programa Fazenda Sustentável da Frísia, uma iniciativa de incentivo às boas práticas sustentáveis no meio rural. As propriedades participantes recebem orientação técnica e são avaliadas com base em critérios de sustentabilidade, por meio de módulos que classificam as propriedades em diferentes níveis. “Entre 1.100 produtores, apenas 50 foram selecionados. E, ao final, apenas dois conquistaram a certificação. No ano seguinte, em 2020, a Fazenda Pau Furado seguiu como a única certificada”, compartilha.
Pilares da certificação RTRS
De acordo com Fabiano, a adaptação inicial exigiu ajustes, especialmente na adequação de estruturas e distâncias exigidas pelo padrão. Mesmo assim, a organização prévia ajudou a tornar o processo mais fluido, e em poucos anos a fazenda alcançou auditorias com zero não conformidades. Para Fabiano, os pilares da RTRS — ambiental, social e econômico — formam a base da evolução da propriedade.
“Com cinco certificações consecutivas, a Fazenda Pau Furado tornou-se referência no Paraná. Conquistou também a primeira certificação de crédito de carbono emitida pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), estimando gerar cerca de 6 mil créditos. Embora ainda não comercializados, os créditos ganharam potencial com o aquecimento do mercado após a COP30”, realça o engenheiro agrônomo.
Outro avanço significativo ocorreu após a visita de representantes da equipe de sustentabilidade da LCD, que ficaram impressionados com o nível de gestão da fazenda. Fabiano descobriu então que a empresa paga um bônus de até US$ 2 por tonelada de soja sustentável física. “Então, após adotarmos a certificação RTRS, passamos a receber o valor adicional e decidimos entregar 100% da soja para a companhia, pela seriedade e alinhamento com sua visão de futuro”, realça.
E a história da fazenda segue inspirando outros produtores. Segundo Fabiano, mais de 60 instituições já visitaram a propriedade nos últimos anos, e o engenheiro agrônomo leva essa experiência também para suas áreas em Nova Mutum no Mato Grosso.
Diante das transformações geradas pela certificação, o conselho de Fabiano para quem deseja iniciar se baseia em um pensamento: “sustentabilidade é um caminho sem volta”. Para ele, o produtor moderno precisa ir além da matéria-prima, agregar valor e buscar mercados diferenciados — e a certificação RTRS é o primeiro passo para essa transformação.
