O cultivo do morango (Fragaria x ananassa) tem ganhado destaque no cenário agrícola brasileiro e internacional, não apenas pelo seu alto valor comercial, mas também pela crescente demanda por frutas de qualidade, livres de resíduos químicos e produzidas de forma sustentável.
A hidroponia aplicada ao morangueiro proporciona vantagens significativas, como maior controle sobre os fatores ambientais, uso racional da água, menor incidência de pragas e doenças, e aumento da produtividade por área.
Além disso, sistemas hidropônicos favorecem práticas agrícolas urbanas e verticais, viabilizando o cultivo em regiões antes consideradas inadequadas ou inviáveis para a fruticultura.
Evolução da técnica
Nas últimas décadas, inovações tecnológicas, como sistemas NFT (Nutrient Film Technique), o uso de substratos inertes e o monitoramento automatizado de nutrientes impulsionaram uma verdadeira revolução na forma como o morango é produzido.
A expansão da hidroponia como tecnologia aplicada ao cultivo de morangos responde diretamente aos desafios impostos pela agricultura contemporânea: escassez de recursos hídricos, degradação do solo, demanda crescente por alimentos de alta qualidade e práticas sustentáveis de produção.
Diferente dos métodos tradicionais em solo, a hidroponia permite o cultivo em ambientes controlados, otimizando o uso de água e nutrientes e reduzindo consideravelmente os impactos ambientais.
Essa técnica não apenas melhora a eficiência produtiva, como também amplia o potencial de cultivo em regiões urbanas, periurbanas e áreas com limitações edafoclimáticas.

Bom para toda a cadeia
Com sistemas que variam de bancadas suspensas a estruturas verticais altamente tecnificadas, o cultivo hidropônico de morango garante melhor ergonomia ao produtor, uniformidade no desenvolvimento das plantas e maior previsibilidade na colheita.
Dessa forma, os produtores hidropônicos conseguem atender com maior regularidade os mercados locais e regionais, oferecendo frutos com alto padrão de qualidade, livres de contaminantes do solo e com menor uso de defensivos químicos.
Esse cenário configura uma verdadeira revolução no sistema produtivo do morango, aproximando a agricultura de precisão da fruticultura e apontando para um futuro mais sustentável, eficiente e tecnificado.
Fruticultura de precisão
Entre os principais fatores que colocam a hidroponia em vantagem frente aos sistemas convencionais de cultivo, destaca-se o controle preciso da nutrição mineral das plantas.
Ao fornecer diretamente às raízes uma solução nutritiva balanceada, o sistema hidropônico permite ajustes rigorosos na concentração de nutrientes essenciais, bem como no pH e na condutividade elétrica da solução, garantindo máxima absorção e minimização de perdas por lixiviação ou fixação em partículas do solo.
No cultivo do morango, essa nutrição de precisão é crucial para a obtenção de frutos com alto padrão de qualidade. Nutrientes como potássio (K) e cálcio (Ca) desempenham papel central na firmeza e durabilidade dos morangos, enquanto o nitrogênio (N), embora essencial para o desenvolvimento vegetativo, deve ser cuidadosamente dosado para evitar frutos excessivamente aquosos ou com menor teor de açúcares.
Outros elementos, como magnésio (Mg), ferro (Fe), boro (B) e zinco (Zn) contribuem para processos vitais, como fotossíntese, floração e resistência ao estresse fisiológico, sendo especialmente importantes em fases fenológicas críticas.
Tecnologia à frente do processo
A gestão automatizada desses elementos, possível por meio de sensores e softwares acoplados a sistemas fertirrigantes, resulta em maior uniformidade da produção, frutos mais doces e com menor incidência de distúrbios fisiológicos, elevando a competitividade do morango hidropônico nos mercados nacional e internacional.
Outro aspecto determinante do sucesso da hidroponia é sua contribuição significativa para a redução do uso de defensivos agrícolas. A ausência de solo elimina diversos vetores de doenças e pragas, como fungos do gênero Phytophthora e nematoides, que são comuns em sistemas convencionais.
Além disso, a produção em ambiente protegido e controlado reduz drasticamente a incidência de doenças foliares, o que diminui a necessidade de pulverizações constantes.
Sem resíduos tóxicos
Com menos intervenções químicas, os morangos produzidos em sistema hidropônico apresentam baixíssimos índices de resíduos de agrotóxicos, atendendo aos rigorosos padrões de segurança alimentar e favorecendo a produção de alimentos mais saudáveis e com maior valor agregado.
Essa característica tem ampliado a aceitação dos morangos hidropônicos em mercados exigentes, como o europeu, além de abrir espaço para certificações de produção sustentável e orgânica, quando associada a boas práticas agrícolas.
Além dos benefícios sanitários, a redução do uso de defensivos contribui para a preservação da biodiversidade local, proteção dos recursos hídricos e saúde do trabalhador rural, posicionando a hidroponia como aliada dos princípios da agricultura regenerativa e da responsabilidade socioambiental.

Hora de escolher
A escolha do sistema hidropônico adequado é um dos fatores determinantes para o sucesso técnico e econômico do cultivo de morango. Diversos modelos vêm sendo utilizados com êxito em diferentes regiões do Brasil e do mundo, cada um com características específicas que influenciam a produtividade, o manejo e a adaptação às condições locais de produção.
Entre os sistemas mais difundidos, destacam-se o NFT (Nutrient Film Technique), o sistema de substrato em vasos ou sacos, o sistema semi-hidropônico e os modelos verticais.
O sistema NFT (Técnica do Filme Nutriente) é amplamente utilizado por sua alta eficiência e simplicidade. Nesse modelo, as plantas são cultivadas em canais levemente inclinados por onde circula uma lâmina fina de solução nutritiva, em fluxo contínuo.
As raízes ficam parcialmente imersas nesse filme de nutrientes, o que garante excelente oxigenação e aproveitamento dos insumos. O NFT é indicado para estufas bem estruturadas, com controle de temperatura e sistemas automatizados de irrigação e fertirrigação, sendo ideal para produções intensivas de alta densidade.
Em substrato
Outro sistema amplamente adotado é o cultivo em substrato, que utiliza materiais inertes como fibra de coco, perlita, vermiculita ou mistura de turfa e casca de arroz carbonizada.
Os morangueiros são cultivados em vasos ou sacos dispostos sobre bancadas suspensas, enquanto a solução nutritiva é aplicada por gotejamento. Esse modelo oferece maior segurança em caso de falhas no fornecimento de energia elétrica e é mais tolerante a oscilações ambientais.
Além disso, possibilita fácil adaptação por pequenos e médios produtores e permite uma transição gradual do cultivo convencional para o hidropônico.
Semi-hidroponia
O sistema semi-hidropônico representa uma alternativa intermediária, combinando o uso de substratos com a recirculação parcial da solução nutritiva. É frequentemente utilizado por produtores que desejam reduzir custos com infraestrutura sem abrir mão de parte dos benefícios do controle hidropônico.
Já os sistemas verticais, mais recentes e inovadores, consistem na disposição das plantas em colunas ou torres, otimizando o uso do espaço vertical e aumentando a produtividade por metro quadrado — uma solução promissora especialmente para áreas urbanas ou com limitação de solo agricultável.
Leve em conta sua realidade
Cada um desses sistemas possui vantagens e limitações, e sua adoção deve considerar fatores como o clima da região, o nível de tecnificação disponível, a mão de obra qualificada e o perfil do mercado consumidor.
No entanto, todos compartilham o princípio fundamental de proporcionar um ambiente de crescimento mais controlado e eficiente, o que coloca a hidroponia na vanguarda da modernização do cultivo de morango.
Desafios ainda existem
Apesar de seus inúmeros benefícios, a implantação de um sistema hidropônico para o cultivo de morangos ainda apresenta desafios técnicos e econômicos consideráveis, especialmente para pequenos produtores e agricultores familiares.
A adoção dessa tecnologia requer um planejamento rigoroso, conhecimento técnico especializado e investimentos iniciais relativamente elevados, o que pode ser um obstáculo à sua popularização em larga escala.
Entre os principais desafios técnicos, destaca-se a necessidade de manejo preciso e contínuo da solução nutritiva, o que exige domínio sobre fisiologia vegetal, nutrição mineral, condutividade elétrica e pH.
Erros na formulação ou aplicação dos nutrientes podem comprometer toda a produção em pouco tempo. Além disso, o sistema hidropônico é sensível a falhas operacionais, como interrupções no fornecimento de energia ou entupimentos nas linhas de irrigação, exigindo monitoramento constante e manutenção preventiva.
Custo x retorno
Do ponto de vista econômico, o custo inicial de implantação — que envolve estruturas como estufas, bancadas, reservatórios, bombas, painéis de controle e sensores — pode ser significativamente mais alto do que o cultivo convencional.
Esse investimento, embora compensado no médio prazo pela produtividade e qualidade superiores, exige acesso a crédito rural, planejamento financeiro e viabilidade comercial comprovada.
Para superar esses desafios, algumas estratégias vêm se mostrando eficazes. A capacitação técnica dos produtores é essencial e pode ser promovida por meio de cursos, assistência técnica especializada, parcerias com universidades e programas de extensão rural.
Linhas de financiamento
O acesso a linhas de financiamento específicas para agricultura de precisão, oferecidas por instituições como o BNDES e o PRONAF Mais Alimentos, também tem facilitado a modernização de unidades produtivas. Além disso, a adoção gradual do sistema — começando com unidades piloto e escalonando a produção à medida que o conhecimento se consolida — permite reduzir riscos e ampliar o domínio técnico sobre a atividade.
Por fim, a criação de cooperativas, associações e redes de comercialização direta, como feiras, cestas e vendas por e-commerce, tem possibilitado maior retorno econômico e valorização dos produtos hidropônicos no mercado.
Ao enfrentar esses desafios com inovação, capacitação e cooperação, a hidroponia consolida-se não apenas como uma alternativa viável, mas como um novo paradigma produtivo para o cultivo de morango no Brasil.
