Etanol de milho: o combustível que está transformando o agronegócio

Em uma década, o etanol de milho saiu do zero para conquistar 8,2 bilhões de litros.
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A produção de etanol de milho segue em franca ascensão no Brasil. Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), o volume saltou de 520 milhões de litros em 2017 para 8,2 bilhões de litros na safra 2024/2025 — um avanço superior a 1.500% em menos de uma década.

O crescimento acelerado reflete a combinação de fatores estratégicos: a abundante oferta de milho a preços competitivos, os avanços no melhoramento genético e a adoção de usinas flex, capazes de processar tanto cana quanto milho e comercializar o DDG (grão seco de destilaria), subproduto de alto valor utilizado na nutrição animal.

Com esse ritmo, o país já ocupa a segunda posição no ranking global de produção e deve ultrapassar a marca de 10 bilhões de litros de etanol de milho na safra 2025/26, consolidando-se como potência mundial em biocombustíveis.

Fábrica da FS, unidade de Sorriso (MT)

Segundo executivos e especialistas do setor, o avanço acelerado do etanol de milho é impulsionado por um modelo de negócios que parece imbatível. A grande oferta do grão a preço competitivo passa por uma tecnologia industrial bem estabelecida, de origem americana – nos EUA, maior produtor de etanol do mundo, o milho é a matéria-prima principal.

Etanol de milho em números

O Brasil hoje conta com 24 biorrefinarias de etanol de milho, segundo dados da União Nacional do Etanol de Milho (Unem). Além disso, 16 novas usinas receberam autorização, e outras 16 já estão em construção, o que permitirá dobrar a produção nacional nos próximos anos.

“O ambiente é bom, perfeito, ainda mais por ser uma cultura de segunda safra, ou seja, integrada à soja. Então não é opção de plantio, é uma integração de culturas, independente do valor de mercado ou não. Ela existe. Então você tem essa garantia desta oferta da biomassa da matéria-prima”, disse o presidente da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), Guilherme Nolasco.

O número de biorrefinarias de milho ainda é modesto na comparação com as de cana-de-açúcar. Elas representam mais de 90% das usinas do país, somando etanol e açúcar. “Você tem aí uma projeção desses R$ 40 bilhões de investimentos para os próximos anos, onde a gente pode dobrar essa produção, chegando a mais de 20 bilhões de litros. O grande desafio é calcular a curva entre a capacidade de crescimento da produção e a demanda. Nós não podemos errar esse time, porque nós não podemos ter mais produção do que demanda. Você colapsa o setor ou desvaloriza o produto”, completou Nolasco.

Guilherme Nolasco, presidente da Unem

O etanol de milho tem produção contínua o ano todo. Isso mitigou o efeito da crise da entressafra da cana-de-açúcar. O setor de milho trouxe uma oferta linear, beneficiando inclusive o consumidor, que tem o produto disponível o ano todo.

“Você não tem mais grandes variações de preço. Aí ele também trouxe a oportunidade para essas usinas de cana-de-açúcar no período da entressafra, produzir etanol de milho com um investimento bem menor. Porque aproveita a área de geração de vapor, energia, caldeira”, pontua o presidente da Unem.

Produção em alta: de 520 milhões a 8,2 bilhões de litros em 10 anos

A produção nacional de etanol de milho cresceu mais de 1.500% em menos de uma década. Entre 2017 e a safra 2024/25, o salto foi de 520 milhões para 8,2 bilhões de litros, e a previsão para 2025/26 é ultrapassar 10 bilhões de litros, representando mais de 25% do etanol brasileiro.

O crescimento é impulsionado por:

– Abundância de milho: preços competitivos e produção robusta.

– Avanços genéticos: híbridos mais eficientes para indústrias.

– Tecnologia industrial consolidada: know-how importado dos EUA.

– Usinas flex: processam milho e produzem DDG/DDGS para nutrição animal.

O DDG (grão seco de destilaria) é subproduto de alto valor utilizado na nutrição animal / FS

Nutrição animal: Brazilian Distillers Grains

Durante a produção de etanol, surge um subproduto valioso: os DDG/DDGS, conhecidos internacionalmente como Brazilian Distillers Grains.

Esses farelos de milho têm alto valor nutricional e entram nas dietas de bovinos, suínos, aves, peixes e pets.

Em 2023, Unem e ApexBrasil firmaram convênio para promover o DDG/DDGS no mercado internacional, abrindo portas para exportação e consolidando a produção sustentável brasileira.

“A segunda safra não concorre com a soja e ainda retorna para a cadeia alimentar como ração”, destaca o professor Luis Augusto Barbosa Cortez, da Unicamp.

Expansão e investimentos: R$ 40 bilhões na próxima década

O setor brasileiro de etanol de milho atraiu investimentos vultosos, contemplando:

  • 16 novas usinas autorizadas
  • 5 bilhões de litros adicionais de capacidade
  • R$ 25 bilhões em logística e armazenagem

Empresas como FS e Inpasa lideram a expansão, com foco em tecnologia americana e sustentabilidade, incluindo projetos de captura de carbono.

A FS é a primeira produtora de etanol do Brasil 100% a partir do milho. Iniciou suas operações em 2017 e hoje, com três unidades fabris, em Lucas do Rio Verde, Sorriso e Primavera do Leste, em Mato Grosso, e escritório em São Paulo. Além do etanol, a companhia possui tecnologia de ponta para a fabricação de produtos para Nutrição Animal, óleo de milho e energia elétrica.

Luís Augusto Barbosa Cortez, professor da Unicam

O etanol de milho permite tirar o boi do pasto, intensificando a produção e liberando terras degradadas, apontando impacto na redução de emissões de carbono e aumento da produtividade agrícola.

Etanol de milho pode ajudar a frear o desmatamento

Hoje, o país é o segundo maior produtor mundial de etanol de milho, atrás apenas dos EUA, e ocupa o 3º lugar na produção de milho, atrás de Estados Unidos e China.

Para o professor Luís Augusto Barbosa Cortez, da Unicamp, o grande diferencial do etanol de milho vai além do combustível em si. O que mais o motiva é o DDG (dried distillers grains), ou farelo de milho, um subproduto gerado no processo de produção do etanol que pode ser usado como ração animal.

“O DDG tem uma característica crucial: ele reduz a necessidade de pastagem para o gado”, explica Cortez. “Essa redução pode ser significativa e representa um impacto ambiental positivo, pois libera áreas que podem ser destinadas à agricultura ou até ao reflorestamento.”

O professor lembra que a relação entre biocombustíveis e uso da terra é um tema antigo e polêmico. Ele cita o pesquisador norte-americano Timothy Searchinger, autor de um estudo de 2007 que analisou o impacto da expansão do etanol de cana em São Paulo.

O trabalho apontou que, ao ocupar áreas antes usadas como pastagem, o avanço da cana poderia indiretamente estimular o desmatamento na Amazônia — um fenômeno batizado de Mudança Indireta no Uso da Terra (MIUT).

FS

Força extra

A discussão ganhou força nas décadas de 2000 e 2010, quando a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) chegou a reduzir a estimativa de redução de gases de efeito estufa atribuída ao etanol brasileiro. “Mesmo assim, o etanol de cana do Brasil continuou sendo reconhecido como um biocombustível avançado, por causa de sua alta eficiência ambiental, ao contrário do etanol de milho americano, cuja produção depende de gás natural”, ressalta Cortez.

O pesquisador explica que, no caso brasileiro, o contexto das emissões de gases de efeito estufa é diferente dos principais emissores do planeta. “Nos grandes países, o setor energético é o principal responsável pelas emissões. Aqui, os maiores impactos vêm do desmatamento e da pecuária. A energia representa apenas cerca de 28% do total das emissões nacionais — e, ainda assim, temos uma matriz majoritariamente renovável: cerca de 95% da eletricidade vem de fontes como hidrelétricas, solar, eólica e bioenergia.”

Estratégia

Nesse cenário, o etanol de milho aparece como um agente estratégico para ampliar o papel dos biocombustíveis e reduzir a pressão sobre o uso da terra. “Ao produzir ração animal e reduzir a necessidade de pastagem, o etanol de milho ajuda a conter o desmatamento e a abrir espaço para sistemas mais integrados e sustentáveis”, resume Cortez.

Segundo ele, o potencial desse biocombustível é duplo: manter o Brasil como líder em energia renovável no transporte e contribuir para baixar as emissões associadas à pecuária e ao desmatamento. “É uma oportunidade de ouro para integrar energia, agricultura e sustentabilidade em um mesmo modelo de desenvolvimento.”

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