Diversidade do solo e a importância de mantê-lo vivo

O plantio direto é uma das práticas que, com o decorrer dos anos, apresenta alguns benefícios à saúde do solo, como o maior acúmulo de matéria orgânica, formação de palhada, entre outros.

Publicado em 1 de junho de 2021 às 11h37

Última atualização em 1 de junho de 2021 às 11h37

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Daniele Maria do Nascimento
Engenheira agrônoma e doutora em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
Marcos Roberto Ribeiro Junior
Engenheiro agrônomo e doutorando em Agronomia/Proteção de Plantas – UNESP
marcos.ribeiro@unesp.br
Adriana Zanin Kronka
Engenheira agrônoma, doutora em Agronomia/Fitopatologia e docente – UNESP

Muito se fala em saúde das plantas e quase nada em saúde do solo. Mas, afinal, como esse componente pode afetar a produtividade das culturas? E porque é importante considerarmos o manejo do solo durante o planejamento da safra? A saúde do solo nada mais é que a capacidade do solo de atuar como um ecossistema, sustentando as principais atividades agrícolas, como o cultivo das mais diversas culturas.
Nos últimos anos, por meio de novas técnicas de manejo e o desenvolvimento de novas variedades, estamos observando um aumento na produtividade de várias culturas de importância econômica, como o feijão, por exemplo. Mas, se por um lado estamos cada vez mais capacitados, por outro, um importante ponto vem sendo deixado de lado: a saúde do solo.
Para a cultura do feijão, em especial, isso pode inviabilizar o cultivo em certas áreas, devido à maior incidência de doenças causadas por patógenos presentes no solo.

Caso específico

O feijoeiro é afetado por diversas doenças, cada qual com suas particularidades em relação às condições ambientais. A podridão radicular seca, por exemplo, causada por espécies do gênero Fusarium, é favorecida por temperaturas amenas e umidade mais alta do solo, condições ocorrentes na região centro-sul do País, onde se concentram os principais produtores de feijão.
Nas lavouras afetadas, é comum observarmos reboleiras com plantas menos desenvolvidas e um sistema radicular necrosado, incapaz de absorver adequadamente água e nutrientes. O Fusarium spp. produz estruturas de resistência (clamidósporos) que podem permanecer por anos no solo, e coloniza saprofiticamente restos culturais e matéria orgânica. Ou seja, populações desse fungo tendem a se manter e sobreviver nas lavouras por muito tempo.
O clássico “triângulo das doenças” pode explicar porque, em certas áreas, é quase que inevitável termos a ocorrência da podridão radicular. Para que a doença aconteça, precisamos de apenas três fatores: hospedeiro (planta suscetível), patógeno e ambiente favorável, cada qual representando um vértice do triângulo.
Nas grandes regiões produtoras, onde sempre teremos o hospedeiro, o patógeno e as condições que favorecem seu desenvolvimento, precisamos aprender a lidar com tais doenças.
O ecossistema do solo pode e deve ser manejado de modo a favorecer a ocorrência de antagonistas, que irão combater os fitopatógenos e reduzir as populações destes últimos.

Práticas que beneficiam o solo

O plantio direto é uma das práticas que, com o decorrer dos anos, apresenta alguns benefícios à saúde do solo, como o maior acúmulo de matéria orgânica, formação de palhada, entre outros. Todos esses fatores afetam diretamente os patógenos, assim como seus antagonistas presentes no solo.
O mofo branco, doença importante na soja, feijão, algodão, girassol, entre outras, pode ser manejado por meio da manutenção da palhada. O fungo possui estruturas de resistência denominadas escleródios, que podem sobreviver por anos no solo. Na ocorrência de condições favoráveis (umidade prolongada e temperatura entre 10 a 21º C), esses escleródios germinam. A palhada atua como uma barreira física, impedindo-os de receberem iluminação e, consequentemente, de germinarem.
O uso de plantas de cobertura também pode auxiliar no controle de patógenos habitantes do solo. Em estudos conduzidos na Embrapa Arroz e Feijão, a incidência de murcha de Fusarium no feijoeiro foi menor nas rotações com Brachiaria brizantha, milheto, braquiária consorciada com milho (sistema Santa Fé) e capim mombaça. Sorgo, estilosante, crotalária e guandu, por sua vez, proporcionaram um maior índice de plantas com sintomas de murcha.
A rotação de cultura com plantas não hospedeiras é uma medida que pode reduzir a população de certos patógenos no solo, embora a maioria produza estruturas de resistência e possa sobreviver na ausência de seu hospedeiro principal. Além do mais, alguns patógenos têm uma ampla gama de hospedeiros, e torna difícil controlá-los pela rotação de culturas.
Um exemplo é o fungo Macrophomina phaseolina, agente causal da podridão em diversas culturas, que tem pelo menos 1.400 hospedeiros já relatados. Por isso é importante ressaltarmos que os métodos de controle devem ser implementados em conjunto, nunca isoladamente.

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