A produção brasileira de laranja deve atingir 320 milhões de caixas de 40,8 kg (13 milhões de toneladas) na safra 2025/26, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
O número é superior ao ciclo 2024/25, marcado pela quebra severa de produção, estimado em 300 milhões de caixas (12,3 milhões de toneladas) — o menor volume desde 1988.
A área total de pomares permanece estável em 590 mil hectares. Só em São Paulo e Triângulo Mineiro, principais polos de cultivo, a produção deve alcançar 314,16 milhões de caixas, 36% acima da safra anterior, favorecida por uma segunda florada vigorosa, condições climáticas adequadas e adoção de irrigação e pomares de alta densidade.

Estoques reduzidos e preços sustentados
Mesmo com a recuperação, os estoques globais seguem baixos, mantendo o mercado em alerta. Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Esalq/USP), o equilíbrio entre oferta e demanda é crucial para evitar volatilidade nos preços internacionais do suco de laranja concentrado e congelado (FCOJ).
Entre julho de 2024 e abril de 2025, as exportações brasileiras recuaram 21,7% em volume, mas a receita subiu 36,7%, impulsionada por preços internacionais elevados. Ainda assim, o setor enfrentou a elevação de 10% na tarifa de exportação dos EUA, medida que não atinge o México, principal concorrente brasileiro no mercado norte-americano.
Renato Garcia, coordenador do Projeto Citros/Cepea, ressalta: “O aumento dos custos de implantação e manutenção dos pomares pressiona as margens. A sustentabilidade da citricultura depende de preços remuneradores, irrigação eficiente, adensamento de pomares e, sobretudo, do controle do greening.”
Alívio com isenção de tarifas nos EUA
Em agosto, a exclusão do suco de laranja da nova tarifa de importação de 40% pelos Estados Unidos trouxe fôlego ao setor. Com estoques reduzidos no mercado norte-americano, os preços pagos à indústria brasileira subiram 4,61%, alcançando R$ 45,42/cx de 40,8 kg (Cepea).
No mercado de mesa, no entanto, houve queda de preços em diversas variedades, com exceção da poncã, que valorizou 8,75%, cotada a R$ 66,18/cx de 27,2 kg.
Limão: recordes e desafios
A lima ácida Tahiti vem se destacando como um dos produtos mais dinâmicos da fruticultura brasileira. Em 2024, as exportações atingiram recordes e mantiveram ritmo forte em janeiro de 2025.
O principal destino é a União Europeia, mas o mercado interno também apresenta potencial de crescimento, já que o consumo per capita no Brasil ainda é baixo.
Segundo a Embrapa, novas cultivares com maior produtividade vêm sendo desenvolvidas, enquanto tecnologias como irrigação por gotejamento permitem escalonamento da safra.
Porém, o cancro cítrico preocupa os produtores: em anos de clima quente e úmido, a doença reduz a qualidade e restringe as exportações.
Tangerina: expansão em Minas Gerais e São Paulo
O Brasil é o quinto maior produtor mundial de tangerinas, responsável por 2,2% da produção global em 2023 (Atlas Socioeconômico do RS). A safra de 2025 deve crescer, puxada por Minas Gerais, onde a Emater-MG projeta aumento de 3,1% na produção de ponkan, totalizando 238,6 mil toneladas.
São Paulo lidera a produção nacional, com 323,6 mil toneladas, enquanto o Vale do Ribeira se fortalece com investimentos em qualidade e manejo. O cultivo da tangerina, de fácil manejo e alta produtividade, favorece a agricultura familiar, mas enfrenta o avanço do greening e oscilações de preços ligadas a clima e custos de produção.

Entre potencial e riscos
A citricultura brasileira mostra vitalidade e resiliência. A recuperação da safra de laranja, os recordes nas exportações de limão e a expansão da tangerina consolidam o Brasil como protagonista mundial. Contudo, a manutenção da competitividade depende de inovação, controle fitossanitário e estratégias de diversificação.
“O futuro do setor passa por equilibrar produção, qualidade e custos, para garantir que o Brasil não apenas lidere em volume, mas também em valor agregado”, conclui Garcia, do Cepea.