A crescente resistência de plantas daninhas representa um dos maiores desafios na agricultura moderna. Entre as espécies mais preocupantes está o capim amargoso (Digitaria insularis), que tem causado sérios prejuízos aos produtores devido à sua resistência a herbicidas e à dificuldade de controle.
O impacto das plantas daninhas resistentes
As plantas daninhas resistentes aumentam significativamente os custos de produção e podem levar a perdas de até 100% na produtividade, dependendo da cultura. A resistência aos principais herbicidas utilizados dificulta o manejo e compromete a rentabilidade das áreas cultivadas.
A principal causa desse cenário é a pressão de seleção, resultado da aplicação recorrente de um mesmo mecanismo de ação de herbicidas, sem alternância de métodos ou adoção de práticas sustentáveis.
O caso do capim amargoso
Entre as plantas daninhas resistentes, o capim amargoso tem se destacado como uma das mais preocupantes. Quase todos os biótipos da espécie já apresentam resistência ao herbicida Glyphosate, o mais utilizado na agricultura desde 1974.
Além da resistência, o capim amargoso possui um hábito de crescimento entouceirado, dificultando ainda mais o controle mecânico e químico. Sua capacidade propagativa é elevada: uma única planta pode produzir até 100 mil sementes, pequenas e com estruturas aladas, facilitando a dispersão em grandes áreas.
Evolução da resistência
O uso intensivo do Glyphosate desde a década de 1990 contribuiu para o surgimento e disseminação de biótipos resistentes, como o capim amargoso. Desde os anos 2000, a frequência de novos biótipos resistentes tem aumentado, com casos de resistência múltipla e cruzada — resistência a diferentes herbicidas, mesmo pertencentes a diferentes mecanismos de ação.
As principais plantas daninhas resistentes no Brasil
Além do capim amargoso, outras espécies de destaque incluem:
- Bidens pilosa (picão-preto);
- Espécies do gênero Amaranthus (caruru);
- Euphorbia heterophylla (leiteiro);
- Eleusine indica (capim-pé-de-galinha);
- Espécies do gênero Conyza (buvas).
Manejo integrado: a melhor estratégia
Em áreas infestadas com capim amargoso resistente, o manejo integrado se apresenta como a solução mais eficiente. Esta abordagem inclui:
1. Rotação de herbicidas
Utilização de herbicidas com mecanismos de ação distintos do Glyphosate, como os inibidores da ACCase. Exemplos de ingredientes ativos eficazes:
- Haloxifop;
- Fluazifop;
- Clethodim.
2. Manejo mecânico
A roçada das plantas daninhas é uma prática que ajuda a manter a produtividade das culturas, evitando a competição direta.
3. Manejo físico
O sistema de plantio direto e o uso de palhada são estratégias eficientes para impedir a germinação das sementes do capim amargoso, limitando a infestação.
4. Cultivo de plantas de cobertura
O uso de espécies como a braquiária ou cultivos intercalares com leguminosas e frutíferas reduz a pressão de seleção e promove a saúde do solo.
Considerações finais
O capim amargoso é uma das maiores ameaças à agricultura brasileira, especialmente devido à sua resistência ao Glyphosate e à sua elevada capacidade de dispersão. A adoção de práticas sustentáveis e o manejo integrado de plantas daninhas são essenciais para preservar a produtividade e a rentabilidade das lavouras.
Texto com autoria de:
Giovani Belutti Voltolini
giovanibelutti77@hotmail.com
Ademilson de Oliveira Alecrim
Engenheiros agrônomos e mestrandos em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA)
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