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Antracnose: o terror das lavouras de cebola

O ataque pode ocorrer desde a fase de muda, no crescimento a campo e até mesmo na fase de pós-colheita e armazenamento.
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Foto: Embrapa

Rafael Simoni
Engenheiro agrônomo – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
rafaelsimoni@gmail.com

A cebola é considerada, atualmente, a terceira hortaliça de maior importância econômica no Brasil. Segundo o CEPEA, em 2023 foi produzido cerca de 1,6 milhão de toneladas de cebola.

A sua versatilidade permite o uso em pratos que vão desde saladas, molhos, sanduíches, bem como temperos, o que justifica a grande aceitação e o alto consumo.

Fitossanidade

Durante o processo de produção, a cebola sofre o ataque de diversas pragas e doenças, e entre as doenças de maior impacto está a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporiodes.

O ataque desse patógeno pode trazer diversos prejuízos em todas as fases produtivas, e até mesmo na fase de pós-colheita, transporte e armazenamento da hortaliça.

Sintomas da antracnose

Os sintomas aparecem de forma variada, de acordo com o estádio de desenvolvimento da planta, e o ataque pode ocorrer desde a fase de muda, no crescimento a campo e até mesmo na fase de pós-colheita e armazenamento.

Manejo correto garante lavoura saudável
Crédito: Miriam Lins

Na fase de plântula e muda, o principal sintoma é o tombamento, quando a penetração das estruturas do fungo provoca o tombamento das folhas.

No campo, os principais sintomas são as formações de lesões ovais, alongadas, pardas e deprimidas nas folhas. Essas manchas provocam curvaturas, enrolamentos e o amarelecimento das folhas.

Devido à curvatura e consequente enrolamento que as folhas sofrem, a doença também é conhecida como mal-das-sete-voltas.

As perdas pós-colheita e no armazenamento se dão porque o fungo ataca as estruturas dos bulbos, provocando inicialmente manchas de cor escura nas camadas externas dos bulbos, as quais podem passar de 2,0 cm de diâmetro.

Com o passar do tempo, as manchas progridem para o amolecimento e amarelecimento das camadas internas.

Impacta na produtividade e qualidade

A antracnose tem impacto ainda na produção das mudas, já que as plântulas têm os tecidos tenros nos períodos pós germinativos. O fungo penetra suas estruturas, denominadas hifas, nos tecidos jovens, causando manchas escuras e o consequente tombamento.

No campo, a infecção pelo fungo faz com que a folha seja severamente atacada, diminuindo o potencial fotossintético de forma significativa. As folhas murcham e ficam amarelecidas, fazendo assim com que o suprimento fotossintético seja interrompido, e como consequência o bulbo tem seu crescimento reduzido tanto em peso quanto em tamanho.

Por fim, o ataque no pós-colheita e armazenamento causa grandes perdas na cebola armazenada. Os bulbos apodrecem facilmente, já que as lesões se aprofundam com o passar do tempo, e esse fato ocasiona a diminuição da vida útil e a consequente redução do valor de mercado. Esses bulbos contaminados podem contaminar bulbos sadios, se armazenados próximos.

Sintomas de antracnose na cebola
Crédito: Embrapa

Condições favoráveis para o fungo

A pesquisa e as observações a campo têm mostrado que a alta umidade e as temperaturas entre 24 e 30°C são os fatores que mais contribuem para a manifestação da doença com intensidade.

A campo, os restos culturais de lavouras contaminadas são os principais responsáveis pela permanência dos propágulos do fungo.

A contaminação é facilitada quando o molhamento foliar é prolongado. Tem-se observado que períodos de molhamento superior a 10 horas permitem que os esporos do fungo germinem de forma abundante e acabem por contaminar a cultura rapidamente.

O molhamento excessivo pela água da irrigação (aspersão), chuvas prolongadas e orvalho criam condições muito propícias ao desenvolvimento do fungo.

Monitoramento constante

A fase da germinação é de suma importância na implantação de qualquer cultura. Fatores como temperatura e umidade ideal para germinação da espécie, nutrição e balanço de luminosidade ditam o sucesso ou o fracasso do estabelecimento das mudas.

Aliado a isso, os cuidados com a higienização complementam esses cuidados. O local onde a sementeira está instalada deve estar sempre livre de restos de outras safras de mudas, mesmo que forem de outras espécies.

O balanço e frequência da irrigação e da temperatura também devem ser monitorados frequentemente, já que é sabido que os excessos são condições ótimas para o desenvolvimento do fungo.

Se forem notados os primeiros sintomas, o produtor deve intervir imediatamente, seja removendo as reboleiras de plantas infectadas ou mesmo fazendo a aplicação de fungicidas registrados para a cultura.

Manejo integrado

Existem diversas práticas que permitem o controle, ou pelo menos a mitigação do surgimento de focos da doença. Os institutos de pesquisa recomendam controles físicos, mecânicos, culturais, genéticos, legislativos, químicos e biológicos. Geralmente, o produtor tem a possibilidade de associar três ou mais práticas.

Os métodos de controle físicos dizem respeito ao uso de barreiras físicas, como cortinas usadas principalmente nas sementeiras, com o objetivo de reduzir a exposição à chuvas e ventos.

Os métodos mecânicos se relacionam à retirada de restos culturais de lavouras contaminadas, remoção de plantas hospedeiras do fungo, destruição de restos culturais por compostagem ou por enterrio.

Os métodos culturais envolvem o manejo da irrigação, a rotação de cultura nos períodos de entressafra com espécies não hospedeiras, a escolha de épocas de menor incidência de chuvas, quando possível, e a adequação de espaçamento.

Resistência genética

Os métodos genéticos são aqueles que dizem respeito à escolha dos materiais. A recomendação é que se opte por variedades adaptadas às condições climáticas locais. Sementes de boa qualidade também são um ponto crucial para o sucesso do cultivo.

Atualmente, as variedades híbridas de cebola contam com um aporte de resistências muito alto, ao mesmo tempo que aumentam muito o potencial produtivo, seja pelo tamanho e qualidade de bulbos, pela tolerância a um maior adensamento, pela maior adaptação climática e também por, muitas vezes, oferecer um ciclo mais curto.

Alternativas

Os métodos legislativos, muitas vezes vistos como empecilhos por alguns produtores e comerciantes, são o controle de trânsito de cargas de cebola entre regiões diferentes, bem como a fiscalização nas centrais de distribuição e fiscalização a campo, quanto ao uso de produtos fitossanitários aplicados para o tratamento da doença.

Os métodos de controle químicos são aqueles que fazem uso de produtos fitossanitários registrados para a cultura. É importante ressaltar a importância de fazer rotação de princípios ativos de cada fungicida, de modo a não levar o fungo a criar resistência.

Os métodos biológicos são os métodos que fazem uso de agentes biológicos para o controle do fungo. Geralmente são usados o fungo Trichoderma spp. e as bactérias Pseudomonas fluorescens e Bacillus sbtilis.

A aplicação de óleos vegetais, como neem e óleo de casca de laranja também têm se mostrado eficazes no controle do fungo.

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