No alto da Serra da Ibiapaba, em Nova Veneza, distrito do município de Ubajara (CE), o produtor rural Erisnaldo Fernandes e o sogro Antônio Eudes cultivam mais que hortaliças e frutas: eles plantam inovação, persistência e visão de futuro.
Em uma região onde as dificuldades com água e mão de obra desafiam o agronegócio, Erisnaldo transformou sua propriedade em referência de produtividade e manejo sustentável, conquistando espaço no mercado com qualidade reconhecida — mesmo sem a marca estampada nas embalagens.
Com uma área anual de 90 mil plantas de tomate, 80 mil de pimentão e 20 mil de maracujá, além de uma recente aposta no abacate, Erisnaldo atinge produtividades acima da média da região. São cerca de 350 a 520 caixas por mil plantas, dependendo da cultura e da época do ano — números que revelam eficiência produtiva e domínio técnico.
Tecnologia a céu (quase) fechado
Diferente de boa parte do Brasil, onde o tomate é cultivado em campo aberto, a região da Serra da Ibiapaba adotou o sistema de cultivo em ambiente telado. Essa tecnologia — uma estrutura de tela que protege as plantações — tem papel crucial na redução da pressão de pragas e, consequentemente, na diminuição do uso de defensivos químicos.
“Com o telado, a gente reduz muito a necessidade de aplicações. Isso favorece o uso de biológicos, que se desenvolvem melhor sem tanta interferência química”, explica Erisnaldo. A adoção de biológicos no controle de pragas e doenças foi uma virada de chave para a fazenda. O produtor aplica, por exemplo, Bacillus subtilis e Bacillus amyloliquefaciens via fertirrigação, além de usar o manejo de solo com foco em regeneração e equilíbrio microbiológico.
Há cinco anos, esse tipo de prática era impensável na região. Hoje, é parte essencial do seu pacote tecnológico.
Tomate enxertado: produtividade com resiliência
Outro diferencial que vem impulsionando a produção é o uso de tomate enxertado, técnica que oferece maior resistência a doenças de solo, como Ralstonia e nematoides. “Essa tecnologia trouxe uma segurança maior. A planta resiste mais, produz melhor e mantém a qualidade do fruto”, explica.
O resultado? Uma média de 520 caixas por mil plantas em áreas bem conduzidas — quase o dobro da média regional de 300 caixas. O ganho não é apenas técnico, mas também econômico, garantindo melhor rentabilidade e estabilidade ao negócio.
Água e mão de obra: os desafios do topo
Apesar do sucesso, os desafios seguem firmes. Localizada no alto da serra, a propriedade depende de poços artesianos e sofre com a falta d’água no verão. A mão de obra também tem se tornado um gargalo. “A gente quer crescer mais, mas sem gente para trabalhar, fica difícil. Por isso, minha família já está se envolvendo mais”, conta Erisnaldo, orgulhoso ao ver os filhos interessados na lida da roça.
Comercialização e visão de futuro
A produção de Erisnaldo é comercializada principalmente por atravessadores, que distribuem o produto para redes varejistas. E o futuro promete.
Com 250 hectares recém-incorporados para o cultivo de milho e soja, Erisnaldo une a tradição herdada do sogro Antônio Eudes à inovação de uma nova geração. “Comecei com 12 anos, aprendendo com ele. Hoje, somos uma referência na serra. E queremos mais: expandir com qualidade, sustentabilidade e produtividade.”


