Agricultura regenerativa em foco: estratégias para um futuro agrícola sustentável

As mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a degradação de terras agrícolas têm afetado gravemente o Brasil e o mundo. Como consequência, enfrentamos desafios significativos que comprometem diretamente a produção de culturas agrícolas.
Acompanhe tudo sobre Agricultura regenerativa e muito mais!

Thiago Alberto Ortiz
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia e professor – Universidade Paranaense (UNIPAR)
thiago.ortiz@prof.unipar.br

É consenso científico que, sem a proteção e a regeneração do solo em áreas agrícolas, incluindo lavouras, pastagens e florestas manejadas, será impossível alimentar a população mundial, conter o aquecimento global ou interromper a perda da biodiversidade.

Neste cenário, a busca por sistemas alimentares mais resilientes requer a adoção de práticas agrícolas sustentáveis, com foco na otimização da produção e na conservação dos recursos naturais.

Qualquer prática que comprometa a fertilidade ou a resiliência do solo deve ser substituída por técnicas conservacionistas, que promovam a restauração dos ecossistemas. É nesse contexto que a agricultura regenerativa se destaca como uma estratégia central para o desenvolvimento sustentável.

O que é agricultura regenerativa?

A agricultura regenerativa é um conjunto de práticas agrícolas que visa regenerar e revitalizar os recursos naturais – solo, água e biodiversidade – enquanto promove a produção sustentável de alimentos, fibras, bioenergia e matérias-primas industriais.

Diferente de abordagens que apenas mitigam os impactos ambientais, a agricultura regenerativa busca melhorar ativamente a saúde dos sistemas agrícolas ao longo do tempo.

Ao priorizar a saúde do solo e dos ecossistemas, essa abordagem tem potencial para aumentar a produtividade no longo prazo, otimizar o uso de insumos, mitigar os impactos das mudanças climáticas e contribuir para a sustentabilidade e segurança alimentar.

Práticas da agricultura regenerativa

As práticas regenerativas são diversas e devem ser adaptadas ao contexto local, considerando as características ambientais, as demandas das áreas produtivas e os objetivos dos produtores.

Muitas delas já são conhecidas e, em parte, utilizadas na agricultura convencional. De modo geral, visam conciliar a produção sustentável com a restauração do solo e o aumento da biodiversidade (Figura 1).

Entre as principais práticas, destacam-se:

Plantio direto: minimiza o revolvimento do solo, preservando sua estrutura, a vida microbiana e a capacidade de retenção de água;

Cobertura vegetal: o uso de culturas de cobertura, como leguminosas e gramíneas, protege o solo contra a erosão, aumenta a matéria orgânica e fornece habitat para organismos benéficos;

Rotação de culturas: promove a diversidade da microbiota do solo, reduz a incidência de pragas e doenças e melhora a qualidade do solo;

Sistemas agroecológicos integrados: integra lavoura e pecuária, permitindo a reciclagem de nutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio, por meio de resíduos orgânicos, incluindo os dejetos animais;

Otimização do uso de insumos: envolve o aproveitamento eficiente dos recursos já disponíveis na propriedade, como resíduos vegetais, matéria orgânica e inimigos naturais de pragas. Essa prática reduz a dependência de insumos externos, contribuindo para a sustentabilidade e a economia na produção;

Uso de bioinsumos: refere-se à aplicação de insumos biológicos, como biofertilizantes e biodefensivos, que promovem a regeneração do solo, melhoram a saúde do ecossistema agrícola e aumentam a produtividade de forma ambientalmente responsável.

Figura 1. Elementos-chave da agricultura regenerativa.
Fonte: https://eos.com/pt/blog/agricultura-regenerativa/

Benefícios e impactos da agricultura regenerativa

A agricultura regenerativa pode sequestrar significativamente mais carbono do que os sistemas convencionais e contribuir para a recuperação de terras degradadas. Por meio de sistemas como a agrofloresta, áreas improdutivas podem ser transformadas em sumidouros de carbono produtivos. Além disso, a promoção da saúde do solo aumenta sua fertilidade, resiliência e capacidade de suporte à produção agrícola.

Práticas como a cobertura vegetal e a conservação do solo reduzem a erosão, protegem os recursos hídricos e melhoram a qualidade da água. A integração de sistemas reduz o uso de insumos químicos e os resíduos nos alimentos e no ambiente.

Ao fomentar a diversidade ecológica, a agricultura regenerativa cria habitats para a fauna silvestre, contribuindo para a preservação de espécies ameaçadas.

Além dos benefícios ambientais, essa abordagem também aumenta a resiliência econômica das propriedades (Figura 2). Sistemas regenerativos, ao diversificarem as atividades produtivas, reduzem a vulnerabilidade a eventos climáticos extremos e a flutuações de mercado, criando múltiplas fontes de renda para os agricultores.

Figura 2. O potencial da agricultura regenerativa.
Fonte: Daria Kruzhinskaia/Diálogo Chino

O cenário brasileiro

O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo e já aplica muitas práticas regenerativas. O plantio direto, por exemplo, já é adotado por cerca de 50% das propriedades rurais.

O país também tem investido na adoção de tecnologias voltadas à agropecuária de baixo carbono, com destaque para políticas públicas como:

• Plano Setorial para Adaptação à Mudança do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária (ABC+): incentiva práticas sustentáveis para redução das emissões de gases de efeito estufa;

• Programa Nacional de Agricultura de Baixo Carbono (PNABC): foca no financiamento de tecnologias sustentáveis;

• Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF): estimula práticas agroecológicas entre agricultores familiares;

• Programa de Financiamento a Sistemas de Produção Agropecuária Sustentáveis (RenovAgro): linha de crédito rural voltada a produtores, cooperativas e agroindústrias, que financia investimentos em sustentabilidade ambiental e eficiência produtiva na agropecuária;

• Programa Nacional de Bioinsumos (Decreto nº 10.375/2020): fomenta o uso de biofertilizantes e biodefensivos;

• Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO): promove a produção orgânica e agroecológica;

• Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (PLANAVEG): voltado à restauração ecológica e uso produtivo da paisagem rural;

• Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER): oferece assistência técnica com foco em práticas conservacionistas.

O protagonismo do Brasil na produção agrícola mundial e seu compromisso com a redução das emissões de gases de efeito estufa, como signatário do Acordo de Paris, reforçam a importância de ampliar o uso de tecnologias regenerativas e de intensificar a produtividade sem a necessidade de expandir a fronteira agrícola.

A cobertura vegetal protege o solo contra a erosão

Perspectivas

A Agenda 2030 da ONU e o Acordo de Paris enfatizam a urgência de uma agricultura mais sustentável, com redução das emissões, aumento do estoque de carbono no solo e preservação da biodiversidade.

Alinhada a esses objetivos, a agricultura regenerativa representa uma solução viável e estratégica.

Ela possibilita o aumento da produção de alimentos, o sequestro de carbono, a regeneração do solo, a valorização da biodiversidade e o fortalecimento das economias locais. Dessa forma, contribui significativamente para o cumprimento de diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, entre eles:

• ODS 1 – Erradicação da pobreza: ao gerar renda sustentável para agricultores e comunidades rurais;

• ODS 2 – Fome zero e agricultura sustentável: ao promover uma produção agrícola resiliente e sustentável;

• ODS 6 – Água potável e saneamento: pela conservação da água e proteção dos recursos hídricos;

• ODS 8 – Trabalho decente e crescimento econômico: ao fortalecer economias locais e gerar oportunidades no meio rural;

• ODS 9 – Indústria, inovação e infraestrutura: com o estímulo a tecnologias sustentáveis e inovação no campo;

• ODS 12 – Consumo e produção responsáveis: por meio do uso racional de recursos naturais e insumos;

• ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima: com a captura de carbono e redução das emissões de gases de efeito estufa;

• ODS 15 – Vida terrestre: por promover a regeneração de ecossistemas, a conservação do solo e a biodiversidade;

• ODS 17 – Parcerias e meios de implementação: por incentivar a cooperação entre setores público, privado e sociedade civil em prol da sustentabilidade agrícola.

No entanto, é importante considerar que a transição para sistemas regenerativos pode demandar anos até que seus benefícios sejam plenamente percebidos pelos produtores. Para isso, é fundamental a oferta de instrumentos financeiros adequados, como créditos, seguros agrícolas e pagamentos por serviços ecossistêmicos.

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