Nilva Terezinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora de Nutrição de Plantas, Bioquímica e Produção Orgânica do Centro Universitário do Espírito Santo do Pinhal (Unipinhal)
nilvatteixeira@yahoo.com.br
A cebola é, ao lado do alho, o condimento mais utilizado na culinária e cultivado no mundo. Contém compostos benéficos à saúde, vitaminas do complexo B e sais minerais, como magnésio, potássio, cálcio, ferro e cálcio, além de poucas calorias. É uma Aliácea, assim como o alho, a cebolinha e o alho-poró.
Onde cultivar
O maior produtor de cebola do mundo é a China, seguido da Índia. O Brasil ficar em décimo lugar. Dentre os Estados brasileiros, o destaque fica para Santa Catarina, que responde por 30% da produção nacional. No Brasil, a cebola é a terceira hortaliça mais importante em termos econômicos.
A espécie em questão pode ser cultivada em todo o território brasileiro. A época de plantio e colheita variam com a região: no Sul, de novembro a abril; no Centro-Oeste, de julho a setembro; no Sudeste, de julho a novembro; e no Nordeste de maio a julho.
Grande parte da produção nacional é proveniente da agricultura familiar.

Manejo fundamental
No cultivo da cebola, a correção do solo pela calagem (quando necessária) e a adubação são fundamentais. E os fertilizantes (quando o sistema é convencional) envolvem orgânicos e minerais.
Assim, os organominerais são excelentes opções: têm na composição matéria orgânica e nutrientes minerais. A literatura deixa evidente os benefícios encontrados na produtividade da cebola e nos atributos do solo, quando se introduz no sistema os organominerais.
Porém, o que é um adubo organomineral? Trata-se de fertilizante que apresenta em sua composição matéria orgânica e mineral. A primeira é composta por resíduos vegetais, animais, compostos microbianos e húmus, enquanto a segunda é formada por compostos químicos inorgânicos.
Devido à sua solubilização gradativa, o adubo organomineral pode ser aplicado ao longo de todo o ciclo de uma cultura.
Benefícios dos organominerais
Empregar no cultivo os organominerais trazem os seguintes benefícios:
– Aumento da matéria orgânica e da atividade microbiana no solo;
– Elevação da capacidade de troca de cátions (CTC);
– Aumento de disponibilidade de nutrientes (como de fósforo);
– Redução de perdas de nitrogênio;
– Alternativa para destinação correta de resíduos animais;
– Redução do emprego de adubos minerais;
– Aporte de carbono orgânico no sistema, que produz os ácidos húmicos e fúlvicos substâncias húmicas), os quais apresentam vários efeitos positivos no solo.
Os ácidos húmicos e fúlvicos
As substâncias húmicas contribuem de diversas maneiras para melhorar a relação solo-planta e apresentam alta atividade fisiológica e bioquímica. Podem, assim, melhorar os efeitos de fertilizantes minerais e orgânicos.
No solo, os benefícios das substâncias húmicas incluem melhorias na estrutura, por agregar partículas do solo, atenua variações de pH, incrementa a aeração do solo e a disponibilidade de fósforo às plantas – formam substâncias fosfohúmicas, que são aproveitadas pelas plantas e combinam com os óxidos de Fe e de Al, argilas e outros compostos orgânicos, liberando o fósforo por eles retidos.
Há troca do fosfato ligado às partículas do solo pelo humato, liberando o primeiro para a absorção pelas plantas. Os sesquióxidos (fixadores de fósforo no solo) são revestidos pelas substância húmicas, o que reduz a capacidade de retenção de tal nutriente em forma não assimilável no solo.
Como as plantas respondem às SH
Entre os efeitos das substâncias húmicas sobre o metabolismo das plantas, observa-se a influência positiva na absorção iônica, transporte de íons aumento da taxa respiratória e da velocidade das reações enzimáticas do ciclo de Krebs, resultando em maior produção de ATP e aumento do conteúdo de clorofila, o que beneficia a fotossíntese, entre outros aspectos.
Os organominerais têm na sua constituição as substâncias húmicas (que são produzidas naturalmente pela estabilização da matéria orgânica presente), potencializando o seu aproveitamento.
Melhor ainda é associar à sua composição os ácidos húmicos e fúlvicos preparados industrialmente, que somam os benefícios de ambos no cultivo de qualquer cultura. A germinação de sementes, o pegamento, o enraizamento, o desenvolvimento e a produtividade podem ser sensivelmente melhorados com a introdução dos referidos insumos.
Em relação à cebola, pode-se dizer que todos os benefícios citados ocorrem.
Pesquisas
Resultados de pesquisa indicam efeitos positivos da aplicação associada de organominerais e ácidos húmicos, melhorando a produtividade e, também, a qualidade da cebola.
Resultados indicam aumentos de cerca de 12% em massa de bulbos e redução de perdas após a colheita, com a inclusão nos cultivos do referido fertilizante. Qualquer cultura pode se beneficiar do uso dos organominerais associado aos ácidos húmicos e fúlvicos.
Uma alternativa de aplicação é no plantio, tanto em semeadura direta como nas mudas, ou, ainda, nos bulbilhos. A introdução na semeadura direta vai auxiliar na germinação, no enraizamento e no desenvolvimento inicial, garantindo melhor estande e formação das raízes.
Raízes mais vigorosas e abundantes vão propiciar maior desenvolvimento e produtividade. A aplicação em mudas, além de promover maior enraizamento, leva ao melhor pegamento delas.
Já através de bulbilhos, o enraizamento e a brotação serão beneficiados. Assim, infere-se que nas três maneiras de instalação da cultura os efeitos são benéficos. Pode-se considerar, também, a aplicação em cobertura, que beneficia o desenvolvimento e a formação dos bulbos.

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Recomendações
Há duas espécies básicas de organominerais: os sólidos, que podem ser solúveis em água ou não, e os fluidos. No caso de os sólidos não serem solúveis, a aplicação é via solo: pode ser a lanço ou no sulco de plantio, na instalação da cultura.
Quando em cobertura, recomenda-se aplicar ao lado das plantas. No caso dos sólidos solúveis, pode-se valer da fertirrigação ou via foliar.
A época de aplicação em cobertura depende do sistema de plantio: quando nas mudas, aos 20 a 30 e aos 45 a 55 dias após a instalação. Quando por semeadura direta e por bulbilhos, aos 25, 40, 55, 70 e 85 dias após a emergência das plantas.
Quando da aplicação de nutrientes em cobertura por fertirrigação, recomenda-se aumentar o número de parcelamento das doses de nutrientes, adequando-as ao estado nutricional da cultura e adicionando nas diferentes fases de desenvolvimento. Preferencialmente, monitorar com análise foliar.
A aplicação foliar deve cobrir as fases de maior exigência da cultura: desenvolvimento vegetativo e formação dos bulbos.
Quanto às doses a se empregar, depende do produto escolhido e dos resultados da análise de solo e, no caso de cobertura por fertirrigação e foliar, dependerá da análise foliar.
Viabilidade
Os benefícios dos organominerais associados aos ácidos húmicos e fúlvicos vão além de alimentar as plantas e aumentar a produtividade naquela safra agrícola. Elas terão efeito nas próximas safras, pela melhoria do solo: química, física e biológica.
Entretanto, seu emprego nos cultivos deve ocorrer com orientação técnica, já que não resolve todos os problemas do campo. Porém, o uso adequado apresentará excelente relação custo-benefício, quando houver indicação técnica.