Suzeth Carvalho Sousa – Engenheira agrônoma – suzecarvalho10@gmail.com

A ferrugem do cafeeiro é a doença mais importante da cultura em termos de controle, devido ao patógeno comprometer o vigor e a produtividade das lavouras. Causada pelo fungo Hemileia vastatrix, essa enfermidade está presente no Brasil desde a década de 1970, com o primeiro registro no Sul da Bahia, sendo logo disseminada para todas as regiões produtoras do País.
O sintoma característico da doença é a presença de uma massa pulverulenta de esporos de coloração amarelo-alaranjado na face inferior das folhas, ocasionando uma mancha clorótica na face superior. O fungo é do tipo biotrófico, ou seja, se alimenta das células vivas da planta, adentrando-se pelos estômatos, onde germina e se desenvolve sem matar as células.
Condições para a doença
Fatores como alta umidade, temperaturas entre 21 e 25°C, baixa altitude e pouca luminosidade favorecem o desenvolvimento de Hemileia vastatrix. Em lavouras adensadas a ferrugem apresenta maior severidade devido ao microclima propício para o crescimento do fungo, ocorrendo logo a queda das folhas, menor vingamento da florada e dos frutos na fase de chumbinho, indução à desfolha por ocasião da colheita e seca dos ramos, acarretando sérios prejuízos às lavouras de café.
A fim de controlar a ferrugem, existem alguns métodos que devem ser utilizados pelos produtores, dentre eles o emprego de variedades resistentes e pulverizações com fungicidas protetores e sistêmicos, mediante monitoramento para tomada de decisão, ou aplicados em datas preestabelecidas.
Prevenção e cura
O monitoramento do avanço da doença em campo é fator primordial para estimativa de danos e escolha do melhor controle, podendo ser ele protetivo, protetivo curativo via foliar e preventivo-curativo via solo.
Atualmente, a aplicação de fungicidas via solo para o manejo da ferrugem vem se tornando uma prática comum nas propriedades cafeeiras, devido à maior facilidade, rendimento e melhor eficiência dos produtos de ação sistêmica na planta.
A época de controle, por meio das aplicações via solo, coincide com a época de fornecimento de boro, o que se torna uma opção viável na diminuição dos custos com mão de obra desses processos.
Boro
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O boro está associado diretamente à produtividade do cafeeiro, uma vez que ele é o micronutriente responsável pela germinação do grão de pólen, crescimento do tubo polínico, de meristemas, sistemas enzimáticos e estruturação da parede celular dentro dos vegetais. Por esse motivo, sua aplicação está relacionada com o pegamento da florada do café, tornando-se crítico nessa fase de desenvolvimento da cultura.
Em função da sua imobilidade, ou seja, por ser um nutriente que não se transloca pelo floema, a aplicação de boro atinge maior eficiência quando é realizada via solo. Assim sendo, os sintomas de deficiência, como crescimento deformado e tamanho reduzido, são notados nas folhas mais novas.
Além disso, ramos laterais se tornam mais longos que a altura da planta, fazendo com que ela apresente um aspecto de nanismo quando ainda jovem.
Na literatura, a aplicação de boro é recomendada em solos com teores inferiores a 0,6 mg/dm³, porém, na prática está sendo aplicado quando esse apresenta teor abaixo de 1,0 mg/dm³ no solo.
Nessa hora, deve-se tomar cuidado com a escolha da fonte a ser aplicada, pois o ácido bórico é solúvel em água, estando prontamente disponível para a planta. Porém, é muito suscetível à lixiviação, não sendo suficiente para manter os teores adequados por muito tempo, por isso, é recomendado em casos de extrema deficiência.
Uma outra fonte é a ulexita, uma rocha fonte de boro, a qual possui liberação gradual, sendo usada também para suprir as necessidades desse nutriente, proporcionando um período maior de fornecimento para a planta.
Pesquisas
De acordo com Mendes 2019, um estudo realizado em lavoura de Catuaí Vermelho IAC 144 comprovou que o controle químico com a utilização de fungicidas, associado ao ácido bórico, promoveu diminuição no número de aplicações, propiciando 82 a 90 dias sem infestação maior que o nível de controle, sendo esse 5%.
Nas áreas onde não foi realizada nenhuma aplicação foram apenas 59 dias sem verificar a infestação das plantas e já nas regiões em que o ácido bórico foi aplicado na forma sólida e sem associação de fungicida, notou-se também um tempo mais extenso para a doença atingir o nível de controle, apresentando resultados semelhantes às áreas em que se utilizou fungicidas.
Custo-benefício
Portanto, pode-se afirmar que o boro, quando aplicado em conjunto ou não com fungicidas, reduz de maneira eficiente a ferrugem do cafeeiro. Além disso, no mercado são comercializadas embalagens em quilo de ácido bórico, cujos preços iniciam com R$ 8,82, possibilitando uma maior viabilidade econômica ao produtor, juntamente com uma maior produtividade, em função do controle da doença.
Qualquer dúvida, procure sempre um engenheiro agrônomo para recomendar o melhor método de controle para sua lavoura.
