A regra de ouro da fertirrigação

Saiba como aplicar a 'Regra de Ouro da Fertirrigação' para dosar seus fertilizantes de forma eficiente
Agriculture, pivot irrigation system on carrot plantation
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Foto: Shutterstock

Luis Dimenstein
Engenheiro agrônomo, especialista em fertirrigação
luiz.dimenstein@fertirrigar.com

Usando a “Regra de Ouro da Fertirrigação”, que afirma que dosar na proporção de 100 g/m3, a garantia da fórmula de fertilizante passa de % para ppm (parte por milhão).

Assim, sabemos que os fertilizantes solúveis são comercializados com as garantias de seus nutrientes em %, enquanto o manejo nutricional via fertirrigação fica mais fácil passando a usar a concentração dos nutrientes na água de irrigação em ppm.

Vamos contar o número de zeros em % (100) e em ppm (1.000.000). São dois zeros em 100, contra seis zeros no milhão. Ao eliminar dois zeros do milhão da % em relação aos seis zeros de ppm, a diferença é de quatro zeros, formando 10.000. Agora podemos afirmar que 1% = 10.000 ppm.

Para dosar os fertilizantes via fertirrigação, teremos que manter 10.000 de diferença entre o fertilizante a aplicar e o volume de água a irrigar.

O cálculo

Na ordem de grandeza, os fertilizantes podem ser calculados em peso (g) ou em volume (ml) a aplicar, embora os fertilizantes solúveis para fertirrigação sejam comercializados, em sua maioria, na forma sólida, na hora da aplicação estarão dissolvidos na forma líquida.

Já o volume de irrigação é usado sempre m3 de água, que vale, em peso, 1,0 ton de água, descartada a densidade nesse contexto. Por isso, usar g/ton ou g/m3 para efeito de calcular dose a aplicar via fertirrigação são equivalentes.

Idem para ml/ton, ou ml/m3, se o fertilizante comercial já vier líquido.

Exemplos

O primeiro objetivo é chegar a uma proporção na aplicação dos fertilizantes que tenham 10.000 de diferença (quatro zeros). Então, se usar 1,0 g/m3, a diferença será de seis zeros, porém, se usarmos 100 g em 1,0 m3, a diferença passa a ser de quatro zeros e, nesse caso, a mesma % de nutrientes informada na sacaria do fertilizante solúvel pode ser considerada em ppm.

Vamos a alguns exemplos para que o conceito da Regra de Ouro seja de fácil entendimento, ao usar regra de três simples:

Se identificarmos que na solução do solo já tenham 200 ppm de potássio (K2O) e desejarmos ter 500 ppm, faltam 300 ppm.

Se for usar o fertilizante KCl com 60% de K2O, teremos a proporção de 60 ppm aplicados para cada 100g/m3. Para chegar à concentração de 300 ppm, serão 60 ppm x 5, ou seja, teremos que aplicar a concentração desse fertilizante KCl por m3 5x mais, e assim a dose ficará em 100 g x 5 = 500 g/m3.

Podemos afirmar que, pelo emissor de rega (gotejo, microaspersão, pivô), foram aplicados os 300 ppm de K2O. Basta definir o número de m3 a irrigar, porque já temos a concentração desejada para 1,0 m3, e multiplicar pelo volume total.

Curiosamente, o potássio comercial tem sua garantia nos fertilizantes em K2O, mas a forma de absorção pelas raízes de K puro sem o oxigênio e pelo peso molecular do K2O teremos 2 x K (39) = 78 + 1 oxigênio (16) = 94 de peso total.

Quanto de K puro tem no K2O? Assim, em uma regra de três teremos que o peso de 78 dentro de 94 vale 83%. Vamos multiplicar pelo fator 0,83 para passar de K2O para K puro, e assim teremos em 60% de K2O no fertilizante escolhido KCl x o fator 0,83 = 50% de K puro nesse fertilizante.

Recomendações

O KCl (que seja de preferência branco, porque dissolve melhor do que o vermelho) com 60% de K2O vale 50% de K puro, e usando a Regra de Ouro sabemos que cada 100g desse fertilizante aplicado por m3 de água irrigada dará a garantia da fórmula em ppm.

Se o volume a aplicar for, por exemplo, 5,0 mm = 50 m3 de água por hectare e ao usar o padrão inicial da Regra de Ouro, que é exatamente 100 g/m3, serão aplicados 100 g x 50 m3 = 5,0 kg de KCl nessa fertirrigação, e serão supridos 50 ppm de K puro ou 60% de K2O.

Entretanto, para suprir 300 ppm fazemos a regra de três simples: 100 g/m3 fornecem 50 ppm de K puro; para disponibilizar 300 ppm vale X.

X = (300/50) x 100 = 600g/m3. Se realmente o volume a irrigar for de 50 m3, então fazemos 600 g x 50 m3 = 30 kg de KCl a aplicar nessa rega, e os 300 ppm de K puro são aplicados.

Se o volume de rega for diferente de 50 m3 do exemplo acima, tem que multiplicar pelo volume de rega verdadeiro.

Foto: Shutterstock

Variáveis

As variáveis são a escolha do fertilizante a aplicar e o volume de rega. A % vira ppm sempre na proporção de 100 g/m3, fiel ao que está escrito na sacaria com as garantias dos nutrientes que estão em %.

Assim, o dobro da Regra de Ouro seriam 200 g/m3 para fornecer o dobro da garantia apresentada na sacaria do fertilizante.

Essa regra é para se trabalhar concentração em ppm e usar as doses em g/m3 em vez de quantidades em kg/hectare, sendo esse último um critério típico de agricultura de sequeiro, mas quantidade para doses não é adequado para agricultura irrigada.

A sugestão é adotar a concentração em g/m3 para calcular doses de fertirrigação, que seria bem mais adequado e medido em ppm.

A ureia

Outro exemplo com o fertilizante solúvel ureia 45% N. Ao utilizar a “Regra de Ouro da Fertirrigação” de 100g/m3, a aplicação pelos emissores de rega serão exatamente 45 ppm de N.

Se, contudo, no mesmo volume de rega de 1,0 m3 a concentração duplicar para 200 g/m3, então, nessa proporção teremos a Regra de Ouro 2x e nos emissores de rega sairão 2x 45 = 90 ppm de N.

A outra variável seria o volume de rega que, se por exemplo, for de 4,0 mm = 40 m3/hectare. Ao identificar o número de m3 a aplicar naquela rega e naquela área, basta aplicar a Regra de Ouro da Fertirrigação na proporção, multiplicando a dose por m3 pelo número de m3 totais.

Nesse exemplo de 200 g de ureia em 40 m3 de irrigação, valem 200 g x 40 m3 = 8,0 kg de ureia, e nos emissores são aplicados os 90 ppm em concentração.

NPK

Mais um exemplo se dá para uma fórmula solúvel de NPK 20-20-20. Ao aplicar a Regra de Ouro da Fertirrigação original na proporção de 100 g/m3, teremos o fornecimento da concentração pelos emissores de rega de 20 ppm de N, 20 ppm de P2O5 e 20 ppm de K2O.

Se a concentração duplicar para 200 g/m3, teremos em ppm o dobro, com 40 ppm de N, 40 ppm de P2O5 e 40 ppm de K2O. A outra variável é definir o número de m3 da rega a efetuar.

Se o volume de irrigação naquele turno de rega for 5,0 mm = 50 m3/hectare, então na dose de 200g/m3 x 50 m3 = 10 kg da fórmula do fertilizante sugerido NPK 20-20-20 com 40 ppm de cada um dos nutrientes aplicados.

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