A persistência das velhas práticas em um novo cenário

Leia na coluna Pensando Estrategicamente por Antônio Carlos de Oliveira.

Publicado em 12 de junho de 2024 às 13h00

Última atualização em 12 de junho de 2024 às 13h00

Acompanhe tudo sobre judiciário, Política e muito mais!
Antônio Carlos de Oliveira/Reprodução

Coluna Pensando Estrategicamente por Antônio Carlos de Oliveira. Texto publicado originalmente no Diário de Uberlândia.

A fábula do Escorpião e o Sapo narra a história de um escorpião que pede ajuda a um sapo para atravessar um rio. O sapo, inicialmente relutante, aceita com a garantia de que o escorpião não o picará, pois isso resultaria na morte de ambos. No entanto, no meio do caminho, o escorpião pica o sapo, justificando sua ação com a afirmação de que essa é sua natureza. Esta fábula reflete de maneira impressionante a dinâmica política recente no Brasil.

Traição e fisiologismo sempre foram parte integrante do jogo político. O cenário atual, com a ebulição nas presidências da Câmara, Senado Federal, o poder Executivo e Judiciário e as movimentações para as eleições de 2024 e 2026, reafirma que a anunciada nova política não conseguiu mudar a velha prática de alianças e traições. Apesar das promessas de uma política mais ética e transparente, a traição permanece uma constante, assim como o escorpião que não consegue escapar de sua natureza.

A frustração popular diante das promessas não cumpridas e das traições políticas é palpável. Belchior, em suas canções, capturou essa sensação de desilusão e o anseio por mudança. Em “Divina Comédia Urbana”, ele fala sobre a expectativa e a decepção com alguém que deveria ser um salvador, mas que falha em corresponder. Da mesma forma, os eleitores se sentem traídos por aqueles em quem depositaram suas esperanças.

A Constituição de 1988, ao obrigar uma relação simbiótica entre Executivo e Legislativo, perpetua um sistema onde o fisiologismo é quase inevitável. A política de troca de favores e negociações por apoio transforma o ideal democrático em um teatro de interesses pessoais. O eleitor, muitas vezes, compactua com esse sistema ao buscar soluções imediatas para seus problemas pessoais, reforçando a prática fisiológica que tanto critica nos políticos.

Belchior, em “Velha Roupa Colorida”, clamava por uma mudança: “o passado nunca mais”. Esse grito ecoou nas eleições de 2018, onde o povo ansiava por uma nova política, livre de fisiologismo e traições. No entanto, como na fábula, a natureza traiçoeira persiste, e a nova política revelou-se uma continuação das velhas práticas.

Em “Como Nossos Pais”, Belchior lamenta: “minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo diferente, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. A resistência popular à velha política mostrou-se insuficiente para romper com os padrões estabelecidos. O verdadeiro desafio está em mudar não só os representantes, mas também a forma como escolhemos e participamos do processo político.

A canção “Coração Selvagem” sugere que precisamos seguir os desejos da alma para evoluir. Talvez a mudança verdadeira venha quando votarmos com a alma, deixando de lado o pragmatismo que alimenta o fisiologismo e a traição. Assim como o escorpião, nossos políticos são produtos de um sistema que precisa ser reformulado. A transformação requer uma nova mentalidade tanto dos eleitores quanto dos eleitos, onde os sonhos e a vontade de mudar superem a natureza traiçoeira que atualmente impera.

Ao conquistar o voto dos eleitores, esses políticos prometeram transparência, ética e comprometimento com as necessidades do povo. Mas, uma vez eleitos, muitos mostraram sua verdadeira face. As alianças espúrias, o uso do poder para ganho pessoal e a falta de compromisso com as promessas de campanha são traições que corroem a confiança do eleitorado.

Um exemplo notório foi a recente eleição para a presidência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Candidatos que se apresentaram como renovadores acabaram por se aliar a figuras da velha política, traindo seus eleitores ao perpetuar o mesmo sistema de barganhas e benefícios pessoais. A promessa de renovação foi abandonada em favor de acordos que garantiam poder e recursos para seus próprios projetos.

Os eleitores, ao verem suas esperanças traídas, enfrentam uma frustração profunda. A expectativa de mudança, a crença em um novo começo, é desfeita pela constatação de que os políticos continuam a agir em benefício próprio. Esse ciclo de traição não só desilude, mas também desincentiva a participação ativa da população na política, perpetuando um sistema viciado.

A solução para essa traição não é simples, mas começa com a conscientização e a responsabilização. É imperativo que os eleitores mantenham a vigilância sobre os políticos eleitos, exigindo transparência e prestação de contas. Além disso, é necessário um compromisso pessoal com a mudança, onde o voto não seja negociado por benefícios imediatos, mas sim orientado pelo desejo de um futuro melhor e mais justo.

A natureza traiçoeira dos políticos pode ser comparada ao escorpião da fábula, mas cabe aos eleitores o papel de mudar essa narrativa. Ao exigir integridade e rejeitar práticas corruptas, é possível transformar a política brasileira, rompendo o ciclo de traição e construindo um cenário onde os eleitores não sejam mais vítimas da natureza traiçoeira de seus representantes.

Traição na política não é uma roupa que nos sirva mais. A mudança, tão cantada por Belchior, deve começar em cada um de nós, exigindo integridade e coerência tanto dos políticos quanto de nós mesmos como cidadãos. A natureza pode ser difícil de mudar, mas não impossível. E é nessa esperança que devemos nos apoiar para construir um futuro melhor.

Participe do Nosso Canal no WhatsApp

Receba as principais atualizações e novidades do agronegócio brasileiro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pesquisar

Últimas publicações

1

Girassol: características, cultivo e importância para a agricultura

2

Época de abacate: quando plantar, colher e dicas para melhor produção

3

Prêmio Inovação Aquícola 2025 reconhece destaques na Aquishow Brasil

4

Plantio de soja e milho nos EUA avança com força e supera média histórica

5

EuroChem na Expocafé 2025: soluções para cafeicultura mineira com Fertiva e Croplex

Assine a Revista Campo & Negócios

Tenha acesso a conteúdos exclusivos e de alta qualidade sobre o agronegócio.

Publicações relacionadas

Campo de girassol em flor, representando o cultivo agrícola

Girassol: características, cultivo e importância para a agricultura

Árvore de abacate carregada de frutos maduros na época certa da colheita

Época de abacate: quando plantar, colher e dicas para melhor produção

Premiação do Prêmio Inovação Aquícola 2025 durante a Aquishow Brasil

Prêmio Inovação Aquícola 2025 reconhece destaques na Aquishow Brasil

Máquinas agrícolas realizando plantio de soja e milho nos EUA

Plantio de soja e milho nos EUA avança com força e supera média histórica